Macroeconomia


Inter Insights

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Matheus Amaral

Publicado 15/mai10 min de leitura

Inter Insights 012

Macro

#1 Ata do Copom e indicação do Galípolo ao BC

Insight: A ata do Copom não trouxe novidade em relação ao comunicado, que já havia sido mais duro e com pouco espaço para o início da discussão da queda de juros, o que vem reduzindo as apostas de início dos cortes na Selic até mesmo para a reunião de agosto. O Copom mantém como principal fator na decisão as expectativas desancoradas e ainda em elevação. Nem mesmo as surpresas positivas recentes, como a queda dos IGPs e o maior aperto de crédito, foram suficientes para trazer alívio no cenário de inflação do BC.

A expectativa de inflação, medida pelo Focus, segue contaminadas pelo risco fiscal, com certa razão, pois o governo continua implementando políticas de aumento de gastos e o arcabouço, apesar de afastar o risco de descontrole maior, ainda trás incertezas com relação à sua execução, e nova expansão fiscal pode manter a inflação pressionada até mesmo no cenário de Selic em 13,75% por prazo prolongado.

Próximos passos? O início do corte em agosto ainda é possível caso o arcabouço seja melhorado no Congresso e a inflação continue em tendência de desaceleração, refletindo em uma melhora nas expectativas.

A indicação do Galípolo para o BC ainda não afasta o risco de interferência do governo na política monetária e vamos aguardar as próximas reuniões e declarações para avaliar melhor o impacto nas curvas de juros, que a princípio reagiram negativamente. A principal preocupação do mercado é o BC passar a adotar uma postura mais dovish, reduzindo os juros além do limite possível, o que pode trazer riscos para futuro descontrole da inflação.

Opinião: o governo segue criticando os juros altos e buscando uma solução de curto prazo enquanto a causa do problema, a expansão fiscal, fica longe do debate. A política monetária é importante no controle da inflação, mas caso o gasto público continue expandindo, os juros altos terão pouco efeito e expectativas continuarão desancoradas.

#2 Inflação EUA | CPI registra alta de 0,4% em abril

Insight: Inflação americana avançou 0,4% em abril, na comparação com março, em linha com a expectativa. Com isso, no acumulado dos últimos 12 meses, a inflação deu sequência a sua tendência de queda, recuando para 4,9%. Dentre os componentes do índice, habitação foi o principal fator por trás da alta, mas apresentando crescimento menor do que o observado em março. O núcleo da inflação também avançou 0,4%, assim como em março, refletindo principalmente o comportamento de habitação e carros usados, que avançou 4,4% no mês. Energia apresentou alta de 0,6%, apresentando uma dicotomia entre combustíveis e utilidades. Por um lado, gasolina avançou 3% no mês e foi parcialmente compensada pela queda de 1,7% nos serviços de energia, principalmente a queda de 4,9% no gás encanado. Por fim, a medida do supernúcleo que exclui os gastos com habitação, que são muito defasados, surpreendeu positivamente e apresentou alta de apenas 0,1% no mês. Essa é a medida que o Fed mais acompanha de perto, por sem um bom termômetro do ciclo econômico. Entretanto, essa métrica ainda está acima de 5% quando anualizada. De modo geral, o resultado não apresentou muitas surpresas e serve como mais uma confirmação de que o Fed não irá mais aumentar os juros nas próximas reuniões. Isso não quer dizer que o tão aguardado pivot esteja no radar, dado o elevado patamar em que a inflação ainda se encontra, distante da meta de 2%.

#3 PPI mais fraco nos EUA e CPI também mais fraco na China

Insight: O índice de preços ao produtor registrou 0,2% em abril, abaixo da expectativa. No acumulado de 12 meses a variação segue em queda, em 3,2%. O dado mais fraco, juntamente com o número maior que o esperado do seguro-desemprego na semana, reforça a sinalização de desaceleração da economia americana e volta a derrubar os juros por lá com apostas de queda pelo Fed até em julho ganhando força. Na China, também tivemos dados de crédito abaixo do esperado e CPI também abaixo do esperado, o que indica que a demanda não cresce com a força antecipada. O cenário de atividade fraca no mundo também favorece a queda dos DIs médios e longos às vésperas da divulgação do IPCA.

#4 Emissões Mercado de Capitais Abril 2023

Insight: As emissões em abril somaram apenas R$15 bilhões, o menor volume mensal desde maio de 2020. No ano, as emissões acumulam R$82 bilhões e estão 40% abaixo do mesmo período no ano passado. Destaque para o baixo volume de debentures no mês, R$6bi, bem abaixo da média mensal de R$22bi do ano passado. O mercado de capitais ainda reflete maior aversão a risco desde o evento Americanas no começo do ano, juntamente com o impacto do elevado patamar das taxas de juros, tanto o CDI como o IPCA+. A desaceleração nas emissões é maior que a observada na concessão de crédito bancário, refletindo também o menor apetite dos fundos que ainda sofrem com os resgates.

#5 IPCA Abril

Insight: IPCA de abril ficou em 0,61%, acima da expetativa de mercado de 0,55%. A principal surpresa de alta foi no grupo alimentação, que voltou a subir 0,7% no mês. Abril também foi marcado pelo reajuste no setor de saúde que teve alta de 1,5%. A média dos núcleos também subiu para 0,5% assim como a difusão que voltou para 66%, mostrando em geral uma inflação ainda alta e persistente. A boa notícia foi a inflação de serviços ex-passagem aérea em 0,33%, mas lembrando que a inflação de serviços acumula 7% em 12 meses e deve ter ritmo mais lento de queda nos próximos meses. Sem surpresas positivas na inflação, o início do corte na Selic em agosto começa a ficar também questionável. A aprovação do arcabouço fiscal com aprimoramentos pelo Congresso pode melhorar as perspectivas de médio e longo prazo e contribuir para a re-ancoragem das expectativas, abrindo espaço para a discussão sobre o início do afrouxamento monetário. Mas no momento, a expansão fiscal vem mantendo a demanda aquecida e pressionando a inflação, dificultando o trabalho da política monetária, mesmo com o elevado grau de restrição.

Global Markets

#1 Exportadoras e China. China's shrinking imports, slower exports growth heap pressure on economy. China's imports contracted sharply in April, while exports rose at a slower pace, reinforcing signs of feeble domestic demand despite the lifting of COVID curbs and heaping pressure on an economy already struggling in the face of cooling global growth. (Reuters)

Insight: As importações chinesas tiveram queda de 7,9% a/a em abril, corroborando a visão de que o consumo interno chinês, mesmo com os estímulos governamentais, ainda não ganhou tração. Setores importantes como Construção e Indústria seguem em recuperação lenta, colocando em dúvida o ritmo de crescimento da segunda maior economia do mundo. Importações em baixa acendem mais um alerta às exportadoras, nos mais diversos setores. Dados de exportação de carne também mostraram forte recuo de 25% nos volumes exportados do Brasil para China em abril. No que tangem as exportações chinesas, o montante avançou 8,5% a/a, acima do esperado, porém ressaltamos que parte de uma base fraca referente a 2022, ano em que o país ainda lidava com sua política

restritiva de covid-zero, bem como pode estar respondendo a uma alternativa das companhias locais à demanda interna mais fraca.

#2 Resultados Disney. Aos fãs da Disney e investidores de DIS/DISB34.

Insight: Ontem a empresa divulgou seus balanços do 1T23 com números em linha com esperado, mas o desempenho nos negócios de Streaming decepcionaram, após a empresa mostrar que perdeu 4 milhões de assinantes no Disney+. A queda veio principalmente por efeito na Índia, onde a empresa perdeu licença do campeonato nacional de cricket e com isso, volume expressivo de assinantes. Mesmo assim, a operação reduziu o prejuízo do trimestre anterior, beneficiada pelos aumentos de preços anunciados em mercados importantes como Estados Unidos e Canadá. As margens também foram beneficiadas, em certo aspecto, pela redução das despesas com marketing. A companhia também anunciou plano de expansão neste canal, com a oferta de um novo APP que combina o Disney+ com a plataforma Hulu, além da continuidade do processo de reestruturação que deverá cortar US$ 5,5 bi em custos. Nos parques, as receitas subiram 23% a/a, para $2,2 bi, impulsionadas pelos parques em Shanghai, Paris e Hong Kong, conforme reabertura da China impulsionou viagens tanto no próprio país quanto globalmente. No consolidado, a companhia reportou receitas de $21,8 bi, em linha com consenso, e LPA de $ 0,93, também em linha.

Apesar do resultado, ainda vemos oportunidades interessantes de recuperação ao longo do ano, com plano de redução de custos surtindo efeitos trimestre a trimestre e a marca Disney ainda consolidada dentre seus fiéis consumidores. As receitas de parques devem apresentam evolução também no próximo trimestre com chegada do verão e no braço de streaming os desafios continuam, e fica este como ponto de atenção.

Bancos

#1 Haddad quer baixar juros do rotativo na marra (Money Times). Em um novo embate entre o governo federal e os grandes bancos brasileiros, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quer acertar com banqueiros e representantes do setor uma solução para os juros do cartão de crédito rotativo.

Insight: O risco do teto no rotativo do cartão de crédito para os bancos continua cada vez mais iminente. Os impactos de qualquer decisão sobre o teto de juros é negativo para o setor, trazendo mais impactos para bancos mais concentrados em sua carteira com no cartão de crédito.

#2 BNDES anuncia linha exclusiva para empresários de pequenos negócios (Money Times). Em reunião realiza esta semana, o presidente do BNDES, Aloizio Mercante, e o presidente do Sebrae, Décio Lima, acertaram que até julho deste ano anunciarão uma linha de crédito exclusiva destinada aos empresários de pequenos negócios.

Insight: A notícia sinaliza o efeito contracíclico dos bancos públicos em relação ao apetite de crédito frente ao cenário atual e o crescimento dos mesmos versus o setor privado, que tende a permanecer restritivo. Além disso, denota a deterioração da qualidade de crédito atual no segmento de MPMEs, que ainda segue pressionada.

#3 Emissões no mercado de capitais atingem menor nível desde maio/20. O total emitido em abril/23 foi de R$ 15 bilhões, queda de 54% a/a. No acumulado de 2023 as emissões somam R$ 82,6 bilhões uma queda de 40% vs. 4M22.

Insight: Os dados recentes da Anbima corroboram com nossa expectativa sobre o cenário para o mercado de capitais em 2023. O nível elevado de juros, maior endividamento das companhias e o recente caso da Americanas que elevaram spreads ainda minam o fluxo de emissões. Havia alguma expectativa de gradual melhora ao longo do ano, mas os dados ainda mostram um mercado ainda restritivo.

#4 Fundos de investimento registram resgates de R$ 43,2 bilhões em abril, sendo o sexto mês consecutivo com resgate líquido. A indústria reportou um resgate líquido acumulado de R$ 118 bilhões nos 4M23 versus uma captação líquida de R$ 94 bilhões nos 4M22. As maiores saídas vêm dos fundos de RF, seguido pelos fundos Multimercado e Ações.

Insight: Continuando observando as condições macro e o maior endividamento das famílias pressionando o nível de poupança e consequentemente os resgates na indústria ainda seguem pressionados. Resultados dos bancos com mercado de capitais e fundos de investimentos ainda devem continuar pressionados em 2023.

#5 Caixa Seguridade | Resultado 1T23. Resultado recorde!

Insight: De modo geral o resultado veio com forte crescimento de duplo dígito em praticamente todas as linhas de negócios. Destaque para as novas parcerias que cresceram 74% a/a em seu resultado e com sinistralidade nos negócios de risco dentro da normalidade. Vale lembrar que os novos níveis de resultados devem cada vez ser mais presentes após a reestruturação que na base comparativa ainda estava em rump up, ficando evidente a melhoria de rentabilidade após a implementação da nova estrutura.

#6 Mais de R$ 120 bilhões evaporam de fundos de crédito privado. Investidor sai assustado com volatilidade e retroalimenta alta de spread no secundário. (Valor)

Insight: Apesar da notícia ainda reverberar incertezas dos investidores em relação ao ambiente macroeconômico e a saúde financeira das companhias no momento atual de elevada taxa de juros e endividamento, o mercado pode começar a ensaiar uma recuperação a medida que o receio com o caso Americanas vai ficando para trás. Por outro lado, empresas entrando em RJ no noticiário recente não contribuem para o bom humor. Receita dos bancos tanto com emissões no mercado de capitais, quando via fundos devem continuar pressionadas no 1S23.

Utilities

#1 Light, pedido de RJ ofusca.

Insight: A empresa divulgou no dia 12/05/2023, via fato relevante, o ajuizamento do pedido de Recuperação Judicial (RJ), onde a dívida bruta da empresa atinge cerca de R$ 11 bi. Destaca-se que não se cabe RJ para distribuidoras de energia, segundo a atual legislação, onde o pedido caberia somente a holding do grupo. A Light alega dificuldades em viabilizar o pagamento de suas dívidas, fazendo então necessário o pedido de RJ. Como mencionamos em outro momento, no dia 12/04 a empresa obteve uma medida cautelar para suspensão do pagamento de suas dívidas, onde a mesma é valida por 30 dias, podendo ser prorrogada por mais 30. Tais situações tem gerado bastante discursos, incertezas e volatilidade, não só em Light, mas no setor como um todo, uma vez que se abrem diversos precedentes.

Óleo & Gás

#1 Duas faces de um mesmo dividendo

Insight: A Petrobras divulgou os números referentes ao 1T23, com os esperados fortes resultados operacionais financeiros. O destaque, em nossa opinião, foi o segmento de Exploração e Produção (E&P), com manutenção da produção e dos bons níveis de custos de extração. Embora números ligeiramente aquém, a parte de refino também foi satisfatória. Entendemos ainda que a perspectiva deve perdurar ao longo de 2023, visto o atual patamar do petróleo Brent e a evolução da produção nos campos do pré-sal. Todavia, muitas questões ainda estão presentes quanto ao futuro da empresa. Embora o anúncio do pagamento de dividendos, não se sabe se as atuais diretrizes de remuneração dos acionistas permanecerão com o novo conselho de administração, tão pouco se a atual política de preço de combustíveis perdurará, visto as recentes indagações do atual CEO Jean Paul Prates. Por fim, ainda existem outros questionamentos que devem ser esclarecidos, como a possível revisão do plano de investimentos, bem como o andamento do processo da Braskem.

Últimos Relatórios

What if?

Carta ao Mercado | Maio 23

Análise | IPCA | Abr 2023

O Mercado na Semana


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