Onda de calor e secas ao redor do mundo pautaram o mês de agosto
Iniciamos o setorial mensal de Agronegócios que trará, primeiramente, um acompanhamento dos principais grãos, proteínas, além de apresentar um panorama do açúcar e etanol dentre as softs commodities.
Com agravamento da situação climática na China, Estados Unidos e Europa, as preocupações diante das limitações da oferta de commodities agrícolas se intensificaram no mês de agosto. Na Europa, a onda de calor e secas no continente conturbam as projeções de safra de verão da União Europeia e mexem com os preços no mercado futuro. Além disso, incertezas relacionadas ao corredor de exportação de grãos ucranianos pelo Mar Negro, após Vladimir Putin anunciar possível alteração no acordo, e redução dos embarques pela Ucrânia, também vem pressionando as cotações de trigo e milho.
Nos Estados Unidos, a atenção está para o desempenho das lavouras de milho e soja, além das estimativas para safra de 2022/23, que será clarificado com a divulgação do relatório de oferta e demanda da USDA no dia 12/09.
Em complemento, o cenário de desaceleração econômica global, com avanço do aperto monetário pelos Bancos Centrais e dados da China mais fracos, com recuo das importações e exportações calejadas, trouxeram certo arrefecimento para os preços das commodities em agosto. No entanto, as dificuldades produtivas e logística continuam no radar.
No caso da pecuária, a demanda por proteína continuou elevada no mês de agosto, com leve arrefecimento da arroba do boi gordo no mercado doméstico, enquanto frango se manteve estável. O IBGE divulgou os dados de abate do 2T22, com um crescimento de 3,5% a/a de bovinos, queda de 1,4% a/a de aves e alta de 7,2% a/a de suínos.
No Brasil, vimos revisões e divulgação das projeções para safra de 2022/23 pela Conab, além do mercado acompanhar o desempenho das colheitas. Além disso, a atenção se volta para os efeitos da queda do petróleo, cortes nos combustíveis pela Petrobras e consequente contração no preço do etanol.
Em agosto o dólar teve uma cotação média de R$ 5,14, alta de 0,2% no mês, mas queda de 4,2% frente a média de julho.
Conab | Perspectivas Agropecuária 2022/23
No dia 24/08 a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) anunciou as suas perspectivas para agropecuária, trazendo suas estimativas para as safras de 2022/23, além de um panorama para pecuária este ano e 2023.
De modo geral, as previsões são positivas para produção de grãos no período, com um montante de 308,3 milhões de toneladas (+14% a/a) , impulsionado por um avanço de 2,5% do total da área brasileira destinada à plantação, mas principalmente por uma gradual melhora da produtividade das lavouras, com uma estimativa de alta de 11%. O destaque da produção está para as safras de algodão, milho e soja, que devem ser beneficiadas por uma recuperação da produtividade na região Sul, além de vermos uma maior rentabilidade do produtor e boa liquidez no mercado, apesar dos custos de produção ainda serem um sinalizador negativo.
No caso da soja, após vermos uma queda de 45,6% da produção da safra na região Sul de 21/22 em comparação a 20/21, explicado pelos efeitos das adversidades climáticas no período, as expectativas da Conab são de uma recuperação robusta, com uma produção recorde de 150 milhões de toneladas (+21,2%), em detrimento de um aumento da produtividade de 17,1% com melhora do desempenho na região Centro-Sul. Também é esperado que o produtor seja favorecido pela forte demanda externa, com preços cotados na CBOT na faixa de US$ 14 a 13/ bushel em 2023 e uma expectativa da Conab de alta de 22,2% das exportações.
Para o milho, a Conab espera mais uma safra recorde, com uma produção de 125,6 milhões de toneladas (+9,4%), favorecido pela melhora da produtividade da 1ª safra em relação a 21/22, que sofreu pela estiagem na região do Centro-Sul, assim como é esperado uma performance branda da 2ª safra, que ganha cada vez mais espaço na produção do Brasil, principalmente pelos frutos da produtividade, sem necessitar de um aumento da área plantada. Para demanda, a Conab prevê um mercado ainda robusto, o que ameniza os efeitos dos custos produtivos na rentabilidade dos agricultores.
Para proteínas as perspectivas se mantém positivas, com destaque para carne bovina, onde a Conab espera uma alta de 26,1% (23/22) no total exportado, em espelho a uma maior demanda da Ásia e recuperação da oferta de animais. No entanto, os custos continuam no radar para os pecuaristas, com preços dos suplementos do gado em alta e bem como o valor do bezerro.
Milho
Em agosto o preço do indicador do Milho da ESALQ/BM&FBOVESPA teve uma leve alta de 1,22% no comparativo mensal, cotado em uma média de R$ 82,52/scde 60 kg, quebrando o ciclo de queda vista desde março. O movimento doméstico acompanhou o cenário externo, que foi pautado por uma valorização do milho em Chicago no final do mês, fechando com alta de 9,3% com US$ 6,74 por bushel. A piora das secas na Europa e China, redução das exportações na região do Mar Negro e provável queda na produtividade da safra de milho dos Estados Unidos, refletiram nas cotações da commodity no período. Os contratos de Chicago operaram com forte alta em dez.22 e mar/23, enquanto mercado aguarda mais informações sobre o desempenho da colheita nos EUA.
As exportações de milho (SH4 1005) no Brasil, em agosto, alcançaram novos recordes, em reflexo ao resultado da safra no ano e preços atrativos no mercado externo. Visto isso, a receita da atividade aumentou 145,7% a/a, com um acréscimo de 72,8% do volume e forte incremento do preço comercializado em 42,2%.
Safra 21/22. O último levantamento da Conab, lançado na quinta-feira (08), aponta um recuo de 9,7% na produção total do milho na safra de 21/22 frente à sua última estimativa, em espelho às adversidades geradas pela estiagem em GO, SP e MG, além de perda de produtividade no Paraná com ataque de cigarrinhas na região.
Nos Estados Unidos, a última projeção da USDA em agosto mostrou uma redução de 5% na produção de milho, com 14,4 bilhões de bushels(365 mm ton) em 21/22, após dificuldades enfrentadas com a estiagem no país. No relatório semanal (06/09), a USDA apresentou que 54% das condições da safra de milho se mantinham em condições ótimas e excelentes, estáveis em relação a última semana. Com o fim do verão em setembro, atenção se volta para o período de corn harvest e desempenho da safra, trazendo uma movimentação extra para o mercado futuro.
Soja
Em agosto o preço da soja em Chicago teve uma contração de 7,9% m/m, com uma cotação média de US$ 15,7 por bushel. O mercado doméstico acompanhou o sentido externo com uma diminuição de 2,5% no preço do Indicador da Cepea, frente ao fechamento de julho. O movimento segue os receios diante da desaceleração do comércio internacional, por um lado instigado pela situação econômica da China, por outro pelas dificuldades logísticas dos produtores, o que estimulou o aumento dos estoques nos Estados Unidos e consequente compressão dos preços.
Em rali para o período de colheita, o relatório semanal mostrou estabilidade na condição da safra de soja, com 57% das lavouras em uma situação boa ou excelente. Além disso, o clima favorável com chuvas no hemisfério norte, potencializam a rentabilidade da cultura de alguns estados dos Estados Unidos. As últimas estimativas da USDA (12/08) apresentaram uma expectativa de 120,7 mm tons, enquanto ajustaram o estoque final para 6,12 mm tons.
No Brasil, a receita das exportações em agosto totalizaram US$ 3,8 bilhões, representando um crescimento de 20,7% a/a, beneficiado pelos avanço de 28,5% no preço comercializado, dado que vimos uma contração de 6% a/a do volume.
Safra 21/22. No Brasil, a última revisão da Conab para safra de 21/22 foi positiva, com uma correção de 1,2% na produção e valor de 125,6 mm toneladas. Desse modo, impactado pelas adversidades climáticas na região Sul, é projetado uma diminuição de 9,9% da produção de soja quando comparado com 20/21.
As últimas projeções da USDA para safra de 22/23 seguiram um tom otimista, com uma expectativa para produção de soja no montante de 4,53 bilhões de bushels(123,6 mm ton), uma alta de 0,58% a última revisão.
Aves
Com forte demanda interna e externa pela proteína, o preço do frango congelado em agosto se manteve estável no elevado patamar de R$ 8,03/kg, com um leve crescimento de 0,12% m/m na média do mês. O preço está sendo fortemente pressionado pela limitação da oferta em um cenário de disputa pelo produto, principalmente intensificado pelos efeitos inflacionários nos bolsos dos consumidores.
No 2T22, a pressão dos custos produtivos para os avicultores, com preço do milho e farelo de soja ainda elevados, recaiu sobre a disponibilidade de animais no mercado doméstico, que apresentou um redução de 1,4% a/a e 2,7% t/t no número de frangos abatidos, com o montante de 1,50 bilhões de cabeças. No entanto, a forte demanda pela proteína, com destaque para o mercado externo, que foi estimulada pela gripe aviária no Hemisfério Norte e ausência da Ucrânia, beneficiou os preços, assim amenizando os impactos dos custos para a indústria.
Nesse sentido, com uma demanda externa ainda aquecida, em agosto a receita de exportações de carne de frango avançou 36,1% a/a, com crescimento de 15,3% a/a do volume.
As projeções da Conab mostram um cenário mais favorável para 2023, com uma maior disponibilidade de animais para o mercado doméstico e aumento de 5% da produção. As expectativas para exportações continuam fortes, mas com desaceleração após recuperação do rebanho suíno chinês.
EUA. O último outlook da USDA apontou um crescimento de 1,03% da produção de broilers em 2022/21 e +0,7% 23/22. Nos Estados Unidos, a demanda pela proteína continua acentuada, mas custos produtivos dificultam a produção, que reduziu em 1,8% a/a em julho. O preço composto do frango recuou 7,5% m/m, mas com alta de 45,2% a/a.
Bovina
Em agosto, o arroba do boi refletiu uma menor procura do mercado doméstico, bem como o aumento da oferta de animais em período sazonal positivo para o abate, o que proporcionou uma cotação média de R$ 313,4/@, representando uma redução de 3,4% m/m. Em complemento, o Indicador do Bezerro se manteve estável em comparação com julho, indicando uma queda de 0,6% m/m. No mercado futuro, o preço do boi gordo já exibe uma leve contração do valor do animal, chegando em R$ 316,50/@ em dezembro.
Para o mercado doméstico, o poder de compra da população continua limitante, no qual vemos uma fuga do consumo para proteínas como ovos, frango e suíno. O preço médio da carcaça fechou o mês com queda de 3,14% m/m, cotado em R$ 20,2/kg, contudo, com demanda enfraquecida e oferta superior, é esperado uma continua contração do preço nos próximos meses, em busca de não pressionar os estoques, o que favorece o consumo interno.
Com uma demanda ainda forte da China, as exportações de proteína bovina avançaram 15,8% em receita em agosto, no entanto apresentaram um arrefecimento do preço comercializado, que obteve uma queda no segundo mês consecutivo de 6,4% no m/m. O mercado se atenta para demanda do país com atual situação do setor imobiliário e efeitos da política Covid-Zero, por mais que período sazonal se mantenha favorável com formação de estoques para Ano Novo Lunar.
Para os custos dos pecuaristas, no período de inverno a necessidade de suplementação do rebanho com minerais acaba impulsionando o abate, principalmente no cenário de escassez de insumos e dificuldades logísticas.
/ USDA: No outlookde agosto, a USDA manteve uma projeção de queda para produção de carne bovina em 6,2% para 2023/22. No entanto, o departamento espera um acréscimo de 1,9% no volume no 3T22, seguido de uma forte queda de 5% no 4T22, em reflexo aos efeitos das secas no pasto e custos operacionais para os pecuaristas, que levou ao aumento do número fêmeas abatidas.
Bovina | Abate 2T22
Os dados do 2T22 da Pesquisa Trimestral do Abate de Animais, divulgados pela IBGE nessa última terça-feira (6), apresentaram um total de 7,38 milhões de cabeças de gado abatidas, o que representa avanço de 5,7% t/te 3,5% a/a, sendo o segundo trimestre consecutivo de alta. Os resultados consolidam a esperada virada do ciclo da pecuária, com uma gradual melhora da oferta de animais.
Os dados foram beneficiados pelo crescimento do abate de fêmeas no período, que representaram 39,7% do total, frente a 36,6% no 2T21, com valorização de 12,8% a/a. Nesse cenário, o recuo de quase 16% no preço do bezerro desde o início ano, sendo uma faixa inferior ao 2T21, incidiu em um abate superior de fêmeas, com um aumento de 5,6% t/te 12,8% a/a de vacas e 8,1% t/te 12,7% a/a das novilhas, que passaram a ser mais requisitadas pelo mercado externo, como um produto de característica mais premium. Além disso, exportações e preços atrativos estimulam a dinâmica do setor.
Perspectivas. O movimento de intensa retenção de fêmeas que ocorre desde 2020, após um abate robusto nos anos de 2016 a 2019, que proporcionaram uma contração considerável na oferta de bovinos, começa a surgir efeitos no mercado de proteínas nesse ano. As expectativas do mercado passam a ser de uma forte recuperação da oferta de animais, com gradual virada do ciclo e melhora em 2023, sendo um fator positivo, principalmente levando em conta as projeções de queda na produção de bovinos nos EUA e lenta recuperação da Austrália.
Suína
Em agosto vimos o preço da carcaça do suíno avançar 5,3%, cotada em R$ 10,38/kg em reflexo a uma maior demanda interna com o encarecimento da proteína bovina e de frango.
As exportações em agosto tiveram resultados positivos, com um crescimento de 21,3% m/m e 6,6% a/a da receita, além de um incremento de 21% m/m e 16,4 a/a do volume, em razão de uma forte demanda da China, mas principalmente por uma evolução da procura por demais países da Ásia e Chile. De modo geral, após a recuperação do rebanho de suínos chineses, vemos um período de adequação da demanda externa e busca por novos mercados. Contudo, os efeitos da política Covid-Zero, desaceleração da economia e inflação da China continuam no radar.
Pontuamos que esse é período sazonal de formação de estoque de proteínas pela China, para o Golden Week em outubro e Ano Novo Lunar, que acontecerá em janeiro de 2023.
Para o suinocultor, os preços atrativos do suíno no mercado interno e ainda estáveis internacionalmente, amorteceram o leve avanço dos insumos, com alta do milho.
No 2T22 houve um crescimento robusto de 7,2% a/a e 3,0% t/t do total de suínos abatidos, com 14,1 milhões de cabeças, o que favoreceu a demanda interna, dado que a população se aproveitou de uma maior oferta, somado a uma redução da demanda externa, para adquirir o produto por preços mais acessíveis, consumo que representou 81,3% da produção doméstica.
USDA: Nos EUA, o outlook de agosto da USDA manteve a estimativa de queda de 2,2% a/a da produção de proteína suína para 2022, em consequência da recuperação do rebanho chinês e redução da quantidade de porcos para abate.
Açúcar & Etanol
Impactado pelo enfraquecimento da demanda externa e crescimento da procura pelo cristal tipo Icumsa180, que teve uma queda no seu preço com o aumento da oferta da safra 22/23, o mês de agosto foi marcado por um recuo da cotação do açúcar no Brasil. Além disso, o anúncio da redução dos impostos sobre a gasolina e contração de cerca de 12% do petróleo Brent, pressionaram ainda mais o preço do açúcar no mês, dada a tendência de aumento da produção da commodity pelas usinas nacionais frente ao etanol. Visto isso, o Indicador do Açúcar Cristal da CEPEA/ESALQ de São Paulo apresentou uma queda de 4,86%, com uma cotação média de R$ 128,87/saca.
Enquanto isso, as expectativas para oferta no Brasil seguem fracas, com dados da Unica apresentando queda de 13,7% a/a na moagem de cana da primeira quinzena de agosto da região Centro-Sul, em detrimento dos efeitos das adversidades climáticas na região no processo de colheita.
No exterior, o preço do açúcar VHP acompanhou em partes o cenário brasileiro, fechando com uma leve contração de 1,6% na cotação média de agosto frente a julho. De modo geral, apesar do mercado esperar um possível aumento da oferta de açúcar, com forte queda do preço do etanol no Brasil e projeções de safra robustas ao redor do mundo, com melhora produtiva da Tailândia e Índia, o crescimento da demanda global e secas na Europa seguraram os preços em agosto.
No caso do etanol, o mês foi marcado por uma contração robusta do preço, em reflexo ao cenário do petróleo e período de maior oferta de biocombustível na região Centro-Sul, o que levou a uma queda da cotação média do Etanol Hidratado do indicador da CEPEA/ESALQ em 9,1% m/m, cotado em R$ 2,67/litro, enquanto o Anidro teve um recuo de 7,8%, com R$ 3,21/litro.
Por outro lado, a demanda continua enfraquecida, os dados de comercialização de etanol da Unica mostraram uma diminuição de 2,82% na primeira quinzena de agosto na região do Centro-Sul, em comparação com o mesmo período anterior. No acumulado da safra de 22/23, vimos uma queda de 6,79% do volume vendido de etanol hidratado no mercado doméstico e alta de 3,27% do anidro.