Oferta mundial continua no radar, mas China traz novas perspectivas
Com dados de 2022 nas mãos, o mercado se voltou para o desempenho anual das commodities e o que está por vir nesse ano de 2023. Para o mês de dezembro, a atenção foi para onda de frio nos EUA, forte queda do Brent, secas na Argentina e riscos ao desempenho das safras de grãos no Brasil.
Nos EUA, projeções para safra de milho de 2022/23 continuam desafiadoras, com queda nas estimativas de produção, em reflexo a um recuo da área plantada, que segundo o último Outlook da USDA, já apresenta uma queda de 7% a/a, sendo a menor área desde a safra de 2008/09. A safra de soja também apresentou contração na estimativa para produção. A competitividade dos produtos ficam em evidência, tendo em vista os custos operacionais e prejuízos do baixo nível no rio Mississippi.
No Brasil, apesar do início da semeadura sofrer com distribuição das chuvas irregulares, temperaturas baixas no Sudeste e Sul, além de restrições hídricas no Centro-Oeste, o plantio acompanha o calendário agrícola, à caminho de uma produção recorde de 310,9 milhões estimada pela Conab para safra de 22/23.
Em dezembro, o câmbio apresentou um recuo de 0,6%, com uma cotação média de R$ 5,25. Apesar de queda, a preferência dos agricultores para exportação continuou favorecida, mas cenário doméstico se manteve prejudicado.
Para proteínas, 2022 fechou com números recordes de exportações, com destaque para receita de carne bovina e de frangos, que avançaram 41,7% e 27,4%, respectivamente, em espelho a uma maior demanda externa e preços acentuados. Para proteína suína, apesar de leve queda no comparativo anual, o seu resultado também surpreendeu as estimativas do mercado, que consideravam uma queda conforme o rebanho de suínos se recupera na China.
A USDA também lançou o relatório de Oferta e Demanda Mundial por Proteínas, com estimativas mais positivas para demanda, levando em conta a reabertura da China.
Para Açúcar & Etanol, chuvas na Tailândia, atraso na safra e redução da exportação de açúcar pela Índia, aumentaram os riscos a oferta no curto prazo, assim impulsionando novamente as cotações. Por outro lado, oetanol recuou, acompanhado de uma contração no brent.
Milho
• Em dezembro, o preço médio do indicador do Milho da ESALQ/BM&FBOVESPA avançou 1,2% m/m, cotado em uma média de R$ 86,01/scde 60 kg, sendo o sexto mês consecutivo de alta, pressionado pela forte demanda externa e interna. Em 2022, o preço da commodity recuou 3,9%, apesar de alcançar o maior patamar histórico no 1S22, com limitação da oferta mundial. Em Chicago, a cotação média foi em contramão ao Brasil, apresentando queda de 2,6% m/m do milho em dezembro, no valor US$ 6,51 por bushel, apesar de subir no final do mês. No ano, o preço médio avançou 18,9% a/a. As secas na Argentina e desempenho das safras continuam no radar, mas chuvas no final de janeiro trouxeram certo alívio para o mercado.
• As exportações de milho* no Brasil, em dezembro, alcançaram novos recordes para o mês, com avanço da demanda externa em cenário de riscos a oferta. A receita aumentou 145% a/a, impulsionado pelo forte incremento do preço comercializado e alta de 66% do volume vendido. No ano, a receita avançou 194,1%, a/a com crescimento de 113,4% a/a do volume.
Safra 22/23. O último levantamento da Conab, em dezembro, indicou novamente um recuo na produção total do milho da 1ª safra de 22/23, no valor de 2,8%, frente à última estimativa, mas com alta de 5,7% a/a. O resultado espelhou os variados efeitos climáticos no desenvolvimento do plantio em diversas regiões do Brasil, com destaque para a irregularidade das chuvas. Por outro lado, o plantio da 1º safra está quase finalizado, sobrando apenas o estado do Rio Grande do Sul e Matopiba.
EUA. A última projeção da USDA reduziu em 1,44% a estimativa para produção de milho em 22/23, com 13.730 mm de bushels(349 mm ton), em razão de queda na área plantada. O valor projetado é 9% inferior ao ano anterior, sendo 4% menor do que a média de 5 anos. A perda de competitividade, com altos custos de transporte, proporcionou uma queda de 10,5% da estimativa para exportações, frente a última expectativa. Consumo doméstico também foi revisado para baixo.
Soja
• Em dezembro o preço médio da soja em Chicago teve uma alta de 2,2% m/m, com uma cotação média de US$ 14,7 por bushel. Em 2022, o preço avançou 12,8%. O mercado doméstico seguiu a direção oposta, com queda de 2,2% m/m do preço médio do Indicador da Cepea, enquanto no ano subiu 11,1% a/a.
• Em janeiro, o governo da China reforçou a sua intenção de se tornar autossuficiente na produção de soja, em busca de reduzir a sua dependência da importação (hoje 80% do consumo). O anúncio pelo Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais (MOA) foi realizado em congruência com o gradual processo de reabertura do país, após batalha contra o COVID-19, no qual, o governo chinês informou que lançará novas políticas para incentivar ainda mais produção de soja. O último relatório de produção mundial de grãos da USDA, indicou uma produção de soja recorde pela China, com aumento da área destinada para cultivo e resultados da colheita. O desempenho é explicado por uma evolução a/a após políticas do governo, além de clima favorável.
• As secas e calor na Argentina continuam preocupando o mercado, com desaceleração do ritmo de semeadura da safra 22/23.
• No Brasil, a receita das exportações em dezembro totalizaram US$ 2,2 bilhões, representando um contração de 2,7% a/a, impactado por uma queda no volume de 24% a/a. No consolidado do ano, a receita de exportações avançou cerca de 27% a/a, favorecido pelo alta dos preços, levando em conta a queda de 2,7% do volume.
Safra 22/23. No Brasil, a última revisão da Conab para safra de 22/23 apresentou uma correção de -0,5% da produção, ante a última estimativa, em 152,7 mm ton(+21,6% a/a). A subversiva distribuição de chuvas no Rio Grande do Sul prejudicou o desenvolvimento das lavouras, porém compensado por um cenário mais amistoso para o Mato Grosso.
EUA. A última estimativa da USDA (17/01) reduziu as expectativas para produção de soja em 1,6%, com de 4,28 bilhões de bushels(108,6 mm tons), acompanhado de um recuo de 1,3% da produtividade da safra e -0,3% da área produzida, em razão dos impactos das secas no Texas, Oklahoma e Kansas. As exportações também apresentaram queda, com uma projeção 2,7% inferior a anterior, dado uma expectativa de maior oferta de soja pelo Brasil e China, que possuem preços mais competitivos que os EUA.
Aves
•Dando sequência ao movimento de queda do preço médio do frango congelado, que caminha para um novo normal, dezembro apresentou queda de 2,03%. Entretanto, no ano a commodity subiu 16,9%, com procura externa aquecida e custos elevados para os avicultores. A forte contração na oferta global após guerra entre Rússia e Ucrânia e casos de gripe aviária no Hemisfério Norte impulsionaram consideravelmente a demanda por produtos brasileiros.
•Em dezembro os custos arrefeceram 1,2% m/m, cotado em R$ 5,7/kg por frango de corte na média da região Sul. Segundo o ICPFrango/Embrapa os gastos com nutrição, que representam cerca de 72% dos custos, avançaram cerca de 1,2% m/m, enquanto as despesas com pinto de um dia e gastos operacionais apresentaram certo alívio, beneficiando o resultado final. No ano, o custo por unidade avançou 7,14%, alta de 12,5% na média anual, em espelho ao forte acréscimo de todos os custos produtivos.
•No 3T22, o recuo da cotação dos grãos e elevada demanda externa impulsionaram a disponibilidade de animais para abates pelos avicultores, com avanço de 3,1% t/t e 1,0% a/a, segundo os primeiros dados da Pesquisa Trimestral do Abate de Animais do IBGE.
•Em dezembro a receita de exportações de carne de frango avançou 9,2% a/a, com crescimento de 16,2% a/a do preço, no comparativo mensal o preço reduziu, enquanto volume avançou. No ano, a receita de exportações acresceu 27,4%, com alta de 4,6% do volume. As projeções da Conab mostram um cenário mais favorável para 2023, com uma maior disponibilidade de animais para o mercado doméstico e aumento de 5% da produção. No último relatório – “Livestock and Poultry: World Markets andTrade” – a USDA reduziu a projeção para exportação de frango no Brasil em 2023, para +2,6% ante +3,78% em sua última estimativa, com uma expectativa de menor demanda externa, com destaque para China.
EUA. O outlook da USDA de janeiro projetou um crescimento de 1,42% da produção de broilers em 2023/22, versus +1,8% a/a. Em novembro, último dado divulgado, houve desaceleração da produção pelos avicultores, com preços no varejo pouco atrativos.
Bovina
•Em dezembro, o arroba do boi subiu 3,1% m/m, fechando com uma cotação média de R$ 292,10/@, em virtude do aumento da demanda no final do ano e recuo da oferta de animais em confinamento. Na média de janeiro, porém, já há recuou de cerca de 1,78%, voltando para casa dos R$ 280/@. No ano, o preço do boi gordo apresentou uma média de R$ 318/@ (+3,85% a/a), contudo, com o aumento da oferta, o arroba recuou cerca de 14,75% desde o início do ano. O Indicador do Bezerro cedeu 1,18% m/m, enquanto no acumulado do ano houve diluição de 16,8%. No mercado futuro, o preço do boi gordo está na casa do R$ 270/@.
• Em dezembro, o arroba do boi subiu 3,1% m/m, fechando com uma cotação média de R$ 292,10/@, em virtude do aumento da demanda no final do ano e recuo da oferta de animais em confinamento. Na média de janeiro, porém, já há recuou de cerca de 1,78%, voltando para casa dos R$ 280/@. No ano, o preço do boi gordo apresentou uma média de R$ 318/@ (+3,85% a/a), contudo, com o aumento da oferta, o arroba recuou cerca de 14,75% desde o início do ano. O Indicador do Bezerro cedeu 1,18% m/m, enquanto no acumulado do ano houve diluição de 16,8%. No mercado futuro, o preço do boi gordo está na casa do R$ 270/@.
• Em dezembro a receita de exportação de proteína bovina recuou 2,6% m/m, de acordo com Abrafrigo, dada a contração de 9% do preço comercializado. No comparativo anual, os dados se mantiveram robustos, com alta de 17% a/a da receita, favorecido pelo avanço do volume. Em 2022, as exportações apresentaram um resultado recorde, com uma receita 41,7% a/a superior, em reflexo a um maior volume e preço, principalmente em detrimento do crescimento da demanda chinesa. Para 2023, o processo de reabertura da China arrefece a preocupação do mercado ante aos efeitos da desaceleração mundial. O último relatório da USDA sobre oferta e demanda global revisou projeção de produção de carne bovina na China para +3,16% a/a (vs. +5,26%) em 2023. Em reposta, com expectativa de um aumento do consumo doméstico após flexibilização das políticas contra o COVID-19, o departamento projetou uma alta de 2,2% das importações da China, frente a uma queda esperada de 9% na última expectativa, as estimativas para exportações brasileiras de crescimento de 3,5% a/a.
EUA: No outlook de janeiro, a USDA aumentou a estimativa de produção de carne bovina para 2023, fechando com uma queda de 6,6% a/a, ante a -7,5% projetado em dezembro. Em 2023, as secas e seus impactos na disponibilidade de feno continuam, tendo em vista que alimenta os custos operacionais para os pecuaristas, o que leva a um aumento do número fêmeas abatidas, mais prolongado do que o esperado.
Bovina | Abate 3T22
• Os dados do 3T22 da Pesquisa Trimestral do Abate de Animais, divulgados pela IBGE em dezembro, apresentaram um total de 7,85 milhões de cabeças de gado abatidas, o que representa avanço de 6,3% t/te 11,9% a/a, sendo o segundo trimestre consecutivo de alta. Os resultados consolidam a virada do ciclo da pecuária, com uma gradual melhora da oferta de animais.
• No trimestre, os dados foram beneficiados pelo crescimento do abate de machos (boi + novilhos), que representaram 64,8% do total, +9,0% a/a, visto o aumento da disponibilidade de animais após período de longa retenção. No caso das fêmeas, excluindo a queda sazonal no número de abate, a quantidade de novilhas abatidas no ano foi de +22,8% e +19,4% de vacas, o que totaliza um crescimento de 20,4% a/a. Nesse cenário, o recuo de quase 16% no preço do bezerro desde o início ano e avanço do número de animais para abate incidiu em uma liquidação superior de fêmeas no ano, também favorecida pela demanda do mercado externo, mais requisitadas como um produto de característica mais premium. As exportações e preços atrativos também estimulam a dinâmica do setor.
Perspectivas. O movimento de intensa retenção de fêmeas que ocorre desde 2020, após um abate robusto nos anos de 2016 a 2019, que proporcionou uma contração considerável na oferta de bovinos, começa a surtir efeitos no mercado de proteínas nesse ano. As expectativas passam a ser de uma forte recuperação da oferta, com gradual virada do ciclo e melhora em 2023, sendo um fator positivo, principalmente levando em conta as projeções de queda na produção de bovinos nos EUA e lenta recuperação da Austrália. Contudo, cenário ainda adverso no mercado doméstico e desaceleração global, com destaque para China, estremecem as percepções.
• Com aumento da demanda doméstica, que foi impulsionado pelo período sazonal de festas, o preço médio da carcaça do suíno especial avançou 5,2% m/m em dezembro, cotada em R$ 11,32/kg, acompanhando a alta de 4,55% do suíno vivo/Cepea. Em 2022, a cotação média da carcaça ficou em R$ 9,59/kg, sendo uma queda de 5,68% a/a, enquanto o suíno vivo reduziu 7,2% a/a. Em janeiro, as cotações já apresentam uma correção.
• Para o suinocultor, de acordo com o ICPSuíno/Embrapa, os gastos com nutrição, (cerca de 80% dos custos), apresentaram mais uma vez alta, +0,96% m/m, sendo acompanhado de um persistente avanço generalizado das despesas produtivas. O custo médio do suíno da região Sul avançou 0,51%, fechando +10,8% a/a, na média.
• Dados da ABPA de dezembro apresentaram uma alta da receita de exportações em 10,1% no m/m, com crescimento de 32,5% no a/a, explicado por um aumento do volume em 14,6% a/a, enquanto os preços se mantiveram robustos. Em 2022, devido a já esperada redução da demanda da China, a receita teve uma contração de 2,6% a/a, ao passo que o volume recuou 1,4% a/a. Entretanto, a média mensal das exportações no 2S22 foi recorde, surpreendendo positivamente o mercado.
• No 3T22 houve crescimento de 4,6% a/a e 2,1% t/tdo total de suínos abatidos, com 14,4 milhões de cabeças, o que favoreceu a quantidade destinada para exportações. A procura por novos parceiros comerciais nas Américas e Ásia, apesar da China, predominantemente, se manter como principal cliente do Brasil, além de preços externos ainda atrativos, estimulam a comercialização do suíno, assim suavizando os efeitos dos custos ainda elevados para os suinocultores. De modo geral, após a recuperação do rebanho de suínos chineses, vemos um período de adequação da demanda externa e busca por novos mercados. A reabertura da China se torna um bom sinalizador para demanda, com projeções da USDA de alta para importação em 2,4%, ante a estimativa anterior de queda de 5,6%.
EUA: Nos EUA, o outlookde janeiro da USDA projetou uma alta tímida de 1,8% para produção de carne suína em 2023, com uma exportação levemente superior e preços em declínio.
Açúcar & Etanol
Em dezembro, o Indicador do Açúcar Cristal da CEPEA/ESALQ médio do mês apresentou uma alta de 5,5% m/m, fechando o ano de 2022 com um avanço de médio de 7,25%. Em janeiro, o preço já indica uma queda de cerca de 3% m/m.
A moagem acumulada da safra 22/23, considerando os dados da primeira quinzena de janeiro da Unicada região Centro-Sul, apresentaram uma alta de 3,73%, com 542,09 milhões. Em resposta, a produção acumulada de açúcar já acresceu 4,43% a/a, totalizando 33,48 milhões de toneladas na safra de 22/23.
No exterior, a cotação média de dezembro do açúcar VHP em Nova Iorque teve alta de 6% m/m, ao passo que já avançou cerca de 3,21% em janeiro. No período, o mercado se atentou para riscos à oferta da commodity na Ásia no curto prazo, com chuvas na Tailândia, atraso na safra e redução da exportação de açúcar pela Índia. Por fim, em 2022, o açúcar demerara avançou 5,32% a/a, espalhando pela projeção de déficit mundial do produto na safra 21/22 pela Organização Mundial do Açúcar, assim como forte avanço do petróleo no mercado externo.
No caso do etanol, o mês foi marcado por um recuo do preço médio, com acentuada queda de 10,2% m/m do Brent no período. Nesse sentido, o preço médio do Indicador do Etanol Hidratado da CEPEA/ESALQ contraiu em 2,06% m/m, cotado em R$ 2,77/litro, enquanto o Anidro diminuiu 2,07%, com R$ 3,18/litro. No ano, a cotação média do Brent aumentou quase 40%, enquanto o etanol anidro avançou 0,59% e o hidratado recuou 0,10%, em partes sustentado pelas exportações que avançaram significativamente em abril e novembro de 2022.
Os dados da primeira quinzena de janeiro da Unica indicaram a comercialização de 903,8 milhões de litros de etanol pelas unidades produtoras na região do Centro-Sul, o que equivale a um crescimento de 1,9% a/a. Em dezembro, o possível encerramento da política de isenção de impostos para os combustíveis, estimulou as vendas e cotações no final do mês. No acumulado da safra de 22/23, o volume de etanol hidratado avançou 0,31% a/a, ao passo que o anidro acresceu 7,6% a/a.