Inter Insights 010
Macro
#1 IPCA-15 de Abril
Insights: O IPCA-15 de abril em 0,57% ficou abaixo da nossa expectativa de 0,6%, com uma queda maior na inflação de alimentos. Em 12 meses, o IPCA acumula alta de 4,1%. A principal variação no mês ainda foi da gasolina, que respondeu com + 0,17 pp do índice, devido à volta da tributação. Com a acomodação dos preços das commodities, esperamos que a inflação dos preços livres, incluindo alimentos e industriais, deva continuar baixa nos próximos meses. A média dos núcleos teve pequena alta em relação a março, de 0,36% para 0,45% e segue nos no patamar de 6% (média dos últimos 3 meses anualizada), mostrando que a desinflação ainda deve ser lenta. A inflação de serviços excluindo passagens aéreas ficou um pouco mais baixa, em 0,33%, uma boa notícia.
Apesar da variação menor que o esperado, o dado não é suficiente para alterar a expectativa para o próximo Copom de manutenção da taxa de Selic em 13,75%. Mas esperamos que no comunicado o BC já possa reconhecer o processo de queda da inflação recente, que reflete a política monetária mais restritiva, juntamente com outros sinais de desaquecimento da atividade e do crédito mais restrito. O arcabouço fiscal, apesar de ainda trazer dúvidas sobres sua execução, já indica que o crescimento dos gastos públicos deve seguir moderado e, mesmo com uma queda mais lenta da inflação, já permite ajuste no grau de restrição da política monetária. Com isso, mantemos nossa expectativa de redução da Selic a partir de agosto, chegando em 12% no final do ano.
#2 Atividade Fev/23 | Tendência de desaceleração persiste
Insights: Com todos os dados setoriais de fevereiro, temos uma visão mais clara da desaceleração da atividade. Dos três principais setores apenas serviços teve alta, de 1,1%, mas ainda longe de recuperar a queda de 3% observada em janeiro. O resultado de serviços sugere que foi efeito de uma correção parcial, especialmente quando analisamos que a principal influência do resultado foi a alta em serviços de transporte, que em janeiro haviam recuado fortemente. Apesar dessa alta, observamos a continuidade de desaceleração no setor, que vem sendo a base da atividade econômica brasileira no pós-pandemia. A produção industrial deu sequência à sua fragilidade, apresentando o terceiro resultado negativo consecutivo, fruto de uma menor produção de bens de capital. Por fim, varejo que surpreendeu positivamente em janeiro, apresentando alta de 3,8%, voltou a recuar em fevereiro, mas de maneira tímida, sendo liderado pelo varejo ampliado. Entretanto, esse desempenho melhor que o esperado do varejo ampliado não altera a perspectiva para o setor, que deve sofrer ao longo do 2º trimestre com a desaceleração no crédito, que ainda não se manifestou de forma contundente nos dados setoriais. Portanto, nossa expectativa é de desaceleração gradual da atividade nos próximos meses, refletindo as piores condições de crédito, a menor demanda e a política monetária em patamar excessivamente restritivo.
#3 IGPM de abril abaixo do esperado
Insights: O IGPM de abril variou -0,95% e ficou abaixo da expectativa de -0,7%. Em 12 meses, o índice acumula -2,17%, a menor variação da série. O IGPM negativo reflete uma queda generalizada das matérias primas, inclusive agrícolas, com a normalização das cadeias produtivas, demanda global arrefecendo e indústria mais fraca no Brasil. A inflação de bens comercializáveis, inclusive alimentos, medida pelo IPCA, deve continuar baixa nos próximos meses contribuindo para um processo de desinflação mais rápido, o que por sua vez, deve aumentar a pressão no BC para a redução dos juros.
Apesar de já haver espaço para reduzir o grau de restrição na política monetária, com a queda da inflação corrente, os comunicados do BC ainda apontam para a manutenção da taxa de juros nas próximas reuniões, com muita ênfase ainda nas expectativas de inflação, que seguem contaminadas pela incerteza do arcabouço fiscal e discussão sobre a meta. No entanto, as commodities em queda, e o reflexo no IGPM mais baixo nos últimos meses, pode já contribuir para uma mudança na visão do Copom do balanço de risco para a inflação no próximo comunicado, e preparar o terreno para o início da queda de juros no segundo semestre.
#4 Resultado Fiscal
Insights: O déficit primário consolidado ficou em R$14 bilhões em março, bem pior que o esperado, que era um superávit de R$1 bilhão. O resultado foi negativo tanto no governo central, R$9,7 bilhões, como dos governos regionais em R$4,6 bilhões. O resultado foi impactado tanto pela queda na arrecadação (-2,5%) como pelo aumento dos gastos (+1,1%) e coloca mais pressão no arcabouço fiscal, que nesse momento tem pouca credibilidade na sua execução. O superavit acumulado até março é de R$58bi, 50% abaixo do mesmo período no ano anterior. E vale lembrar que, a partir de maio, teremos o aumento dos servidores (+9%) e novo aumento do salário-mínimo (+1,4%), o que deve pressionar ainda mais o crescimento dos gastos. Chama a atenção também as despesas com juros em R$65bi, e já acumulam R$694bi em 12 meses, ou 6,9% do PIB. A dívida pública ficou praticamente estável em 73%, devido ao crescimento do PIB, mas mantemos nossa projeção de crescimento para 76% até o final do ano.
#5 Emprego Mar/23 | Taxa de desemprego sobe de 8,6% para 8,8%
Insights: A alta ficou acima da expectativa do mercado e indica continuidade da tendência de desaceleração do mercado de trabalho. O resultado foi referente ao trimestre de janeiro a março de 2023. Na comparação com o trimestre de outubro a dezembro de 2022, a taxa de desemprego aumentou 0,9 ponto percentual, e 2,4 p.p frente ao mesmo trimestre de 2022, deixando clara a tendência de desaceleração do mercado de trabalho. A mesma tendência se observa nos dados do CAGED, que em março registrou a adição de 195 mil empregos com carteira de trabalho na economia, abaixo dos 242 mil adicionados em fevereiro. Entretanto, o resultado do CAGED veio acima do esperado, mostrando que, apesar da desaceleração, o mercado de trabalho continua robusto. Convém ressaltar que o CAGED se restringe ao universo dos trabalhadores formais, enquanto a PNAD contempla todos os trabalhadores da economia, portanto, é natural haver discrepâncias entre os dados.
Global Markets
#1 COCA34/KO: Resultado 1T23. Coca-Cola gets a lift from higher prices, steady demand. (Reuters).
Insights: A Coca-Cola Co reportou números acima do esperado, tanto para receitas quanto para os lucros. A força da marca e fidelidade de seus clientes permitiu à empresa o repasse de custos logísticos e de matéria-prima ao longo do trimestre, compensando, assim, as receitas e preservando, em certo ponto, margens. Mesmo com os desafios de desaceleração da demanda por conta de um cenário de crescimento mais limitado, a empresa seguiu com sua estratégia de novos produtos e aumento de preços em praças já consolidadas, mesmo com sua maior rival, a Pepsi, tendo congelado preços para ganho de market-share. Para o restante do ano, a companhia enxerga preços de insumos arrefecendo o que pode ajudar na manutenção de margens em níveis mais altos. COCA34/KO está na carteira BDRs.
#2 PGCO34/PG: Resultado 1T23. Procter & Gamble hikes prices again with scant pushback, and boosts sales view. (Reuters).
Insights: A resiliência do segmento de consumo não-cíclico mostra sua força mais uma vez, comprovada pelos números da PG que bateram as expectativas no trimestre, com receitas beneficiadas por novos aumentos de preços sem que o volume fosse fortemente prejudicado. A companhia reportou um aumento médio de 10% nos preços das diferentes categorias de produtos nos diversos mercados de atuação, enquanto viu a queda global de volumes ser compensada pela recuperação das vendas na China, pós-reabertura. No entanto, o constante aumento de preços visando compensar a elevação dos custos pode estar chegando ao fim. Na Europa, a companhia viu volumes encolherem 7% a/a, conforme consumidores migraram para produtos de marcas mais baratas e esta entra como principal ameaça à sustentabilidade dos resultados para os próximos trimestres, no qual poderemos ver a empresa segurando um pouco o repasse de preços visando a manter seu market-share menos afetado pela perda de poder de consumo da população. No ponto positivo, os custos devem seguir a tendência de arrefecimento dos preços das commodities, em especial nos químicos, como soda cáustica, o que deve ajudar a limitar a pressão de margens ao longo do ano. PGCO34/PG está na carteira BDRs.
Bancos
#1 Santander 1T23. Resultado acima das expectativas, mas com tendências negativas. Provisões menores e tributação positiva por conta de JCP beneficiaram o resultado.
Insights: Apesar disso, vimos boa evolução no NII, que veio acima das expectativas com maior volume de crédito e com a carteira de crédito batendo a marca de R$ 500 bi. Em contrapartida, o resultado com mercado segue com desempenho negativo, dentro do esperado. Inadimplência registrou 3,5% (+10 bps t/t) avançando 20 bps na PF e com PJ estável. Apesar de bater o mercado, o resultado segue com tendências negativas. O Santander realizou um reforço de balanço que não passou pelo resultado e entendemos que as provisões devem continuar elevadas para fazer frente ao cenário ainda desafiador. Mantemos nossa recomendação como neutra com preço-alvo de R$ 29.
Papel & Celulose
#1 Suzano | Resultado 1T23 - Sazonal pressiona, mas margens seguram
Insights: Os resultados da Suzano para o 1T23 trouxeram volumes de vendas abaixo do esperado, refletindo efeito de um trimestre sazonalmente mais fraco, de fato, mas mostrando uma tendência de queda nos mercados internacionais para a celulose. Os preços da principal commodity negociada pela companhia também mostraram claros sinais de pressão, vinda principalmente da China, onde a demanda mostrou sinais de recuperação em março, mas ainda traz dúvidas para 2023. No entanto, do lado positivo, a queda nos custos dos insumos contribuiu para que a compressão nas margens não fosse tão expressiva quanto o observado nas receitas. Após um 2022 forte, devemos ver número mais acomodados em 2023 sendo afetados, por um lado, pela demanda global mais fraca, reduzindo consumo em economias desenvolvidas, em especial Europa e América do Norte, e pelo outro pelo menor apetite no mercado chinês que ainda reaqueça real ritmo de recuperação econômica. Esperamos também pressões nos preços da celulose, já observado ao longo do 1T23 e ganhando força em março. No quesito custos, poderemos ver arrefecimento nos preços dos insumos, ajudando a manter as margens em patamares saudáveis.
Dessa maneira, estamos revisitando nossos modelos para as companhias no setor e, por ora, mantemos a recomendação de Compra para SUZB3, com preço-alvo ao fim de 2023 em R$ 64/ação.
Siderurgia e Mineração
#1 Vale - Resultado 1T23
Insights: Os resultados do 1T23 da Vale vieram ainda mais fracos do que o esperado após a divulgação do relatório de Produção e Vendas na semana passada. No trimestre, além das vendas menores de ferrosos impactadas por menor produção sazonal por conta das chuvas, menores embarques por problemas nos portos e menor demanda na China, vimos também preços realizados menores da Vale na comparação anual, com queda de 23% (+14% t/t), enquanto o preço referência recuou cerca de 11% a/a (+26% t/t).
Para o restante do ano, vemos produção e vendas da companhia retomando, pós-efeitos das chuvas do 1T, o que pode beneficiar as receitas, compensando os efeitos negativos da esperada queda nos preços de minério de ferro, em nossa opinião. Ainda vemos a demanda na China por minerais ferrosos em leve contração para o ano, limitando os avanços nas receitas. Para Metais Básicos, acreditamos no potencial da operação, mas os desafios tanto internos – com estabilização da produção – quanto externos – com consolidação da demanda no mercado de baterias ainda em evolução devem empurrar o destrave de valor para um prazo mais longo.
Sendo assim, mesmo com o upside que se abriu entre nosso preço-alvo e o preço atual, mantemos a recomendação neutra, com preços-alvos de R$ 94/ação e US$18/ ADR para o fim deste ano. No entanto, para uma carteira voltada a proventos, ainda vemos a companhia como uma forte geradora de caixa, devendo seguir remunerando bem seus acionistas, mas em menor patamar que o observado nos últimos dois anos.
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