Macroeconomia


Inter Insights | O que está acontecendo com o Cobre?

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Matheus Amaral

Publicado 24/mai5 min de leitura

O Cobre tem batido recordes em 2024, o preço spot da commodity negociado na London Metal Exchange (LME) chegou US$10.398 a tonelada, maior pico desde março de 2022, quando atingiu a máxima histórica de US$10.730/t. O Cobre já subiu 23% no ano de 2024 e é uma das commodities que mais sobem junto com a Prata, Níquel e outros metais. Mas o que tem levado à alta dessas commodities no ano?

Alguns motivos levaram o cobre e outros metais a se valorizarem no ano e ganharem destaque mundialmente desde 2020, sendo o principal deles uma combinação de (i) alta demanda impulsionada pela transição energéticasendo o cobre, um dos principais condutores para veículos elétricos, painéis solares e indústria eólica e (ii) oferta limitada dado o elevado crescimento na venda de carros elétricos em 2023 (35% vs. 2022) em conjunto da expansão da implementação de energia solar e eólica representando as maiores adições em capacidade em diversos países no mundo e consequente expansão da rede elétrica, que tem a commodity como principal condutor.

Esses fatores tem impactado as projeções de oferta e demanda da commodity para o futuro e recentemente a Agência Internacional de Energia (AIE) publicou uma projeção trazendo um déficit significativo entre a oferta primária e a demanda para o cobre, com uma capacidade saindo de 81% hoje para 70% em 2040, sem considerar a oferta secundária e reuso da commodity.

Ao mapear os principais países produtores minério de cobre no mundo, o Chile se destaca como maior fornecedor da commodity, seguido pela República Democrática do Congo e o Peru em terceiro lugar na cadeira de suprimento. Vale ressaltar que o Congo possui elevada riqueza mineral, mas questões socioambientais com ondas de conflitos civis esporádicos, mesmo após o fim da guerra civil em 2003, mantém o país com um elevado potencial de desenvolvimento represado. No lado do Refino, a China é o principal produtor no mundo, seguido pelo Chile e Congo. Na lado do consumo da commodity, a China lidera a demanda, seguida pelos Estados Unidos, Japão e demais países europeus que estão engajados no pacto global de emissão zero (Net Zero Emissions), que por usa vez impulsionou a indústria de transição energética e, consequentemente, a dos veículos elétricos (EV’s). A China se destaca pela liderança na produção de EV’s, que dentre os principais componentes, o cobre é um dos mais utilizados, junto ao Níquel e ao Lítio.

A alta recente do Cobre e de outros minerais já denota o potencial crescente da demanda para o futuro impulsionado pelas políticas de transição energética. Neste cenário, quais ativos no mercado estão se beneficiando, fora a própria commodity?

Como observamos anteriormente, o Chile é o maior produtor de minério de cobre do mundo, seguido pelo Congo e Peru, ou seja, se existe alguma oportunidade para aproveitar a crescente demanda por cobre essa oportunidade pode estar por lá. Não podemos ignorar as maiores mineradoras do mundo que atuam no mercado de cobre, caso da BHP, Glencore, Anglo American, Rio Tinto e Vale, que produzem cerca de 16% da oferta global, sendo metade delas produzidas no Chile e que tem aumentado investimentos em exploração de cobre, de olho na demanda crescente com a transição energética. Mas o fato é que nem todas tem o minério de cobre como “game changer” para as receitas. A Glencore, por exemplo, é a maior produtora de cobre dentre as Top 5, mas a commodity representa apenas 9% das receitas da gigante do setor e este percentual é baixo também para a Rio Tinto e a Vale. Contudo, a BHP e a Anglo American possuem 28% e 24% das receitas vindo da commodity, respectivamente, o que pode trazer mais proximidade ao investidor para aproveitar alguma oportunidade com o Cobre. Coincidentemente, a Anglo American em sua recente reestruturação mostrou maior foco na produção de cobre, junto ao seu portfólio de minério de ferro premium e os papéis da companhia foram os que mais acompanharam o movimento do cobre no ano, a despeito de um setor ainda com performance negativa devido à queda do minério de ferro no ano.

No Brasil, as reservas de cobre não são competitivas como as de países andinos como o Chile e Peru. A Vale por exemplo, explora o cobre através de minas no Brasil e do Canadá, mas sua produção, se comparada aos demais players é a mais baixa, apenas 7% do total produzido pelas Top 5. Um case de produção do material refinado, a Paranapanema está em recuperação judicial e excluímos de nossa análise, contudo o preço da commodity ali é mais um desafio em termos de custos dado o ciclo atual.

No Chile, a cadeia produtiva do cobre - exceto pelas mineradoras estrangeiras que possuem minas na região - é dominada pelas atuação estatal, como a Codelco (Corporacion Nacional delCobre de Chile) que produz 27% do minério de cobre no país e é a maior produtora do mundo no segmento. Por outro lado, no primeiro trimestre de 2024 a companhia apresentou uma produção 10% menor que a do 1T23, e um resultado em queda refletindo atrasos, custos excessivos e acidentes de trabalho. Por outro lado, existem players privados como a Antofagasta, uma companhia privada de capital aberto chilena baseada no Reino Unido, que sobe cerca de 225% no ano. Com produção de 661 kt de minério de cobre em 2023, cerca de 13% da produção chilena a companhia tem não só acompanhado a performance do cobre mas também vem superando o desempenho do mercado.

Também observamos algumas companhias de menor porte, canadenses e listadas que também atuam na América do Sul, principalmente no Chile e Peru com produção de cobre, experimentaram expressiva valorização nos últimos 5 anos, caso das companhias canadenses Teck Resources e Capstone Copper.

Por fim, acreditamos que o cenário parece benigno para a commodity, que passa por expectativas de déficit na oferta para o futuro, com a demanda causada pela transição energética pressionando a capacidade produtiva e consequentemente preços. Acreditamos que fora a exposição via commodity, há oportunidades nas grandes companhias de mineração como a Anglo American ou a BHP mais expostas à commodity e também em companhias mais voltadas à exploração do cobre e outros minerais altamente demandados pela indústria de transição energética, como a Antofagasta ou a Capstone Copper, mas que vale um certo cuidado dado a recente valorização dessas companhias menores.

Uma boa maneira de se expor à commodity e aproveitando a diversificação é utilizando ETFscomo veículo de investimento. Listamos abaixo alguns ETFslistados aqui no Brasil e no mercado americano com foco no cobre ou em metais e mineração.

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