O que esperar para o S&P500 com a alta dos juros
Com o cenário cada vez mais conturbado nos mercados internacionais, fica a dúvida se o S&P500 já caiu o suficiente ou se ainda existe espaço para mais queda.
Fizemos um levantamento sobre o comportamento do índice nas últimas décadas a fim de entender melhor os próximos rumos do mercado acionário norte-americano, em especial em um cenário de elevação de juros e expectativa de desaceleração econômica global. Naturalmente, em momentos de maiores incertezas, vemos migração de recursos para ativos de menor risco. Mesmo quando consideramos apenas o mercado de ações, existe também a busca por setores considerados mais defensivos e resilientes em períodos mais desafiadores. Nos últimos anos, após a crise financeira global em 2009 (crise do subprime), os mercados globais entraram em um período de bonança, com crescimento contínuo de lucros das companhias e, consequentemente, valorização das ações em geral. O gráfico abaixo mostra a evolução do S&P e do preço/lucro ao longo dos últimos anos.
Além da recuperação dos valores deteriorados pós-crise, vimos também a evolução do valor de mercado das companhias de tecnologia (Big Techs) fazendo com que a participação deste setor no índice subisse de menos de 10% no início da década de 90 para mais de 25% em 2021, ao passo que outros setores como Energia, Financeiro e Varejo foram perdendo relevância no total consolidado.
Após o pico da pandemia em 2020, o qual foi seguido do afrouxamento de políticas monetárias em todo o mundo visando conter os impactos dos lockdowns e paralizações causados pelos surtos da covid-19, vimos um mundo em forte aceleração, com demanda impulsionada pelo excesso de recursos monetários disponíveis na economia, taxas de juros negativas e, posteriormente, mercado de trabalho em recuperação. Com isso, vimos também, após o choque no primeiro trimestre de 2020, os mercados acionários mostrarem forte recuperação em “v”, retomando e ultrapassando os níveis pré-pandemia em maioria.
Além disso, os preços das commodities dispararam em virtude da demanda crescente, mas também dos choques de oferta na cadeia global de suprimentos. Consequentemente, os preços mais elevados de insumos somados a um consumo acelerado levaram a elevação generalizada de preços, tornando o controle da inflação o principal objetivo dos bancos centrais em todo o mundo a partir de 2022. Com isso, dando fim ao ciclo bullish dos últimos anos, os índices globais entraram em modo de aversão ao risco conforme os bancos centrais em todo o mundo iniciaram movimento de elevação dos juros
Setores antes beneficiados pela recente política expansionista de juros mais baixos, como as empresas de tecnologia, foram fortemente impactados pelas expectativas de custo de dívida mais alto, que se somou ao já arrefecido cenário de desaceleração da demanda global.
Desde o início do ano, o S&P500 e o Nasdaq encolheram 19% e 28%, respectivamente, caracterizando o bearish market no jargão financeiro. Focando no S&P500, principal índice de ações dos Estados Unidos (veja aqui um explicativo sobre os principais índices globais), quando olhamos os múltiplos de P/L, métrica importante de mercado, temos indicações distintas para o comportamento do índice para os próximos períodos.
É preciso observar que o S&P tem seguido o ritmo de correção dos setores mais representativos e, no momento, mais afetados pelo movimento de elevação dos juros: tecnologia, comunicação e consumo discricionário. Todos estes setores, em maior ou menor magnitude, apresentaram fortes quedas desde o início do ano até agora, devolvendo grande parte dos ganhos das últimas décadas. O setor de tecnologia saiu de um pico de 35x para 25x P/L este ano, enquanto comunicação (considere aqui as empresas de Streaming) foi de 30x para 17x P/L. Neste sentido e observando que o movimento de alta dos juros pelo FED teve início recente e deve perdurar por ainda mais algumas reuniões, devemos ver pressão no índice no curto prazo, principalmente nestes segmentos.
Considerando o impacto que os juros mais altos devem ter nos resultados das companhias e as recentes revisões para baixo nas expectativas de LPA das empresas que compõem o índice – atualmente em US$ 230 no consolidado – poderemos ver o S&P500 corrigir para cerca de 3.500 pontos até o fim do ano, uma queda de cerca de 9% - 10%, para então, pós-ciclo de aperto monetário, buscar o target esperado de 4.500 pontos no longo prazo, com base na média histórica de aproximadamente 22x e considerando um P/L corrente em 18,8x, o que implicaria uma alta de 17% ante o valor atual.