Macroeconomia


Inter Setores | Agro Dez.22

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Manuela Granja

Publicado 03/jan

Grãos fecharam em alta em novembro, com demanda externa aquecida

A demanda externa ainda aquecida e gargalos na oferta vêm beneficiando as cotações das principais commodities agrícolas ao redor do mundo. Nos Estados Unidos, os problemas logísticos do país, com baixo nível do rio Mississippi, favoreceu mais uma vez a demanda externa em grande parte de novembro. Contudo, o fim da colheita dos grãos e melhora do cenário logístico no final do mês aliviaram a pressão nas cotações. No Brasil, o período foi pautado pela priorização dos agricultores pela comercialização com o mercado externo, assim reduzindo a disponibilidade de produtos no mercado spot, além de gaps de oferta com paralisação da rodovia que leva ao porto Paranaguá (PR).

Para oferta de grãos cereais em 2023, o relatório WASDE de novembro da USDA indicou uma contração de 5,9 milhões de toneladas, dado, principalmente, ao recuo nas projeções de produção de milho na Ucrânia, Rússia, União Europeia e Vietnã.

Oferta de grãos pela Argentina continua no radar, com secas prejudicando a semeadura de soja e disponibilidade de commodities no mercado.

No Brasil, irregularidades das chuvas e clima na região Sul prejudicaram a plantação da 1ª safra de milho, com contração da projeção da Conab para produção. Para soja, apesar de adversidades climáticas também interferirem no desempenho da semeadura do grão, as estimativas se mantiveram estáveis.

Em novembro, o câmbio apresentou alta de 0,7%, com uma cotação média de R$ 5,28, o que favoreceu a preferência dos agricultores para exportação, mas impactou a oferta de commodities no mercado doméstico.

O arroba do boi gordo teve mais um mês de queda com aumento da disponibilidade de animais no mercado, contudo, carcaça teve recuperação no mês, o que favorece as margens dos frigoríficos. O frango recuou após enfraquecimento da demanda doméstica, enquanto carne suína continua valorizada.

Para Açúcar & Etanol, a redução das exportações futuras pela Índia e efeitos das chuvas na moagem no Brasil, Índia e Tailândia favoreceram as cotações no período, apresentando mais um mês de fortes altas. O etanol se manteve elevado, com procura superior pelo tipo anidro no mês de novembro, apesar de Brent recuar no período.

Milho

Em novembro o preço médio do indicador do Milho da ESALQ/BM&FBOVESPA avançou 0,55% no comparativo mensal, cotado em uma média de R$ 84,99/scde 60 kg, sendo o quinto mês consecutivo de alta. Aqui no Brasil, os agricultores favoreceram as vendas para o exterior, reduzindo a oferta do milho no mercado spot doméstico em um cenário de demanda aquecida, o que proporcionou mais um mês de alta. Lá fora, as perspectivas mais positivas para o milho trouxeram uma queda de 2,5% m/m para o grão em Chicago, cotado em US$ 6,68 por bushel. O mercado sentiu certo alívio com novos casos de Covid-19 na China e provável diminuição da demanda chinesa, além da redução na cotação do trigo, queda da procura externa pelo grão dos Estados Unidos e fim da colheita no país.

As exportações de milho* no Brasil, em novembro, alcançaram novos recordes para o mês, com avanço da demanda externa em cenário de riscos a oferta. A receita aumentou 240,1% a/a, impulsionado pelo forte incremento do preço comercializado e volume.

Safra 22/23. O último levantamento da Conab, lançado em dezembro, indicou um recuo de 3,3% na produção total do milho na 1ª safra de 22/23 frente à sua última estimativa, em espelho aos efeitos do clima e irregularidade das chuvas no desenvolvimento do plantio. Contudo, a Conab possui perspectivas promissoras para demanda externa e interna por milho brasileiro, com alta estimada de 8,4% a/a das exportações.

Na Argentina, a semeadura do grão avança, apesar de efeitos negativos do clima seco no país.

EUA. A última projeção da USDA manteve a estimativa de 13.895 mm de bushels(353 mm ton) para produção de milho em 22/23. No entanto, foi reduzida as expectativas para exportações em 3,6%, dado ao aumento dos custos para o comércio exterior e dificuldades logísticas, com baixo nível do Rio Mississippi.

Fonte: Inter Research, Cepea, Bloomberg, Conab, USDA. *Obs: Milho SH4 1005.

Soja

Em novembro o preço médio da soja em Chicago teve uma alta de 4,4% m/m, com uma cotação média de US$ 14,4 por bushel. O mercado doméstico acompanhou o externo, com uma leve alta de 2,3% no preço do Indicador da Cepea, frente ao fechamento de outubro.

As cotações acompanharam o avanço da demanda externa, com câmbio favorável no Brasil e redução das exportações no início do mês nos Estados Unidos, em virtude do baixo nível do Rio Mississippi. No decorrer de mês, a recuperação da logística americana e fim da colheita, somado ao bloqueio na rodovia que leva o grão para o porto de Paranaguá (PR), mantiveram os preços elevados no mês.

A Argentina no final de novembro anunciou estímulo para exportações do grão e seus derivados, com o “dólar soja”, o que pode reduzir a demanda externa por farelo e óleo de soja de concorrentes. Por lá, as secas continuam no radar, com atraso da semeadura do grão.

No Brasil, a receita das exportações em novembro totalizou US$ 2,7 bilhões, representando um crescimento de 31,9% a/a, beneficiado pelos avanço de 20,4% a/a no preço comercializado e de 9,6% a/a do volume.

As últimas estimativas da USDA (13/12) mantiveram as expectativas para produção de soja em 4,3 bilhões de bushels(109,6 mm tons). A demanda doméstica e externa se manteve robusta no período.

Safra 22/23. No Brasil, a última revisão da Conab para safra de 22/23 apresentou uma leve correção de -0,04% da produção, ante a última estimativa, ajustado para o montante de 152,48 mt(+22,2% a/a). A perda da produtividade no mês anterior foi compensada pelo aumento de 4,6% a/a da área destinada para plantação de soja, principalmente na região do Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Minas Gerais.

Fonte: Inter Research, Cepea, Bloomberg, Conab, USDA.

Aves

Em movimento contrário ao fluxo sazonal, novembro foi marcado por um enfraquecimento da demanda doméstica, o que desencadeou em queda de 0,93% m/m do preço médio do frango congelado.

Os custos se mantiveram elevados, com alta marginal de 0,6% m/m, cotado em R$ 5,8/kg por frango de corte na média da região Sul. No período, segundo a Embrapa os gastos com nutrição, que representam cerca de 72% dos custos, contraíram cerca de 0,1% m/m, acompanhado de uma queda de 1,6% nas despesas com pinto de um dia, segundo maior custo dos avicultores. Entretanto, os gastos operacionais, com destaque para transporte, mão-de-obra e energia, proporcionaram o avanço desse mês.

No 3T22, o recuo da cotação dos grãos e demanda externa elevada, impulsionaram a disponibilidade de animais para abates, com avanço de 3,1% t/t e 1,0% a/a, segundo os primeiros dados da Pesquisa Trimestral do Abate de Animais do IBGE. Contudo, cenário doméstico enfraquecido e margens contraídas dos avicultores, com custos ainda elevados com grãos, ficam no radar para este ano.

Em novembro, a receita de exportações de carne de frango avançou 29,1% a/a, com crescimento de 15% a/a do preço, no comparativo mensal o preço e volume reduziram. Apesar de resultado ainda robusto, as exportações foram impactadas pelos efeitos logísticos em rodovias do Paraná e adversidades climáticas em alguns portos. As projeções da Conab mostram um cenário mais favorável para 2023, com uma maior disponibilidade de animais para o mercado doméstico e aumento de 5% da produção. A USDA projetou uma alta de 3,78% da exportação de frango do Brasil em 2023, em seu relatório trimestral de oferta e demanda global.

EUA. O outlook da USDA de novembro projetou um crescimento de 2,7% da produção de broilers em 2022/21, ajustado positivamente ao avanço de 6,2% a/a da produção em outubro. Para 2023 foi estimado uma alta de 1,8% a/a. O preço composto do broiler em novembro recuperou parte das perdas vistas nos últimos meses, com alta de 2,1% m/m, mas ainda se mantendo na casa do 120 cents/lb.

Fonte: Inter Research, Cepea, USDA.

Bovina

O arroba do boi acompanhou o cenário de maior disponibilidade de gado para abate e crescimento do número de animais em confinamento, proporcionando uma cotação média de R$ 283,35/@, redução de 4,5% m/m. Na média de dezembro, o arroba já apresenta uma recuperação de cerca de 3,3%, chegando a R$ 290/@. O Indicador do Bezerro reduziu 3,5% m/m, enquanto no acumulado do ano houve diluição de 16% (Preço dia 23/12). No mercado futuro, o preço do boi gordo se mantém estável.

Para o mercado doméstico, o poder de compra da população continua limitado, com fuga do consumo para proteínas como ovos, frango e suíno. O preço médio da carcaça fechou o mês com alta de 0,61% m/m, cotado em R$ 19,67/kg, em movimento de inversão, após três meses de contração consecutivos. Entretanto, com demanda enfraquecida e oferta superior, é esperada queda do preço nos próximos meses. Período sazonal de festas de final de ano, clima e Copa do Mundo favorecerem o cenário para dezembro, com movimento de estocagem pelos varejistas.

Houve desaceleração das exportações de proteína bovina, com recuo de 28,8% m/m da receita de exportações, de acordo com Abrafrigo, dada a contração de 25,6% do volume, assim desfazendo o ciclo de vendas acima 200 mil toneladas nesses últimos cinco meses. No anual, os dados se mantém deturpados, devido aos embargos chineses no mesmo período do ano anterior.

O mercado se atenta para demanda da China com efeitos da política zero-covid e desaceleração do país, além de efeitos da demanda doméstica ainda comprometida em cenário de aumento da oferta. Relatório da USDA sobre oferta e demanda global projetou uma redução de 9% nas importações de proteína bovina pela China em 2023, mas é estimado que as exportações brasileiras se mantenham estáveis.

EUA: No outlookde dezembro, a USDA acentuou a sua projeção de queda para produção de carne bovina em 7,5% para 2023/22, ante 7,3% em novembro. Para o 4T22, o departamento espera resultados ainda fortes, com alta projetada de 0,5% t/t,, em reflexo aos efeitos das contínuas secas no pasto e custos operacionais para os pecuaristas, mais prolongado do que o esperado e que elevou o número fêmeas abatidas.

Fonte: Inter Research, Cepea, USDA.

Bovina | Abate 3T22

Os dados do 3T22 da Pesquisa Trimestral do Abate de Animais, divulgados pela IBGE no início de dezembro, apresentaram um total de 7,85 milhões de cabeças de gado abatidas, o que representa avanço de 6,3% t/te 11,9% a/a, sendo o segundo trimestre consecutivo de alta. Os resultados consolidam a virada do ciclo da pecuária, com uma gradual melhora da oferta de animais.

No trimestre, os dados foram beneficiados pelo crescimento do abate de machos (boi + novilhos), que representaram 64,8% do total, com valorização de 9,0% a/a, visto o aumento da disponibilidade de animais após período de longa retenção. No caso das fêmeas, excluindo a queda sazonal no número de abate, a quantidade de novilhas abatidas no anual foi de +22,8% e +19,4% de vacas, o que totaliza um crescimento de 20,4% a/a. Nesse cenário, o recuo de quase 16% no preço do bezerro desde o início do ano e avanço do número de animais para abate, incidiu em uma liquidação superior de fêmeas, que ainda foi favorecida pela demanda do mercado externo, dado que passaram a ser mais requisitadas como um produto de característica mais premium. As exportações e preços atrativos também estimulam a dinâmica do setor.

Perspectivas. O movimento de intensa retenção de fêmeas que ocorre desde 2020, após um abate robusto nos anos de 2016 a 2019, que proporcionou uma contração considerável na oferta de bovinos, começa a surgir efeitos no mercado de proteínas nesse ano. As expectativas passam a ser de uma forte recuperação da oferta de animais, com gradual virada do ciclo e melhora em 2023, sendo um fator positivo, principalmente levando em conta as projeções de queda na produção de bovinos nos EUA e lenta recuperação da Austrália. Contudo, cenário ainda adverso no mercado doméstico e desaceleração global, com destaque para China, estremecem as percepções.

Fonte: Inter Research, IBGE.

Suína

O preço médio da carcaça suína especial avançou 4,22% m/m, cotada em R$ 10,76/kg, enquanto o preço do suíno vivo se manteve elevado. Em dezembro, a cotação da carcaça já avançou mais de 4%, sendo o terceiro mês consecutivo de alta. A evolução da demanda pelo mercado atacadista pela proteína impulsionou mais uma vez as cotações do suíno.

Para o suinocultor, os gastos com nutrição, que representaram cerca de 80% dos custos, apresentaram alta novamente, dessa vez com avanço de 1,32% m/m, de acordo com dados da Embrapa. A preferência dos agricultores pela venda no mercado externo, comprimiu a oferta, assim aumentando o preço do grão. A mão-de-obra também pesou consideravelmente no mês, que fechou com um acréscimo do custo total de produção na região Sul de 1,76%, e consequentemente alta de 1,2% do suíno vivo.

Dados da ABPA de novembro apresentaram um recuo da receita de exportações em 2,8% no m/m, mas alta de 35,1% no a/a, explicado pela contração do volume exportado. Os preços comercializados continuam fortes, com alta de 2,6% m/m e 14,7% a/a.

No 3T22 houve um crescimento de 4,6% a/a e 2,1% t/tdo total de suínos abatidos, com 14,4 milhões de cabeças, o que favoreceu a quantidade destinada para exportações. No total do período, o Brasil enviou para o exterior um volume médio de 105,9 mil ton, ante a 90 mil no 2T22, indicando uma recuperação das exportações que também foram estimuladas pela evolução do preço, além da procura por novos parceiros comerciais nas Américas e Ásia, apesar da China, predominantemente, se manter como principal cliente do Brasil. De modo geral, após a recuperação do rebanho suíno chinês, vemos um período de adequação da demanda externa e busca por novos mercados. Contudo, os efeitos da política Covid-Zero, desaceleração da economia e inflação da China continuam no radar, com uma redução estimada pela USDA de 5,6% das importações chinesas em 2023.

EUA: Nos EUA, o outlook de novembro da USDA divulgou uma queda superior a anterior para produção de proteína suína para 2022, com 2,2% a/, mas com alta de 1,05% a/a em 23/22.

Fonte: Inter Research, Conab, USDA, CEPEA.

Açúcar & Etanol

O mês de novembro foi marcado pelo fim do período de moagem de cana da safra 22/23 em grande parte do estado de São Paulo, no qual, com contratos já estabelecidos, foi visto uma redução da disponibilidade de açúcar no mercado spot. Nesse cenário, o Indicador do Açúcar Cristal da CEPEA/ESALQ médio do mês apresentou uma alta de 3,81% m/m. Em dezembro, o preço já indica um acréscimo de 5,7% m/m.

Os dados da Unica apresentaram um crescimento de 319% a/a na moagem de cana da segunda quinzena de novembro da região Centro-Sul, enquanto no anual já acumulou 532,9 milhões, alta de 2,06% a/a. A produção de açúcar acresceu 532% a/a na quinzena, totalizando 32,94 milhões de toneladas na safra de 22/23, representando uma alta de 2,8% frente a safra de 21/22.

No exterior, a cotação média de novembro do açúcar VHP em Nova Iorque teve alta de 6% m/m, ao passo que já avançou cerca de 3% em dezembro. O mercado espelhou a forte contração na quantidade de açúcar que será exportado pela Índia, abaixo do esperado, além dos efeitos das chuvas no processo de moagem de cana no Brasil, Índia e Tailândia. Entretanto, os preços foram segurados pela queda do petróleo na segunda metade do mês e aumento da produção na região do Centro-Sul do Brasil.

No caso do etanol, o mês foi marcado por um avanço acentuado do preço, em reflexo ao aumento da procura pelo etanol anidro e preferência dos agricultores pela produção de açúcar. Nesse sentido, o preço médio do Indicador do Etanol Hidratado da CEPEA/ESALQ avançou em 5,7% m/m, cotado em R$ 2,83/litro, enquanto o Anidro teve um crescimento de 7,15%, com R$ 3,25/litro. A cotação média do Brent teve queda de 2,23% m/m em novembro, ao passo que em dezembro já apresenta um recuo acentuado de 10,4% m/m.

Em novembro, foi visto um aumento da saída de etanol das usinas, com dados da Unica de vendas de etanol pelas unidades produtoras apontando uma alta de 17,8% a/a na região do Centro-Sul. No acumulado da safra de 22/23, foi visto uma alta de 4,30% do volume de etanol vendido pelas unidades ante a safra anterior. De modo que o hidratado recuou 2,23%, enquanto o anidro subiu 14,9%.

Fonte: Inter Research, Cepea, Bloomberg, Conab, USDA.

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