Lucros surpreenderam, mas qualidade do crédito ainda está no foco
O desempenho das ações do setor financeiro, medido pelo IFNC, avançou 14,5% no mês de ago/22, enquanto o Ibovespa subiu 9,3%, em meio à temporada de resultados, na qual os bancos superaram as expectativas de mercado, com alguns mantendo sinais sólidos e outros ainda performando mal em qualidade de crédito. No ano, o setor financeiro mantém uma boa performance, com alta de 20,2% - enquanto o Ibovespa sobe 9,3% - com expectativas de acomodação da taxa de juros.
Nos resultados apresentados destacamos, como esperado, balanços sólidos do Itaú Unibanco, consolidando um ROE de 21%, se mostrando o best-in- class dos incumbentes. Com a evolução em seu NII vindo de um bom volume e maiores spreads compensando um NII com mercado mais fraco em tesouraria (ainda positivo, enquanto pares reportaram resultado negativo nesta linha), o banco reportou um bom desempenho em termos de qualidade de crédito, com a inadimplência total avançando em passos curtos, ainda abaixo de níveis pré- pandemia. Outro player que surpreendeu foi o Banco do Brasil, que continua se aproveitando da alta cobertura e qualidade de crédito e provisionando pouco, gerando resultados bem acima do esperado. O banco também mostrou bom controle em seu Opex, o que resultou em um ROE inédito de 21%. Por outro lado, o Santander e o Bradesco mostraram ainda uma qualidade de crédito no varejo desempenhando pior que os pares, já com níveis pré-pandemia atingidos e resultados com tesouraria mais fracos, apesar de superarem as estimativas. O Bradesco se destacou com um forte resultado no braço segurador, que vem se beneficiando da baixa sinistralidade no ramo de cobertura pessoal após o maior controle de óbitos por covid-19 com a vacinação e também pelo forte avanço dos prêmios emitidos e resultado financeiro com a maior taxa de juros. O Santander, por sua vez, teve seu NII pressionado pela tesouraria, que segue sentindo maiores efeitos de marcação a mercado com o aumento da taxa de juros, mas reportou uma estabilidade no NPL que havia crescido mais forte no 1T. Além disso, com Opex controlado e crescimento em serviços e uma tributação efetiva abaixo da média, o Banco acabou mantendo um ROE de 21%.
Na carteira de crédito vimos os bancos voltando a crescer nas concessões, após um 1T de desaceleração, mas muito influenciado pelas linhas de maior risco x retorno - como cartão de Crédito e Crédito Pessoal - apesar de também termos visto o Consignado evoluir após aprovação de maior margem consignável. O segmento de PJ continua mostrando uma inadimplência bem abaixo do normal, segurando os níveis de inadimplência total dos bancos. Além disso, o crescimento do crédito nesta linha encontra maior competição com emissões no mercado de DCM, mercado este que o Itaú mostrou forte performance, se aproveitando da liderança no segmento.
Trouxemos finalmente neste setorial os dados de crédito atualizados pelo Bacen, porém ainda defasados e reportando até abril/22. De toda forma, como já conhecemos os dados do 2T22 dos bancos de nossa cobertura, incluímos novos gráficos neste relatório para acompanhamento trimestral.
O saldo de crédito registrou R$ 4.816 bi em abril/22, com alta de 3,1% no mês e 16,7% a/a. O saldo com PJ registrou R$ 1.983 bi, com alta de 9,9% a/a, acelerando contra março. O saldo PF foi de R$ 2.832 bi, +3,4% m/m e 21,9% a/a, mantendo a forte demanda do segmento, agora em linhas mais arriscadas.
As concessões de crédito totalizaram R$ 459,1 bi em abr/22, com queda de -10,4% m/m e +22,1% a/a. As concessões para PJ caíram 17,2% m/m e para Pessoas Físicas houve queda de 3,6% m/m, mostrando uma contração contra mar/22.
A taxa média das operações de crédito avançou para 27,7% em abr/22, alta de 110 bps m/m e 730 bps a/a. As operações com PF registraram taxa de 32,1%, com alta de 70 bps m/m, enquanto as com PJ registraram taxa de 20,2% com avanço de 150 bps m/m.
O spread médio das operações de crédito foi de 17,6% com alta de 50 bps m/m e 250 bps a/a. O ramo PF mostrou um spread de 22,8% com avanço 60 bps m/m e 250 bps a/a, já o ramo PJ reportou um spread de 8,7% aumentando 50 bps m/m e 190 bps a/a.
A inadimplência total registrou taxa de 2,7% em abr/22, au- mentando 10 bps m/m e 50 bps a/a. No ramo PF a inadimplência foi de 3,5%, avançando 10 bps no mês e 60 bps a/a. Já em PJ, a taxa foi de 1,5%, estável no mês e alta de 20 bps a/a.
O índice de Basileia (Nível 1 e 2) do sistema financeiro registrou 16,1% em abril/22, aumento de 20 bps m/m e com queda de 70 bps a/a. Já o Patrimônio de Referência Nível I reportou taxa de 14,2%, com avanço de 20 bps m/m e queda de 60 bps a/a.
Na comparação da inadimplência do segmento PF versus a evolução da taxa Selic com delay de 1 ano, observamos em abril/22 que a Selic defasada ainda era de 2,75%, e a inadimplência começou a acompanhar de maneira mais inclinada a alta dos juros, registrando 3,5%.
O endividamento das famílias em julho/22 mostrou que as famílias endividadas representam 78% com alta de 70 bps no mês e alta de 660 bps a/a. As famílias com contas em atraso representam 29%, com alta de 40 bps no mês e 330 bps a/a. Já as famílias que não terão condições de pagar representam 10,7%, alta de 10 bps m/m, mas caindo 20 bps a/a.
Os dados de TPV do sistema de cartões de Crédito, Débito e Pré-pagos mostram que em junho/22 o Crédito evoluiu 38% a/a, o Débito avançou 13% a/a e o Pré-Pago 114% a/a. No 1S22 o crédito teve alta de 42% a/a, o Débito +17% a/a e o Pré-pago +138% a/a.
Em julho/22, o Pix registrou 1.749 bilhões em transações, com alta de 7% m/m, já o volume financeiro reportou saldo de R$ 812 bilhões, com alta de 5% m/m, e um ticket médio de R$ 464, caindo 2% m/m.
O Mercado de Capitais apresentou um volume financeiro de R$ 80,8 bilhões em julho/22, um avanço de 50% m/m com as emissões em Renda Fixa totalizando R$ 47,9 bi, subindo 5% m/m, Renda Variável R$ 30,8 bi, avançando 447% m/m e Híbridos totalizando R$ 2,0 bi em emissões, queda de 31% m/m.
O saldo em poupança de abril/22 foi de R$1.012 bi (-0,2% m/m e -2,5% a/a), impactado pelos resgates líquidos de R$ 12,7 bi, que avançaram 237% m/m com os rendimentos totalizando R$ 6,3 bi, caindo 1% m/m a uma taxa de juros de 8,26% a.a. (+19 bps m/m).