Macroeconomia


Inter Setores | Saúde | Jan.23

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Breno de Paula

Publicado 23/jan2 min de leitura

Cenário Macro

Inflação em queda mas risco fiscal segue no radar

Dezembro trouxe dados positivos da inflação, com o IGPM abaixo do esperado, fechando o ano em 5,45%. O IPCA-15 também mostrou desaceleração das medidas de núcleo e serviços, refletindo o impacto da política monetária mais restritiva. De fato, os dados de crédito e de atividade confirmam uma desaceleração a partir de novembro, o que deve manter a inflação em baixa no curto prazo. Esse cenário trouxe um pouco de alívio nos juros, mas o risco fiscal permanece no radar.

As primeiras medidas do governo foram na direção de uma expansão fiscal. Apesar dos sinais claros de queda da inflação, o risco fiscal pode pressionar a inflação ao longo do ano e esperamos que o Banco Central mantenha a Selic em 13,75% até o final do primeiro semestre, aguardando a definição do novo arcabouço fiscal e medidas de recuperação da arrecadação. No cenário base, o corte na Selic começaria em agosto e a taxa terminaria o ano em 12%. Além disso, o real teve valorização de 5,5% em 2022 e foi a melhor performance ente as principais moedas em relação ao dólar, impactado positivamente pela taxa de juros mais elevada no Brasil.

Taxa de desemprego em queda

A taxa de desemprego caiu para 8,1% em novembro (- 0,2 p.p. vs. outubro), menor valor desde junho de 2015. No entanto, ao levar em consideração fatores sazonais, que tendem a favorecer os resultados nos últimos meses do ano, a taxa de desemprego permaneceu estável, indicando certo nível de desaceleração do ritmo de crescimento do mercado de trabalho. Ao todo, 680 mil pessoas foram contratadas nos últimos 3 meses. Como resultado, o contingente de ocupados atingiu o patamar de 99,7 milhões de pessoas, maior leitura para série histórica e 5,3% superior ao valor pré-pandemia.

Panorama do Setor

Beneficiários em alta

O setor continua sendo favorecido pela tendência de crescimento do número de beneficiários de planos de saúde desde o início do 3T20. A Agência Nacional de Saúde (ANS) registrou em novembro 50.285.627 (+0,25% m/m) beneficiários de planos de assistência médica e 30.869.354 (+0,85% m/m) beneficiários de planos exclusivamente odontológicos. Em novembro, a taxa de cobertura de planos privados atingiu 25,9% para assistência médica. Já os planos exclusivamente odontológicos cobrem 15,81% da população.

Enquanto mulheres compõem 52,9% dos planos de saúde, homens representam em torno de 47,1%. Em relação ao crescimento de beneficiários por faixa etária, vemos que o número de adultos e crianças apresentam maior variação, uma vez que a maioria destes planos são empresariais (variam de acordo com o nível de emprego no país), ao passo que a maior parte dos planos contratados por idosos são individuais ou familiares, apresentando menor variação ao longo do tempo.

Beneficiários por região

Quando segmentamos o número de planos de saúde reportado pela ANS por estado brasileiro, vemos que 3 estados possuem taxa de cobertura acima de 30%, sendo eles São Paulo (38,8%), Rio de Janeiro (31,3%) e Espírito Santo (30,1%). Por outro lado, os estados com menor taxa de cobertura são Acre (4,7%) e Roraima (4,8%), ambos localizados na região Norte.

No segundo gráfico, podemos ver a variação de planos de saúde por região desde dezembro de 2014, mês em que foi atingido o recorde de beneficiários no Brasil (50,532 milhões). Desde então, o país vem recuperando a quantidade de beneficiários perdida entre 2015-16 e atualmente está apenas 0,49% abaixo do recorde de dezembro de 2014. O destaque positivo dos últimos anos vai para a região Centro-Oeste (+12,1% vs. Dez/14) e negativo para as regiões Norte (-2,7% vs. Dez/14) e Sudeste (- 3,2% vs. Dez/14).

Planos de saúde coletivos e individuais

Os planos coletivos seguem sendo de longe os mais relevantes, com 41.261.422 beneficiários (representando 82% do total de planos). O principal motivo para o bom desempenho dos planos coletivos (+3,9% LTM) é a forte correlação com o nível de emprego formal reportado pelo CAGED (+5,3% LTM), que tem evoluído após os choques do primeiro e segundo trimestre de 2020, advindos do início da pandemia.

Já os planos individuais são impactados pelo nível de renda real, que sofreu forte retração. Com o retorno à normalidade pós- Covid, o setor informal se recuperou com mais força, contribuindo para a queda do rendimento real, uma vez que pessoas com emprego informal, em média, possuem renda menor. Além disso, a renda real foi consumida pelos altos níveis de inflação, principalmente em alimentos e transportes. No entanto, com a inflação e desemprego recuando, o atual cenário começa a se tornar favorável, fora as perspectivas de médio/longo prazo, que são positivas tendo em vista a baixíssima penetração deste tipo de plano.

Variação de Preços: Reajustes negativos em 2021 e VCMH historicamente superior ao IPCA

Hospitais e Leitos em ascensão pós-pandemia vs. Cenário desafiador para Operadoras

O impacto inflacionário nos custos e a maior utilização dos planos deixou as operadoras em uma situação delicada. Se o contexto é complicado para as grandes empresas do setor, como Hapvida e GNDI, para as pequenas e médias o diagnóstico pode ser fatal. A consequência pode ser uma tendência ainda maior de consolidação no setor, uma vez que por mais que as grandes operadoras sofram no curto prazo, a escala e facilidade de acesso à capital são determinantes para que elas, pelo menos, sobrevivam e estejam preparadas para captura de market share tanto por meio orgânico quanto inorgânico.

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