Macroeconomia


Inter Setores | Construção | Out/22

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Gustavo Caetano

Publicado 10/out10 min de leitura

Dados operacionais seguem robustos; conjuntura doméstica beneficia o setor

/ Em meio à volatilidade observada nos mercados globais e cenário eleitoral, o cenário macroeconômico doméstico e dados setoriais vêm contribuindo positivamente para a melhor precificação dos ativos ligados à construção civil.

/ Apesar da Selic elevada e pressões nos custos de construção, as companhias do setor apresentaram dados operacionais resilientes ao longo do 1S22. Durante o período, o segmento manteve um ritmo acelerado de contratações e a confiança do segmento se consolidou em níveis positivos.

/ Embalado pelo bom desempenho do baixa renda, o setor obteve números positivos de vendas e nível estável de distratos, bem como um volume ofertado em tendência queda. Apesar da captação líquida ainda negativa e queda do saldo consolidado de poupança frente o ano anterior, a liquidez do funding ao setor se manteve em nível suficiente para uma originação estável de crédito imobiliário, bem como a taxa média de financiamento ainda em lento ritmo de alta.

/ Uma vez passada a tempestade, com queda das expectativas de inflação e fim do atual ciclo monetário contracionista, bem como arrefecimento do preço das commodities nos mercados globais, as ações das construtoras vivem atualmente um momento de inflexão e, alheias aos desdobramentos eleitorais, vivem nos últimos meses um verdadeiro rali de alta.

Cenário Macro

/ Relativamente alheio à deterioração do cenário externo, que ainda vive um pico de inflação e expectativas de recessão para 2023, o mercado doméstico foi beneficiado pelo arrefecimento do IPCA e fim do ciclo monetário contracionista, bem como início de previsões de queda da Selic no ano seguinte.

/ Além disso, as previsões do PIB brasileiro para o biênio 22-23 são revisados positivamente à medida que dados da atividade vêm acima das expectativas.

/ A curva de juros futura iniciou o mês de outubro com pouca oscilação frente o mês anterior, apesar do leve fechamento dos vértices curto e médio, bem como leve abertura dos mais longos.

/ Diante do discurso hawkish do Fed e expectativas de recessão global, o índice de commodities segue em tendência de queda, o contribui positivamente para a trajetória de queda do IPCA

Crédito e Poupança

/ Na leitura do mês de ago/22, o crédito imobiliário destinado a pessoa física atingiu um volume de R$ 16,3 bi em originação, uma queda de 3,2% frente o mês anterior. Por outro lado, a taxa média de financiamento para a modalidade registrou leve queda marginal, de 10,5% a.a. (- 0,2% m/m).

/ Apesar da desaceleração frente ao recorde de saída líquida observada no mês anterior, a poupança registrou nova saída líquida de recursos no mês de setembro, desta vez com variação de R$ -5,9 bi.

/ Apesar do resultado negativo registrado na captação, o saldo consolidado de poupança líquida encerrou o mês de setembro estável na margem. Com volume consolidado de R$ 993 mm, o saldo total de poupança viu a queda de saldo do SBPE ser compensada pela alta do saldo rural.

Confiança e Emprego

/ No mês de agosto, o índice de confiança na construção reportou forte alta marginal ao atingir os 101,7 pontos (+3,5 p.p. m/m), o que reforça o maior otimismo para o segmento . Enquanto isso, o índice de capacidade instalada manteve tendência de alta e, na última leitura, atingiu os 78% (+ 0,2 p.p. m/m) que, por sua vez, sugere a manutenção da atividade em ritmo acelerado.

/ Nos dados do CAGED, o setor de construção registrou nova aceleração no ritmo de contratações. Em ago/22, o setor registrou a abertura de 211.068 novas vagas de trabalho, enquanto outros 175.912 postos foram encerrados. Diante dos números apresentados, o segmento totalizou a abertura líquida de 35.156 novas vagas, uma nova aceleração tanto na margem quanto no comparativo anual. Com isso, a construção civil alcançou uma geração líquida acumulada de 263.496 novos empregos formais nos últimos 12 meses.

Custos

/ Em linha com o esperado, o IGP-M registrou deflação marginal ainda maior no mês de set/22, desta vez de -0,95%. No período, a maior deflação foi registrado pelo IPA em decorrência da queda mais acentuada observada nos bens intermediários. Demais componentes, como o IPC e INCC-M, tiveram oscilação respectiva de -0,08% e +0,1%. Com variação acumulada de 8,25% nos últimos 12 meses, o índice manteve sua trajetória de desaceleração.

/ Nos dados da Sinapi, é possível observar a continuidade da tendência baixista do grupo de materiais, enquanto o trajetória ascendente do preços de mão de obra frente o ano anterior amortece a desaceleração dos custos de construção.

/ Nos itens de compõem o INCC-M, destacamos a nova queda acentuada dos materiais metálicos, enquanto o material para pintura registrou novo pico de alta. Em set/22, foi possível constatar uma desaceleração marginal dos itens de mão de obra que, até então, vinham pressionando o índice,

Lançamentos e Vendas

/ Sustentado pelo alto crescimento do médio e alto padrão (+20% a/a), o setor registrou no 1S22 estabilidade nas unidades lançadas frente o ano anterior (+3% a/a), que viu o segmento voltado ao PCVA com volume estável de 62.443 unidades vendidas (+2% a/a). Ao alcançar o nível de 12.944 unidades, o setor de construção encerrou jun/22 com aceleração de 6% na média anualizada de lançamentos.

/ Em vendas, o segmento finalizou o 1S22 com um volume total de 87.655 unidades negociadas, um crescimento de 18% frente o 1S21 que foi impulsionado pelo forte desempenho do segmento de médio-alto padrão, com números 103% superiores ao comparado no ano anterior, bem como pela resiliência novamente vista no PCVA. No mesmo período, o segmento voltado à baixa renda se manteve totalizou 62.443 unidades vendidas (+2% a/a).

Distratos, Entregas e Oferta

/ Em decorrência das maiores vendas, o nível de distratos também evoluiu ao atingir uma média móvel de 1.518 unidades. Grande parte deste aumento se deu no padrão de média-alta renda, que viu a quantidade de distratos subir para 9.968 unidades (+68%). Por outro lado, sua média de representatividade frente ao volume comercializado permaneceu estável quando comparado ao mesmo período do ano anterior, em torno de 12%. Além disso, os distratos se mantiveram abaixo do volume observado nos últimos cinco anos, o que reitera os benefícios advindos que beneficiou o setor em 2018.

/ Ao longo do primeiro semestre de 2022, o segmento acelerou o ritmo das obras e alcançou um crescimento de 35% na quantidade de unidades entregues, com destaque para as unidades incluídas no PCVA, com alta de 35% nas entregas. Em menor ritmo, o programa de médio e alto padrão também apresentou alta de 18% frente o 1S21. Como resultado, a construção civil alcançou em jun/22 uma média anual de 7.421 unidades entregues (+25% a/a).

/ Apesar da queda observada no estoque em relação ao final de 2021, o nível de unidades ofertadas apresenta trajetória de queda ao longo do 1S22, com 138.426 unidades ofertadas em jun/22. No entanto, o montante médio ofertado dos últimos meses atingiu um patamar ainda 8% superior em relação a jun/21.


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