Macroeconomia


Inter Setores | Agro Out.22

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Manuela Granja

Publicado 20/out15 min de leitura

Riscos relacionados a oferta global de grãos e inflação alimentar continuam no radar

Os riscos relacionados à oferta global de grãos e inflação alimentar continuam no radar. O acordo efetuado para continuidade das exportações de grãos ucranianos pelo Mar Negro encerrará no final desse mês, o que coloca mais pressão na oferta das commodities no mercado global. A Rússia continua a dar indícios de insatisfação frente ao pacto e ameaça não renová-lo, o que pode proporcionar um desequilíbrio na oferta de grãos mundial, levando em conta a importância da Ucrânia para comercialização de trigo e milho.

Nos Estados Unidos, o baixo nível do rio Mississippi também conturba o mercado, visto a sua importância para o transporte dos grãos, principalmente para exportação na área do Golfo. Além disso, as incertezas frente à produtividade da plantação de milho dos EUA e quebra na safra do grão na Europa, com intenso calor e secas no continente, também ameaçam o cenário de oferta.

Em setembro o câmbio volta a subir com mais vigor, com uma cotação média de R$ 5,23 e avanço de 1,68% m/m, em reflexo a alta de 0,75 bps pelo Fede suas medidas mais severas para contenção da inflação dos Estados Unidos. Nesse sentido, a valorização do dólar se torna mais um elemento negativo para cotação das commodities, considerando a perda de competitividade das exportações americanas.

Por outro lado, as projeções para as safras de milho e soja no Brasil continuam fortes, com bom ritmo do plantio de soja, assim como estimativas ainda positivas para a produção de milho.

A queda do brentde quase 7% em setembro e efeitos da redução do ICMS proporcionaram fortes quedas para cotação do etanol no mercado.

Para pecuária, o mês de setembro foi marcado por fortes quedas dos papéis de frigoríficos, de cerca de 19%, em espelho ao relatório da associada da USDA em Beijing, que pontuou uma estimativa de queda de 19% das importações de proteína bovina pela China. Entretanto, em outubro a USDA divulgou o relatório oficial (12/10), com uma projeção de queda da importação de carne bovina pela China em 9%, sendo menor do que o visto pelo relatório da associada, o que, consequentemente, proporcionou um alívio para os papéis nesse mês.

Milho

Em setembro o preço do indicador do Milho da ESALQ/BM&FBOVESPA avançou 1,81% no comparativo mensal, cotado em uma média de R$ 84,05/scde 60 kg, sendo o segundo mês consecutivo de alta. O movimento doméstico acompanhou o cenário externo, que foi pautado por uma valorização do milho em Chicago no final do mês, fechando com alta de 7,8% com uma cotação média de US$ 6,82 por bushel. O receio frente (i) às exportações da Ucrânia, (ii) à produtividade da colheita do milho nos EUA, (iii) quebra da safra da União Europeia com situação climática, além de (iv) secas na China, refletiram nas cotações da commodity no período.

Em complemento, a comercialização do milho brasileiro com a China e incertezas com a safra da Argentina geram uma pressão extra para oferta mundial.

As exportações de milho* no Brasil, em setembro, alcançaram novos recordes para o mês, com avanço da demanda externa em cenário de riscos a oferta. A receita aumentou 260% a/a, impulsionado pelo forte incremento do preço comercializado em 51,3% a/a.

Safra 22/23. O último levantamento da Conab, lançado em outubro, indicou um recuo de 9,7% na produção total do milho na 1ª safra de 22/23 contra sua última estimativa, em espelho ao aumento dos custos e preferência por cultivos mais rentáveis.

EUA. A última projeção da USDA apresentou uma redução de 3,2% na produção de milho, com 13.895 mm de bushels(353 mm ton) em 22/23. As secas no cinturão do milho, com destaque para os estados de Nebraska e Kansas, prejudicaram o desempenho da safra. O último relatório semanal da USDA (17/10) sobre o progresso das safras, pontuou que a colheita de milho estava 45% completa, 5 p.p. a/a menor, devido ao atraso do plantio em alguns estados por conta das secas. O mercado atenta para o baixo nível do Rio Mississippi, que vem dificultando a logística de grãos no país e consequentemente pressionando os preços.

Fonte: Inter Research, Cepea, Bloomberg, Conab, USDA. *Obs: Milho SH4 1005.

Soja

Em setembro o preço médio da soja em Chicago teve uma contração de 7,0% m/m, com uma cotação média de US$ 14,6 por bushel. O mercado doméstico seguiu em sentido contrário ao externo, ficando estável no mês, com uma leve alta de 0,05% no preço do Indicador da Cepea, ante o fechamento de agosto.

O movimento acompanhou o início da colheita nos Estados Unidos, expectativas positivas para safra de 23/22 da América do Sul, com destaque para recuperação do Brasil, assim como incentivos para produtores efetuado pelo governo argentino, em busca de liquidar seu o estoque.

No Brasil, a receita das exportações em agosto totalizaram US$ 2,6 bilhões, representando um crescimento de 6,4% a/a, beneficiado pelo avanço de 19,6% a/a no preço comercializado, com contração de 11% do volume.

O relatório semanal da USDA informou que 63% da safra de 22/23 de soja já foi colhida. As últimas estimativas da USDA (14/10) apresentaram uma expectativa de 4,3 bilhões de bushels(109,6 mm tons) para produção de soja, um recuo de 1,5% ante a última estimativa.

Safra 22/23. No Brasil, a última revisão da Conab para safra de 22/23 foi positiva, com uma correção de +20,3% na produção ante a última estimativa, ajustado para o montante de 152,3 mm ton. Esse crescimento decorre do aumento da área destinada para o cultivo em 1,2% a/a, bem como avanço de 17,4% da produtividade.

Fonte: Inter Research, Cepea, Bloomberg, Conab, USDA.

Aves

Com resiliente demanda interna e externa pela proteína, o preço do frango congelado em setembro se manteve estável no elevado patamar de R$ 8,10/kg, com um crescimento de 0,93% m/m na média. O preço está sendo fortemente pressionado pela limitação da oferta em um cenário de disputa pelo produto, principalmente intensificado pelos efeitos inflacionários nos bolsos dos consumidores.

No 2T22, a pressão dos custos produtivos para os avicultores, com preço do milho e farelo de soja ainda elevados, recaiu sobre a disponibilidade de animais no mercado doméstico, que apresentou um redução de 1,4% a/a e 2,7% t/t no número de frangos abatidos, com o montante de 1,50 bilhões de cabeças. Em setembro os custos se mantiveram elevados, com R$ 5,8/kg por frango de corte na média da região Sul. No período, segundo a Embrapa os gastos com nutrição, que representam 72,1% dos custos, subiram 0,7% m/m, acompanhado de uma alta de 2,1% nas despesas com pinto de um dia, segundo maior custo dos avicultores com 14,7% do total.

No exterior, a demanda pela proteína continuou forte, estimulada pela gripe aviária no Hemisfério Norte e ausência da Ucrânia, que beneficia os preços, assim amenizando os impactos dos custos para a indústria. Além disso, novo surto da gripe aviária em Arkansas, um dos maiores estados produtores de frango dos EUA, e situação da Europa beneficiam as empresas brasileiras. Em setembro, a receita de exportações de carne de frango avançou 13,6% a/a, com crescimento de 18,9% a/a do preço, no comparativo mensal preço e volume reduziram.

As projeções da Conab mostram um cenário mais favorável para 2023, com uma maior disponibilidade de animais para o mercado doméstico e aumento de 5% da produção. A USDA projetou uma alta de 3,78% da exportação de frango do Brasil em 2023.

EUA. O último outlook da USDA apontou um crescimento de 2,2% da produção de broilers em 2022/21 e +1,58% 23/22. Em setembro o preço composto do broiler recuou 14,9% m/m, enquanto produção avançou 14,1% m/m.

Fonte: Inter Research, Cepea, USDA.

Bovina

Em setembro, o arroba do boi acompanhou o cenário de menor procura do mercado doméstico, somado a maior disponibilidade de animais para abate, o que proporcionou uma cotação média de R$ 303,35/@, representando uma redução de 3,2% m/m. Em complemento, o Indicador do Bezerro indicou uma queda acentuada no mês de setembro, com uma redução de 5,5% m/m, enquanto no acumulado do ano foi visto uma diluição de 17,1% (Preço dia 14/10). No mercado futuro, o preço do boi gordo já exibe uma contração do valor do animal, chegando em R$ 299,35/@ em dezembro, mas alta em maio/23 com R$ 310,20/@ .

Para o mercado doméstico, o poder de compra da população continua limitado, no qual é visto uma fuga do consumo para proteínas como ovos, frango e suíno. O preço médio da carcaça fechou o mês com queda de 1,86% m/m, cotado em R$ 19,39/kg, contudo, com demanda enfraquecida e oferta superior, é esperado uma continua contração do preço nos próximos meses. Período sazonal de festas de final de ano, clima e Copa do Mundo favorecerem o cenário para o 4T22.

Com uma demanda ainda forte da China, as exportações de proteína bovina bateram novos recordes. Em setembro avançaram 2% m/m em receita e 79,2% a/a, beneficiado pelo aumento do volume comercializado de 3,2% m/m, ao passo que o preço recuou pelo terceiro mês consecutivo com 1,2% m/m. O mercado se atenta para demanda da China com atual situação do setor imobiliário, efeitos da política zero covid e desaceleração do país. Relatório da USDA sobre oferta e demanda global projetou uma redução de 9% nas importações de proteína bovina pela China em 2023, mas é estimado que as exportações brasileiras se mantenham estáveis. No curto prazo o período sazonal favorece o cenário com formação de estoques para Ano Novo Lunar.

EUA: No outlook de outubro, a USDA aumentou a sua projeção de queda para produção de carne bovina em 6,3% para 2023/22. No entanto, o departamento espera um acréscimo de 2,4% em volume no 3T22, seguido de uma queda de 3% no 4T22, em reflexo aos efeitos das contínuas secas no pasto e custos operacionais para os pecuaristas, que levou ao aumento do número de fêmeas abatidas.

Fonte: Inter Research, Cepea, USDA.

Bovina | Abate 2T22

Os dados do 2T22 da Pesquisa Trimestral do Abate de Animais, divulgados pela IBGE no início de setembro, apresentaram um total de 7,38 milhões de cabeças de gado abatidas, o que representa avanço de 5,7% t/te 3,5% a/a, sendo o segundo trimestre consecutivo de alta. Os resultados consolidam a esperada virada do ciclo da pecuária, com uma gradual melhora da oferta de animais.

Os dados foram beneficiados pelo crescimento do abate de fêmeas no período, que representaram 39,7% do total, frente a 36,6% no 2T21, com valorização de 12,8% a/a. Nesse cenário, o recuo de quase 16% no preço do bezerro desde o início ano, sendo uma faixa inferior ao 2T21, incidiu em um abate superior de fêmeas, com um aumento de 5,6% t/te 12,8% a/a de vacas e 8,1% t/te 12,7% a/a das novilhas, que passaram a ser mais requisitadas pelo mercado externo, como um produto de característica mais premium. Além disso, exportações e preços atrativos estimulam a dinâmica do setor.

Perspectivas. O movimento de intensa retenção de fêmeas que ocorre desde 2020, após um abate robusto nos anos de 2016 a 2019, que proporcionou uma contração considerável na oferta de bovinos, começa a surgir efeitos no mercado de proteínas nesse ano. As expectativas passam a ser de uma forte recuperação da oferta de animais, com gradual virada do ciclo e melhora em 2023, sendo um fator positivo, principalmente levando em conta as projeções de queda na produção de bovinos nos EUA e lenta recuperação da Austrália.

Fonte: Inter Research, IBGE.

Suína

Em setembro, o preço médio da carcaça do suíno recuou 5,1%, cotada em R$ 9,85/kg, refletindo o enfraquecimento da demanda doméstica pela proteína, o que ocasionou em uma redução de novos lotes pelos frigoríficos.

Dados da ABPA de setembro apontaram um recuo da receita de exportações em 9,2% m/m e 4,5% a/a, explicado pela contração do volume exportado. Os preços comercializados continuam fortes, com alta de 2,82% m/m e 4,3% a/a. Pontuamos que esse é período sazonal de formação de estoque de proteínas pela China, para o Ano Novo Lunar, que acontecerá em janeiro de 2023.

No 3T22 o Brasil exportou um volume médio de 104,2 mil ton, ante a 90 mil no 2T22, indicando uma recuperação das exportações que foram estimulados pela evolução do preço e pela procura por novos parceiros comerciais nas Américas e Ásia, apesar da China, predominantemente, se manter como principal cliente do Brasil. De modo geral, após a recuperação do rebanho de suínos chineses, vemos um período de adequação da demanda externa e busca por novos mercados. Contudo, os efeitos da política Covid-Zero, desaceleração da economia e inflação da China continuam no radar, com uma redução estimada pela USDA de 5,6% das importações chinesas em 2023.

Para o suinocultor, os gastos com nutrição, que representam 81,5% dos custos, tiveram uma leve alta de 0,3%, de acordo com dados da Embrapa.

No 2T22 houve um crescimento robusto de 7,2% a/a e 3,0% t/tdo total de suínos abatidos, com 14,1 milhões de cabeças, o que favoreceu a demanda interna, dado que a população se aproveitou de uma maior oferta, somado a uma redução da demanda externa, para adquirir o produto por preços mais acessíveis, consumo que representou 81,3% da produção doméstica.

EUA. Nos EUA, o outlook de setembro da USDA manteve a estimativa de queda, com 1,9% a/a da produção de proteína suína para 2022 e alta de 0,73% a/a em 23/22.

Fonte: Inter Research, Conab, USDA, CEPEA.

Açúcar & Etanol

Apesar de recuo de 3,56% da cotação média do Indicador do Açúcar Cristal da CEPEA/ESALQ em setembro, o mês foi marcado por um redução do ritmo de moagem em razão das chuvas em relevantes regiões canavieiras.

Os dados da Unica apresentaram queda de 29,7% a/a na moagem de cana da segunda quinzena de setembro da região Centro-Sul, em detrimento dos efeitos dos níveis pluviométricos elevados nas regiões de cultivo. A produção de açúcar contraiu 27,3% a/a na quinzena, enquanto no acumulado a safra de 22/23 atingiu 26,3 mm de toneladas, representando uma diminuição de quase 10% frente a safra de 21/22.

No exterior, a cotação média de setembro do açúcar VHP em Nova Iorque descolou do Brasil, com uma alta de 0,7% m/m. Os efeitos negativos das secas e clima da Europa no último verão na produção, com uma estimativa de recuo de uma colheita beterraba em 7,7%, além das singelas adversidades climáticas vistas no Brasil, ajudaram a pressionar os preços no mês. Na bolsa de Londres, o açúcar branco também avançou, com uma alta de cerca de 2,6% a/a do preço médio em setembro. Por outro lado, produção de açúcar no Brasil ante ao etanol, estimativa de melhora produtiva da Tailândia e Índia e incertezas sobre o cenário de recessão global, também se contrapuseram aos preços no período.

No caso do etanol, o mês foi marcado por uma contração robusta do preço, em reflexo à queda da cotação média do Brent em mais de 7% m/m em setembro, além dos efeitos da redução da alíquota do ICMS, o que levou a uma queda do preço médio do Indicador do Etanol Hidratado da CEPEA/ESALQ em 12,8% m/m, cotado em R$ 2,36/litro, enquanto o Anidro teve um recuo de 11,2%, com R$ 2,85/litro.

Em outubro, com alta de mais de 3% do Brent, os preços do açúcar e etanol avançam no mercado.

A demanda apresentou sinais de melhora, com dados da Unicade vendas deetanol pelas unidades produtoras apontando uma alta de 8,12% a/a em setembro na região do Centro-Sul. No acumulado da safra de 22/23, foi visto uma alta de 0,61% do volume de etanol vendido pelas unidades ante a safra anterior, de modo que o hidratado recuou 5,9%, enquanto o anidro subiu 11,6%.

Fonte: Inter Research, Cepea, Bloomberg, Conab, USDA.

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