Macroeconomia


Inter Setores | Bancos - Mai.22

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Matheus Amaral

Publicado 11/mai10 min de leitura

De olho na qualidade do crédito e resultados 1T22 se comportam como esperado.

O setor financeiro, medido pelo IFNC, recuou 12% no mês de abril/22, enquanto o Ibovespa apresentou queda de 10,1%, em meio a um cenário externo negativo com a guerra na Ucrânia e discurso mais agressivo do Fed sobre o aperto monetário para conter a inflação. Com isso o setor acabou devolvendo um pouco dos ganhos registrados no ano de 2022, mas ainda acumula alta de 9,4% - enquanto o Ibovespa avança 2,9% -, vindo da expectativa de melhores resultados das instituições financeiras com a maior taxa de juros observada, que registra 12,75% e expectativa de mais um aumento para a próxima reunião.

Em meio ao apagão de dados do Bacen, relacionado à greve dos servidores públicos pelos reajustes salariais, tivemos conhecimento apenas dos dados de crédito até fevereiro/22 antes de conhecermos os resultados do 1T22. Até então, o saldo de crédito havia registrado R$ 4,7 trilhões, com alta de 16,5% a/a, ainda acelerado e as concessões de crédito reportaram saldo de R$ 398,3 bilhões com alta de 27,4% a/a, desacelerando contra janeiro, que cresceu 35,8% a/a. Continuamos observando evoluções vindo de uma mudança de mix que apontam maior deterioração da qualidade do crédito, como crescimento em linhas de Crédito Pessoal não consignado, cartão de crédito e cheque especial. A inadimplência 90d até fevereiro já indicava avanço, registrando 2,5% (+0,3 p.p. a/a e estável m/m), direcionada principalmente pelo segmento PF (3,3% +0,4 p.p. a/a e +0,1 p.p. m/m), acompanhando o maior endividamento das famílias, bem como seu movimento correlacionado com a alta da taxa de juros (com delay de 1 ano), e já mostra deterioração, como vimos nos resultados dos bancos já reportados. As taxas médias também evoluíram, totalizando 25,7% em fev/22, alta de 0,4 p.p. m/m e 6,0 p.p. a/a, com o segmento PF incrementando a alta, bem como a evolução dos spreads na mesma toada.

Tudo posto, era de se esperar um 1T22 já mostrando sinais de deterioração da qualidade de crédito e avanço dos spreads, com resultado impulsionado principalmente pelo avanço do mix das carteiras dos bancos em linhas de maiores taxas, porém mais arriscados. E foi o que vimos neste tri com os resultados até agora reportados. O Banco do Brasil ainda reporta o resultado após o fechamento do pregão do dia 11/05.

Santander 1T22: O Santander reportou números em linha com a nossa expectativa, contudo o resultado foi impulsionado por uma menor alíquota de impostos e outras receitas/despesas que se beneficiaram com a mais valia da CIP. Falando da operação, o banco mostrou boa elevação na margem com clientes (+29,6% t/t) por conta da alta dos spreads no período, mas que foi compensada pela forte redução da margem com mercado (tesouraria), que caiu 95,5% t/t. Além disso, a carteira de crédito retraiu 1,6% t/t com menor apetite do banco no período diante do cenário de deterioração da inadimplência. E falando da inadimplência, o banco mostrou um indicador já em níveis pré-pandemia de 2,9%, com atrasos avançando forte, registrando 4,2%. Por outro lado, o banco apresentou boa contenção de gastos com a queda das despsesas gerais e ainda reduziu 10% das suas agências no período, e computou um indicador de eficiência de 36%, com melhora de 1,4 p.p. t/t.

Bradesco 1T22: O resultado do Bradesco foi positivo, mas levemente abaixo das nossas expectativas. O banco mostrou avanço em sua margem financeira com clientes (+7% t/t), refletindo o mix com linhas de maiores spreads. Porém o banco também trouxe uma redução em seu resultado com tesouraria (-43,1% t/t), o que compensou os ganhos com spreads. Além disso, o avanço nas despesas com PDD (+12,9% t/t), com a perspectiva de maior deterioração da qualidade do crédito, também pressionou o resultado. Por sua vez, a inadimplência do banco saltou de 2,8% em dez/21 para 3,2% no 1T22, como segmento PF pressionando a qualidade do crédito e evoluindo 0,6 p.p. t/t e MPMEs crescendo 0,5 p.p. atingindo uma taxa de 3,6%. O resultado com seguros melhorou, avançando 4,7% a/a, embora abaixo da nossa expectativa, mas seguimos observando boa recuperação no negócio. O banco revisou seu guidance para 2022 melhorando suas projeções, principalmente para a margem financeira com clientes e redução das despesas operacionais. Por outro lado, em linha com a deterioração da qualidade do crédito, a PDD expandida também sofreu um aumento. No net entendemos como uma alteração positiva, que sugere um lucro líquido acima das nossas expectativas, considerando o meio do guidance com um ROAE de cerca de 21% para 2022.

Itaú Unibanco 1T22: O resultado do Itaú foi positivo e em linha com as nossas expectativas. O banco manteve seu ROAE de 20% e trouxe um sólido resultado com a combinação de diversos fatores. Em contraponto aos seus pares, o Itaú não trouxe um forte avanço na margem com clientes, que evoluiu apenas 0,7% t/t, porém mostrou queda no seu resultado com tesouraria, que reduziu 22,5% t/t, superando nossas estimativas, tendo em vista que o próprio banco tinha dado um guidance de resultados mais fracos na margem com mercado. As despesas com PDD também evoluíram por conta da expectativa de maior inadimplência pela frente e avançaram 12,4% t/t. Na carteira de crédito, o banco cresceu timidamente, com avanços em linhas de crédito pessoal como cheque especial e crediário, aumentando seu mix em produtos mais rentáveis, porém mais arriscados. Ainda assim, o Itaú mostrou melhor desempenho na qualidade de crédito que os pares, já que sua inadimplência subiu em menor escala que os demais registrando aumento de 0,1 p.p. t/t e taxa de 2,6%, nível ainda abaixo do período pré-pandemia. O segmento PF, que está no foco da deterioração do crédito, avançou 0,3 p.p. t/t e registrou 4,1% no Itaú e o segmento PJ segue como destaque no controle da inadimplência e não alterou no trimestre, registrando taxa de 0,5%. Com isso, o Itaú manteve um bom índice de cobertura registrando 232% para o NPL de 90 dias, com queda de 9 p.p. t/t. No controle das despesas o Itaú também se destacou e mostrou redução de 8,5% t/t nas despesas não decorrentes de juros, resultando em um indicador de eficiência de 41,8%, menor índice histórico do banco. Por fim, o resultado com seguros que já vinha em ritmo de recuperação com a margem financeira colhendo melhor rentabilidade com a alta dos juros e o operacional trazendo bom desempenho comercial.

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