Macroeconomia


Inter Setores | Construção | Nov/22

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Gustavo Caetano

Publicado 10/nov6 min de leitura

Dados mistos e incertezas à frente

/ Com continuidade das expectativas de desaceleração global e indefinição fiscal no país, os dados setoriais de construção vieram mistos na última coleta.

/ Apesar do prosseguimento do fluxo negativo observado na poupança, o saldo consolidado se manteve estável em outubro, ao mesmo tempo em que a originação em crédito imobiliário registrou volume equivalente frente o mês anterior, concomitante a um custo de financiamento ligeiramente inferior.

/ Em meio à queda registrada de confiança na construção, os dados de emprego mantiveram ritmo positivo no mês de set/22, mantendo o saldo acumulado nos últimos 12 meses em tendência altista.

/ Nos dados de inflação, o prognóstico é mais positivo. Simultâneo à tendência de queda dos custos de construção, puxado pela forte correção baixista do preço dos materiais metálicos, os custos de mão de obra registraram baixa pressão no índice no último mês de outubro.

/ Nos dados operacionais divulgado referente a jul/22, o setor de construção registrou uma desaceleração no ritmo de vendas e lançamentos, justificada majoritariamente pelo menor volume operacional registrado dentro do segmento de baixa renda.

Cenário Macro

/Relativamente alheio à deterioração do cenário externo, que ainda vive um pico de inflação e expectativas de recessão para 2023, o mercado doméstico foi beneficiado pelo arrefecimento do IPCA e fim do ciclo monetário contracionista, bem como início de previsões de queda da Selic no ano seguinte. Nossas previsões para o IPCA para o biênio 22-23 estão em 5,5% e 4,7%, respectivamente.

/ Além disso, as previsões do PIB brasileiro para o biênio 22-23 são revisados positivamente à medida que dados da atividade vêm acima das expectativas, beneficiando assim os segmentos de construção e habitação.

/Enquanto os juros americanos seguem em tendência ascendente, o mercado doméstico de juros mantém rota de acomodação em meio ao arrefecimento da inflação local.

/Diante da política monetária contracionista adotada pelo Fede expectativas de recessão global, bem como a acomodação do real frente ao dólar na faixa dos R$ 5,20, o índice de commodities em reais mantém tendência de queda, o que contribui positivamente para a desaceleração do IPCA.

Crédito e Poupança

/Na leitura do mês de set/22, o crédito imobiliário destinado à pessoa física manteve o volume de R$ 16,3 bi em originação, praticamente estável ante o mês anterior. Já a taxa média de financiamento para a modalidade registrou nova queda marginal (-0,4 p.p. m/m)., caindo para 10,1% a.a.

/Segundo o fluxo de evasão observado no ano, a captação líquida da poupança registrou novo saldo negativo na última coleta, desta vez com variação de R$ -11 bi, o maior da série histórica para o mês de outubro.

/Apesar do resultado negativo registrado na captação, o saldo consolidado de poupança líquida encerrou o mês com leve evolução na margem. Com volume consolidado de R$ 991 mm, o saldo total de poupança registrou um crescimento no saldo SBPE concomitante à estabilidade no saldo rural.

Confiança e Emprego

/No mês de Outubro, o índice de confiança na construção reportou forte queda de 0,8 p.p. frente o mês anterior, atingindo o patamar de 100,9 pontos, em correção às altas observadas no nas coletas anteriores. No mesmo período, o índice de capacidade instalada também registrou queda marginal e atingiu o nível de 77,1% (-0,9 p.p. m/m).

/Nos dados do CAGED, o setor de construção registrou mais uma aceleração no saldo líquido acumulado de contratações. Em menor ritmo absoluto, o setor registrou em set/22 a abertura de 197.256 novas vagas de trabalho, enquanto outros 166;090 postos foram descontinuados. Com isso, o segmento totalizou a abertura líquida de 31.166 novas vagas, um crescimento de 19% na base anual e queda de 11% na margem. Com isso, a construção civil alcançou uma geração líquida acumulada de 268.456 novos empregos formais nos últimos 12 meses.

Custos

/Com deflação acima do esperado, o IGP-M registrou queda de 0,97% em out/22, com recuo expressivo no anualizado para 6,52%. No período, o IPA acelerou sua tendência de queda para -1,44%, beneficiada pela baixa de -1,96% das matérias primas. Com aceleração majoritária dos grupos que compõem a cesta, o IPC variou 0,5% no mesmo período, enquanto o INCC-M desacelerou para 0,04%.

/Nos dados da Sinapi, é possível observar a continuidade da tendência baixista do grupo de materiais. Na última coleta, a mão de obra mostrou sinais de arrefecimento ao apresentar estabilidade no saldo anualizado.

/Nos itens de compõem o INCC-M, destacamos novamente queda acentuada dos materiais metálicos, enquanto o material para pintura se destacou novamente com maior pressão altista. Conforme observado de forma majoritária nos itens que compõem a cesta do índice, os grupos que compõem a mão de obra registraram baixa pressão altista no mês de outubro.

Lançamentos e Vendas

/No mês de jul/22, o setor registrou o lançamento de 4.759 novas unidades (-40% a/a), puxado pela queda 46% nas unidades lançados dentro do PCVA (2.314) e volume 32% inferior no média-alta renda (2.445).

/Em vendas, o segmento finalizou a última coleta com volume de 10.065 unidades, uma variação de -10%, também puxada por um menor volume dentro do segmento de baixa renda, porém sustentada pelo crescimento de 37% observado no outro segmento.

Distratos, Entregas e Oferta

/Em decorrência do menor volume de vendas, o nível de distratos também decresceu para 1.271 unidades. Grande parte da queda também se deveu ao menor volume registrado no PCVA (886 unidades distratadas), enquanto no segmento de alta-média renda foi observado um crescimento anual de 11%, com 325 imóveis.

/Em julho, o segmento também desacelerou o ritmo das obras ao entregar um total de 8.538 unidades, uma baixa anual de 22%, sustentada por um menor volume homogêneo nos diferentes segmentos de renda.

/ Seguindo a tendência observada no ano, o volume de unidades ofertadas voltou a registrar queda em jul/22, para 136.010 unidades. Com volume estável frente o mesmo período do ano anterior, o estoque de unidades em oferta foi alimentado pela alta de 61% observado nas unidades voltadas à média-alta renda, enquanto o volume dedicado ao PCVA registrou decréscimo anual de 20%.


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