Ano começa com pressão regulatória para os bancos e nos dados de crédito, desaceleração continua.
No cenário de crédito, os dados de novembro continuaram trazendo a tendência de desaceleração nas concessões e aumento gradual da inadimplência concentrada nos ramos sem garantia em Pessoas físicas. As concessões cresceram 1,6% m/m e 9,5% a/a, uma forte desaceleração ante outubro que mostrou crescimento de 16,2% a/a. O movimento veio de todos os segmentos, tanto no total do crédito livre, quanto no direcionado para PF e PJ. A inadimplência segue avançando gradualmente, ainda com altas mais concentradas no ramo de pessoas físicas, que registra taxas acima da média de 2019.
O mês de janeiro marca o início de um ano com um novo governo e já com um news flow trazendo inúmeras propostas de projetos de lei e programas que visam dois principais pontos, endividamento das famílias e teto na taxa do rotativo. Por ora, ambas as propostas ainda estão em fase de planejamento e nem passaram por aprovações e ritos no legislativo. Tomaram destaque o programa “Desenrola Brasil”, que visa a renegociação de dívidas e a PL 2685/22 que apresenta dois principais pontos: i) teto na taxa de juros do crédito rotativo e ii) programa de renegociação de dívidas para famílias.
Em nosso entendimento, o primeiro programa, “Desenrola Brasil” deve trazer no curto prazo um alívio no custo do risco (despesas com PDD), mas postergando e encobrindo um problema de médio prazo na qualidade de crédito. Ressaltamos que, hoje, os bancos já lidam com uma regra do Banco Central onde são impossibilitados de refinanciar o saldo devedor da fatura indefinidamente (limite de 30 dias) oferecendo modalidades mais baratas de financiamento da dívida. Contudo, vemos a possibilidade do novo programa ser implementado, porém depende do Banco Central, hoje independente.
Do outro lado, o PL 2685/22 traz a proposta de um teto na taxa de juros do cartão de crédito rotativo (como já ocorreu no cheque especial), que deve ser concedido a famílias com renda de até R$ 5 mil com montante a ser liberado de R$ 20 mil e contará com um fundo garantidor para que os bancos utilizem desta garantia. Os juros segundo a PL seriam estabelecidos pelo CMN e não seriam superiores às taxas já aplicadas às modalidades de risco semelhante, como o que já ocorre no cheque especial com teto de 8% ao mês.
Supondo um cenário com a PL aprovada, lembrando que ainda há um longo caminho legislativo para que seja aprovada e sancionada e o texto ainda pode ser alterado, realizamos um teste de impacto nas instituições financeiras tanto para a margem financeira quanto para o lucro. Neste caso, observamos que as instituições mais impactadas seriam aquelas que possuem maior relevância do seu portfólio de crédito com cartões de crédito, caso de fintechscom poucos produtos. Já os grandes bancos seriam mais afetados de acordo com o tamanho do rotativo em seu portfólio de cartão de crédito, caso do Itaú e Bradesco.
Cenário macro
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Crédito
Em novembro, o saldo de crédito foi de R$ 5.264 bilhões, com crescimento de 1,0% m/m e 14,7% a/a, desacelerando frente a outubro que havia reportado crescimento de 15,7% a/a. As linhas para pessoas físicas e jurídicas desaceleraram em novembro crescendo, respectivamente, 18,5% e 9,4% a/a. No crédito livre para PF houve leve aceleração na linha de veículos (7,5% a/a em novembro ante 6,8% a/a em outubro), mas os demais segmentos reportaram desaceleração com destaque ao cartão de crédito e crédito não-consignado. No crédito livre para PJ, a desaceleração ocorreu em todas as linhas com destaque para cartão de crédito e cheque especial/conta garantida. No direcionado para PF, a única linha que avançou foi BNDES (8% a/a em novembro ante 7,8% a/a ante outubro), enquanto as demais mostraram desaceleração, e destacamos positivamente a resiliência do crédito imobiliário que desacelera em ritmo fraco (13,6% a/a em novembro ante 13,7% em outubro).
As concessões totalizaram R$ 506 bilhões em novembro, crescimento de 1,6% m/m e de 9,5% a/a, uma forte desaceleração ante outubro que mostrou crescimento de 16,2% a/a. O movimento veio de todos os segmentos, tanto no total do crédito livre, como no direcionado para PF e PJ. No ramo PF, o saldo foi de R$ 286 bilhões (+1,0% m/m e +10,9% a/a), já no ramo PJ o saldo foi de R$ 221 bilhões (+2,4% m/m e +7,7% a/a).
A inadimplência total registrou 3,1% com avanço de 10 bps m/m e +80 bps a/a, acima da média de 2019. Os movimentos de deterioração seguem concentrados no segmento PF que ficou estável em novembro registrando taxa de 3,9% (+90 bps a/a) em 50 bps acima da média de 2019, que era de 3,4%. As linhas com maior deterioração continuam nos segmentos sem garantia como cartão de crédito, crédito não-consignado e veículos. Por outro lado, no crédito direcionado as linhas de rural e imobiliário seguem abaixo da média de 2019, com exceção do microcrédito. O segmento PJ, que reportou inadimplência de 1,8% (+10 bps m/m e +40 bps a/a) continua como destaque, com a inadimplência abaixo da média de 2019 (de 2,4%) e quando olhamos por porte, as MPMEse Grandes Empresas seguem em níveis abaixo da média.
As taxas médias de juros registraram 31,4% em novembro, com avanço de 130 bps m/m e 740 bps a/a. A tendência continua com forte alta na taxa para Pessoas Físicas que registraram 37,7% (+150 bps m/m e +740 bps a/a) com destaques de alta para as linhas de cartão de crédito (+340 bps m/m), crédito não-consignado (+290 bps m/m), cheque especial (+210 bps m/m) e crédito consignado (+200 bps m/m). No crédito para Pessoas Jurídicas a taxa foi de 20,1% em novembro (+60 bps m/m e +250 bps a/a), com a alta direcionada principalmente pelas linhas de capital de giro (+50 bps m/m) e cheque especial (+210 bps m/m). Por outro lado, vimos um movimento de retração das taxas no cartão de crédito corporativo.
Mercado de Capitais e Fundos de Investimento
O volume de emissões no mercado de capitais registrou R$ 21,5 bilhões em novembro/22, menor volume do ano, caindo 50% contra o mês passado. Ao menos as emissões acumuladas em 2022 permanecem elevadas frente aos anos anteriores, fortalecida pela mercado de renda fixa que já observa desaceleração.
Na indústria de fundos, observamos um resgate líquido de R$142,4 bilhões (maior montante do ano), com maior impacto nos resgates líquidos vindo da classe de Renda Fixa onde foram resgatados R$ 123 bilhões, totalizando 2022 com resgate líquido na indústria de R$ 163 bilhões.
Em dezembro, o crescimento de patrimônio líquido em destaque ficou para os fundos de tipo cambial e FIP com avanço de 2,4% e 2% m/m respectivamente. Na ponta contrária, a maior queda foram dos fundos de ações e renda fixa com -4,1% e -3,2% m/m. No acumulado do ano, o maior crescimento ficou com os fundos Offshore (+37,7%), seguido pelos FIDCs(+15%), FIIs(+13,7%), Previdência (+12,9%) e Renda Fixa (+10,5%).
Meios de pagamento e Pix
Em volume financeiro das transações, o Pixatingiu R$ 1.078 bi em novembro, novo recorde (+4,2% m/m). A quantidade de transferências segue crescendo e totalizou no mês 2.628 milhões (+3% m/m). O ticket médio do Pixfoi de R$ 410 (+0,7% m/m) e segue reduzindo gradativamente a medida que a ferramenta se populariza. Sua representatividade no sistema de pagamentos atingiu 22% em novembro, enquanto TED e outros mantiveram-se estáveis.
O TPV na indústria de cartões mostrou desaceleração até setembro/22 ainda se mantendo em patamares acima do reportado no ano passado. Em setembro o TPV do crédito avançou 21% a/a, enquanto no débito o avanço foi de apenas 1% a/a. Já o pré-pago mantém forte crescimento com alta de 75% a/a. Contudo os três segmentos mostraram desaceleração no mês.