Demanda por commodities se mantém elevada, mas riscos na oferta continuam no radar
A renovação do acordo para comercialização de grãos ucranianos na região do Mar Negro, expandindo para mais 120 dias, proporcionou um certo alívio no mercado, com cotações de alguns grãos apresentando recuo em novembro.
Em outubro, a demanda pelos grãos brasileiros continuaram em alta, em espelho, principalmente, ao mix entre as (i) incertezas do cenário dos Estados Unidos, (ii) limitações na oferta de milho na China e na União Europeia, após lavouras serem impactadas por secas e dificuldades logísticas, e por fim, a (iii) alta do petróleo.
Nos Estados Unidos, o baixo nível do rio Mississippi se manteve no radar, em decorrência do efeito negativo dos transtornos logísticos na comercialização dos grãos do país. Para o milho, o destaque ficou para as incertezas frente aos efeitos das secas nas lavouras, ritmo da colheita e estoque do grão no país. No caso da soja, o desenvolvimento da colheita e valorização do dólar no mercado externo ocasionaram uma contração da cotação do grão em Chicago.
No Brasil, apesar de efeitos do nível pluviométrico nas regiões produtoras, principalmente para semeadura da soja, as projeções para as safras se mantém positivas.
Em outubro o câmbio continua em movimento de ascendência, com uma cotação média de R$ 5,25 e avanço suave de 0,32% m/m. Nesse sentido, a valorização do dólar se torna mais um elemento negativo para cotação das commodities, considerando a perda de competitividade das exportações americanas.
Para Açúcar & Etanol, o avanço do preço médio do Brent de quase 3% em outubro e atraso da moagem, em razão das chuvas na região canavieira , proporcionou um crescimento na cotação do etanol e açúcar no mercado doméstico.
Milho
Em outubro o preço médio do indicador do Milho da ESALQ/BM&FBOVESPA avançou 0,57% no comparativo mensal, cotado em uma média de R$ 84,53/scde 60 kg, sendo o quarto mês consecutivo de alta. O mercado refletiu o avanço da demanda externa pelo grão brasileiro, com cenário adverso para oferta de milho na China e na União Europeia, após lavouras serem impactadas por secas e dificuldades logísticas. Na Bolsa de Chicago, o preço médio do milho fechou com leve alta de 0,6%, com uma cotação média de US$ 6,86 por bushel, mas valorização de 2,1% no acumulado do mês. Lá fora, a alta do petróleo, continuas preocupações frente a oferta mundial, assim como colheita e estoque de milho nos Estados Unidos, ditaram o preço no período.
Em complemento, a comercialização do milho brasileiro com a China e incertezas frente a produtividade da safra da Argentina, que sofre com geadas e estiagem, geram uma pressão extra para oferta mundial.
As exportações de milho* no Brasil, em outubro, alcançaram novos recordes para o mês, com avanço da demanda externa em cenário de riscos a oferta. A receita aumentou 437% a/a, impulsionado pelo forte incremento do volume, enquanto os preços se mantiveram robustos. A acentuada demanda externa, somado ao real desvalorizado e cenário dos EUA, favoreceram mais uma vez a atratividade das exportações.
Safra 22/23. O último levantamento da Conab, lançado em novembro, indicou um recuo de 1,9% na produção total do milho na 1ª safra de 22/23 frente à sua última estimativa, em espelho ao aumento dos custos produtivos e impactos da cigarrinha no cultivo.
EUA. A última projeção da USDA apresentou uma alta de 0,25% na produção de milho, com 13.930 mm de bushels(354 mm ton) em 22/23. As secas no cinturão do milho, com destaque para perdas do estado de Nebraska, continuam interferindo nas projeções para safra. Além disso, o baixo nível do Rio Mississippi continua no radar, com perda decompetitividade do grão estadunidense.
Soja
Em outubro o preço médio da soja em Chicago teve uma contração de 5,4% m/m, com uma cotação média de US$ 13,8 por bushel. O mercado doméstico acompanhou o externo, com queda de 1,9% no preço do Indicador da Cepea, frente ao fechamento de setembro, refletindo a baixa liquidezno mercado interno.
No Brasil, osolhares estiveram para semeadura da safra 22/23, o que levou a um maior controle da comercialização do excedente da safra 21/22. A situação adversa do Rio Mississipi beneficiou a demanda pela soja brasileira no período, visto que os contratempos logísticos dificultaram a comercialização dos grãos nos Estados Unidos. O recuo dos preços futuros também foram impactados pela valorização do dólar e avanço da colheita no país.
No Brasil, a receita das exportações em outubro totalizaram cerca de US$ 2,5 bilhões, representando um crescimento de 50% a/a, beneficiado pelos avanço de 17,4% a/a no preço comercializado e alta de 23,4% do volume.
As últimas estimativas da USDA (14/11) apresentaram uma expectativa de 4,3 bilhões de bushels(110,4 mm tons) para produção de soja, uma alta de 0,8% ante a última estimativa.
Safra 22/23. No Brasil, a última revisão da Conab para safra de 22/23 foi positiva, com uma correção de +0,78% na produção ante a última estimativa, ajustado para o montante de 153,5 mm ton. Esse crescimento decorre do aumento da área destinada para o cultivo em 4,2% a/a, bem como avanço de 17,3% da produtividade. O plantio avança, com 57,5% da área esperada já concluída, contudo, chuvas prolongadas em outubro impossibilitaram o avanço da semeadura na região Sul e Sudeste.
Aves
Em outubro, o aumento da oferta da proteína, somado a demanda ainda fragilizada, proporcionaram queda dos preços dos produtos avícolas no período, com recuo de 0,7% do frango congelado médio, cotado em R$ 8,05/kg na média do mês.
No 3T22, a queda da cotação dos grãos e elevada demanda externa, impulsionou a disponibilidade de animais para abates pelos avicultores, com avanço de 3,1% t/t e 1,0% a/a, segundo os primeiros dados da Pesquisa Trimestral do Abate de Animais do IBGE. Em outubro os custos se mantiveram elevados, contudo estáveis ante a setembro, com uma cotação de R$ 5,7/kg por frango de corte na média da região Sul. No período, segundo a Embrapa os gastos com nutrição, que representam cerca de 72% dos custos, avançaram 0,2% m/m, acompanhado de uma queda de 0,3% nas despesas com pinto de um dia, segundo maior custo dos avicultores com cerca de 14,7% do total.
No exterior, o cenário de oferta limitada, estimulado pelos efeitos da gripe aviária no Hemisfério Norte e ausência da Ucrânia, continuou beneficiando os preços, o que favoreceu as exportações e amenizou os custos para indústria. Além disso, novo surto da gripe aviária em Arkansas, um dos maiores estados produtores de frango dos EUA, e situação da Europa beneficiam as empresas brasileiras. Em outubro a receita de exportações de carne de frango avançou 15% a/a, com crescimento de 15,9% a/a do preço, no comparativo mensal o preço e volume reduziram. Para o curto prazo, o destaque fica para demanda do mercado Halal, principalmente em detrimento da Copa e maior penetração das exportadoras brasileiras nesse mercado. As projeções da Conab mostram um cenário mais favorável para 2023, com uma maior disponibilidade de animais para o mercado doméstico e aumento de 5% da produção. A USDA projetou uma alta de 3,78% da exportação de frango do Brasil em 2023, em seu relatório trimestral de oferta e demanda global.
EUA. O outlook da USDA de novembro projetou um crescimento de 2,4% da produção de broilers em 2022/21 e +1,85% 23/22, levemente superior as últimas estimativas, em reflexo a uma melhor incubação. Em outubro o preço composto do broilerrecuou pelo quarto mês seguido, com queda 2,2% m/m, enquanto os últimos dados de produção apresentaram uma contração de 5,2% m/m em setembro, mas alta de 2% a/a.
Bovina
Em outubro, o arroba do boi acompanhou o cenário de menor procura do mercado doméstico, somado a maior disponibilidade de animais para abate, o que proporcionou uma cotação média de R$ 296,74/@, representando uma redução de 2,18% m/m. Na média de novembro, o arroba já apresentou uma redução de mais de 5%, chegando na casa dos R$ 280/@. O Indicador do Bezerro apresentou uma redução de 3,5% m/m, enquanto no acumulado desde o início ano foi visto uma diluição de 17,8% (Preço dia 14/11). No mercado futuro, o preço do boi gordo exibe uma leva alta do arroba em dezembro, com R$ 302,85/@ , e R$ 307/@ em maio/23.
Para o mercado doméstico, o poder de compra da população continua limitado, no qual é visto uma fuga do consumo para proteínas como ovos, frango e suíno. O preço médio da carcaça fechou o mês com queda de 1,27% m/m, cotado em R$ 19,55/kg, contudo, com demanda enfraquecida e oferta superior, é esperado uma continua contração do preço nos próximos meses. Período sazonal de festas de final de ano, clima e Copa do Mundo favorecerem o cenário para o 4T22. Os primeiros dados da Pesquisa Trimestral do Abate de Animais do IBGE apontam um crescimento de 3,1% t/te 1,0% a/a do total de bovinos abatidos no 3T22, com gradual melhora da oferta.
Com uma demanda ainda forte da China, as exportações de proteína bovina se mantiveram robustas. De acordo com Abrafrigo, em outubro a receita apresentou um elevado avanço de 126,3% a/a, explicado, principalmente, pela suspensão das importações pela China no final de 2021, após alguns casos de vaca louca no Brasil, o que levou a uma forte contração do resultado no período. No comparativo mensal, as exportações recuaram 9,9% m/m, prejudicado pela acentuada queda de 8,5% dos preços, com renegociação dos contratos pela China e consequente redução dos preços. O mercado se atenta para demanda da China com efeitos da política zero covid e desaceleração do país. Relatório da USDA sobre oferta e demanda global projetou uma redução de 9% nas importações de proteína bovina pela China em 2023, mas é estimado que as exportações brasileiras se mantenham estáveis.
EUA: No outlookde novembro, a USDA aumentou a sua projeção de queda para produção de carne bovina em 7,3% para 2023/22, ante a 6,3%. Para o 4T22, o departamento espera resultados ainda fortes, com uma queda projetada de 0,5% t/t, ainda estáveis para o cenário, em reflexo aos efeitos das continuas secas no pasto e custos operacionais para os pecuaristas, que levou ao aumento do número fêmeas abatidas, mais prolongado do que o esperado.
Suína
Em setembro o preço médio da carcaça do suíno avançou 4,74%, cotada em R$ 10,32/kg, refletindo, de modo geral, a evolução da demanda do mercado atacadista pela proteína, em busca de formar estoques para o final do ano, enquanto a oferta de suínos com peso ideal estiveram em falta.
Dados da ABPA de outubro apresentaram um recuo da receita de exportações em 2,9% no m/m, mas alta de 8,8% no a/a, explicado pela contração do volume exportado. Os preços comercializados continuam fortes, com alta de 1,1% m/m e 9,3% a/a.
No 3T22 houve um crescimento de 4,6% a/a e 2,1% t/tdo total de suínos abatidos, com 14,4 milhões de cabeças, o que favoreceu a quantidade destinada para exportações. No total do período, o Brasil enviou para o exterior um volume médio de 105,9 mil ton, ante a 90 mil no 2T22, indicando uma recuperação das exportações que também foram estimuladas pela evolução do preço, além da procura por novos parceiros comerciais nas Américas e Ásia, apesar da China, predominantemente, se manter como principal cliente do Brasil. De modo geral, após a recuperação do rebanho de suínos chineses, vemos um período de adequação da demanda externa e busca por novos mercados. Contudo, os efeitos da política Covid-Zero, desaceleração da economia e inflação da China continuam no radar, com uma redução estimada pela USDA de 5,6% das importações chinesas em 2023.
Para o suinocultor, os gastos com nutrição, que representaram 80% dos custos, tiveram uma leve alta de 0,95%, de acordo com dados da Embrapa.
EUA: Nos EUA, o outlook de novembro da USDA manteve a estimativa de queda, com 1,9% a/a da produção de proteína suína para 2022 e alta de 0,73% a/a em 23/22.
Açúcar & Etanol
O mês de outubro foi marcado por um redução do ritmo de moagem em razão das chuvas em relevantes regiões canavieiras, somado a um avanço da procura do mercado spot, principalmente para o açúcar Icumsa 150. Nesse cenário, o Indicador do Açúcar Cristal da CEPEA/ESALQ médio do mês apresentou uma alta de 2,04% m/m. Em novembro, o preço já indica um acréscimo de 2,8% m/m.
Os dados da Unica apresentaram um crescimento de 85% a/a na moagem de cana da segunda quinzena de outubro da região Centro-Sul, dado ao resultado da safra anterior, que sofreu um encerramento precoce das unidades produtoras, após ser impactada pela estiagem no período. No entanto, o desenvolvimento da colheita segue comprometido, dado ao efeito negativo dos maiores índices pluviométricos na região. A produção de açúcar acresceu 145% a/a na quinzena, enquanto no acumulado a safra de 22/23 atingiu 30,3 mm de toneladas, representando uma diminuição de 3,1% frente a safra de 21/22.
No exterior, a cotação média de outubro do açúcar VHP em Nova Iorque teve alta de 0,6% m/m, ao passo que avançou cerca de 6% em novembro. O receio do mercado ante a renegociação e não comprimento dos contratos de exportação pela Índia, atrasos na colheita no Brasil, bem como encarecimento do petróleo, impulsionaram as cotações da commodity.
No caso do etanol, o mês foi marcado por um avanço acentuado do preço, em reflexo a alta da cotação média do Brent em 3% m/m em outubro, somado ao atraso na moagem de cana na região Centro-Sul, o que levou a uma alta do preço médio do Indicador do Etanol Hidratado da CEPEA/ESALQ em 13,3% m/m, cotado em R$ 2,68/litro, enquanto o Anidro teve um avanço de 6,4%, com R$ 3,03/litro. Em novembro, apesar de recuo de quase 3% m/m na cotação média do brent, o preço do açúcar e etanol avançam no mercado.
Em outubro, foi visto um aumento da saída de etanol das usinas, com dados da Unica de vendas de etanol pelas unidades produtoras apontando uma alta de 16,2% a/a na região do Centro-Sul. No acumulado da safra de 22/23, foi visto uma alta de 2,63% do volume de etanol vendido pelas unidades ante a safra anterior. De modo que o hidratado recuou 2,18%, enquanto o anidro subiu 14,0%.