Macroeconomia


Inter Research | Global Markets – Fed Stress Test

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Gabriela Joubert

Publicado 30/jun8 min de leitura

Os bancos norte-americanos passaram no Stress Test do FED. Agora, o que esperar para o setor até o fim do ano?

Desde o início do ano, o S&P500 já avança mais de 16%, impulsionado majoritariamente pelas empresas de tecnologia inserida na nova corrida setorial atrelada à Inteligência Artificial. Quando olhamos para os demais setores da economia, contudo, ainda vemos um desempenho aquém, com destaque ao setor financeiro com o SPXBK – índice que representa os principais bancos norte-americanos – recuando quase 10% no ano. A falência do SVB no primeiro trimestre do ano e o estresse gerado no segmento financeiro trouxe a lembrança da última grande crise bancária, em 2008-2009, que levou à falência do Lehman Brothers e um efeito em cascata no setor que se alastrou por toda a economia norte-americana e nos mercados globais.

Com isso, o Banco Central norte-americano, o Fed, desenvolveu o chamado teste de estresse, o qual visa testar a qualidade da estrutura de capital dos grandes bancos em situações hipotéticas de cenário macroeconômico mais adverso.

O resultado do mais recente teste de estresse trouxe certo alívio aos papéis do setor, que avançam este mês. Mas, o como é feito este teste e o que esperar para o restante do ano?

Esta semana, com base no teste de stress mais recente, que avaliou os 23 bancos mais importantes dos Estados Unidos, o Fed concluiu que as instituições financeiras no país estariam preparadas para enfrentar uma recessão severa e continuar emprestando em um cenário deste tipo, reafirmando segundo a autarquia, um sistema financeiro sólido e resiliente.

Como foi feito o teste? O teste aplica choques a diversos fatores de risco e estima como ficariam a estrutura de capital, perdas, receitas e despesas nestas situações hipotéticas. Neste ano o teste incluiu uma recessão global severa que considerou uma queda de cerca de 40% nos preços dos imóveis e aumento substancial na vacância de escritórios. Além disso, a taxa de desemprego foi estressada para 10% com a produtividade diminuindo proporcionalmente.

Testando perdas e ganhos não-realizados. O Fed também realizou um teste sobre perdas e ganhos não-realizados nos balanços dos grandes bancos, efeitos estes que causaram a falência em alguns bancos regionais no país neste ano. No cenário do Fed, foram considerados movimentos inflacionários e ambiente de taxa crescente, contudo os resultados mostraram que as carteiras de TVMs dos maiores bancos foram resistentes ao ambiente testado.

Resultado satisfatório no agregado, mas individualmente há maior sensibilidade em diferentes tipos de bancos. Os 23 bancos testados permaneceram acima dos requisitos mínimos de capital exigidos pelo Fed, que é de 4,5%, mesmo com uma perda total de US$ 541 bilhões. O índice de capital (CET1) agregado caiu 2,3 p.p. atingindo 10,1%. Apesar do resultado agregado ser satisfatório, vale ressaltar que os resultados variaram significativamente entre os diferentes tipos de bancos testados. Bancos concentrados em hipotecas, cartão de crédito e Real Estate tiveram quedas maiores dos índices de capital após o stress.

O cenário ainda é de cautela. As receitas de Investment Banking continuam pressionadas por um mercado ainda adormecido. A atividade global de M&A (fusões e aquisições) recuou 36% a/a no 2T23, conforme dados da Reuters, totalizando US$ 1.315 bn na primeira metade do ano. Do lado do crédito, ainda vemos um cenário restrito para os bancos tanto pelo menor apetite da população, quanto pela menor inclinação dos bancos por receios de maior inadimplência. Assim, ainda devemos ver lucros mais comportados na segunda metade do ano, levando a um menor volume de remuneração aos acionistas, seja via dividendos ou programas de recompra. Do lado positivo, mercado começa a se movimentar e poderemos ver início de conversas ao longo do 2S23, levando a uma retomada em 2024.

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