Macroeconomia


Grupo SBF | Revisão de Preço e Resultado 1T22

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Breno de Paula

Publicado 11/mai5 min de leitura

Correndo sozinho

Após os últimos resultados, atualizamos nossas premissas e preço- alvo para Grupo SBF. Incorporando as novas perspectivas para o cenário doméstico e considerando o horizonte para final de 2022 (YE22), mantemos nossa recomendação de compra em Grupo SBF (SBFG3) com preço-alvo/ ação de R$ 35 (R$ 42 anteriormente).

Nos últimos anos, antes do surto pandêmico, o mercado esportivo no Brasil demonstrava trajetória de crescimento (correspondendo cerca de 2% do PIB). Porém em 2020, o lockdown provocou o fechamento das atividades físicas indoor e dos shoppings (canal mais relevante no consumo de moda/artigos esportivos). Durante o ano mais grave da pandemia houve redução de 35% do número de clientes ativos em academias por exemplo. Pelo lado da moda, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio realizada pelo IBGE, as atividades relacionadas a tecidos, vestuário e calçados acumularam 22,7% de queda.

Já em 2021, o fluxo de pessoas e o retorno às atividades presenciais foram crescentes no decorrer dos meses. Hoje, enfim, podemos considerar uma rotina de volta à normalidade. O legado deixado pela pandemia durante esse tempo foi bem entendido pela população. Os cuidados com a saúde e qualidade de vida aumentaram e nos últimos meses uma onda de novos praticantes de diversas modalidades esportivas apareceram. Inevitavelmente, registrou-se retomada na procura de moda fitness.

O Brasil é um dos países com mais academias no mundo (nas Américas só perde para os EUA). Além disso, a predisposição do seu povo é favorável às praticas esportivas em quadras, campos, areia e pistas. Aliás, várias pesquisas apontam os brasileiros entre os mais vaidosos do mundo.

Entretanto, para esse nicho precisamos considerar os índices de inflação, junto aos níveis de emprego e renda, entre outros. Enfrentando obstáculos desde o começo da pandemia, a escalada de preços e o desemprego afetam a demanda por produtos. Nesse sentido, o consumo discricionário, caracterizado por bens “supérfluos” ou não essenciais, é afetado em diferentes magnitudes.

Dessa forma, precisamos separar nesse momento os nichos dentro do consumo discricionário, para entendermos o posicionamento das empresas em relação ao público-alvo. Dado que algumas marcas atendem um público mais afetado nos últimos anos, enquanto outras marcas são direcionadas para um público mais resiliente.

O Grupo SBF é a maior varejista de artigos esportivos no Brasil. Suas 224 lojas em 25 estados mais Distrito Federal conferem à Companhia capilaridade de vendas e distribuição.

Com um mix de produtos amplo, o Grupo consegue atender todas as faixas de preço na maioria dos artigos, dessa forma o público de renda média/alta, menos afetado na atual conjuntura, consegue ser atendido com qualidade. E, ainda assim, a oferta de marcas mais acessíveis consegue capturar o brasileiro com menor poder aquisitivo.

A moda fitness não está presente só nas academias e quadras, mas também nas ruas. A mudança na rotina das pessoas e o clima do Brasil permitem que as peças sejam utilizadas em diversas ocasiões. Ciente dessa versatilidade, o Grupo SBF adquiriu em 2020 o direito de distribuição da Nike no Brasil por dez anos. A marca é respeitada globalmente e seu público fiel não utiliza necessariamente os produtos em práticas esportivas, misturando-se também com moda.

Em nossa visão, a operação da Nike no Brasil mudou o patamar do Grupo SBF. A expertise no mercado brasileiro, a capilaridade e o know how logístico já escalam eficiência nesse primeiro um ano de negócio. A estratégia de expandir o número de lojas e aumentar o mix de produtos são muito acertadas, visto que o público de Nike é exigente e ávido pela marca.

Já Centauro vem focando em integrar a NWB, maior rede digital esportiva do país (Desimpedidos, Falcão 12, Acelerados etc), com o intuito de fidelizar o cliente “atleta amador”, reduzindo o custo de aquisição do cliente (CAC) e aumentando o LTV (lifetime value), que nada mais é que o valor que um cliente retorna para a Companhia ao longo do tempo.

Acreditamos que o Grupo SBF corre sozinho no momento. Os outros players tem hoje menor escala ou foco em públicos segmentados. O ecossistema é hoje muito forte e capaz de escalar rentabilidade nos próximos anos.

Por outro lado, uma piora nos dados macroeconômicos, para além do projetado, pode dificultar a capacidade de repasse de preços e demanda da Companhia. Além disso, o mercado embora promissor, ainda é subpenetrado. Isso quer dizer que a disputa por market share existe e outros players podem adotar estratégias de consolidação que dificultariam a trajetória do Grupo.

Resultado 1T22

A Companhia divulgou mais um excelente resultado, combinando evolução de receita com rentabilidade. Em um curto período de tempo, o Grupo SBF foi capaz de ampliar significativamente a receita através da ampliação de suas avenidas de crescimento. Ao assumir a operação da Fisia, o Grupo SBF implementou melhorias operacionais imediatas, rentabilizando melhor o negócio, que já representa parcela significativa da receita da Companhia. Em nossa visão, essa parceria ainda tem muitas sinergias para entregar. A capacidade combinada de marketing e mix de produtos, além do guidance de abertura de novas lojas da Nike têm potencial de consolidar a Companhia como maior ecossistema esportivo do Brasil.

No 1T22, a receita líquida do Grupo SBF atingiu R$ 1,34 bi (+65,4% a/a). Na Centauro, o canal digital contribuiu com R$ 1.96,1 mm (+39,9% a/a), enquanto as lojas físicas totalizaram R$ 502,4 mm (+49,1%). Já a Fisia (distribuidora oficial da Nike no Brasil) consolidou R$ 734 mm (+88% a/a), com as lojas físicas totalizando R$ 494,1 mm (+66,4% a/a) enquanto o canal digital destacou-se com R$ 240,4 mm (+156,4% a/a). O maior fluxo de pessoas esse ano, em relação a mesma base no ano passado, favoreceu as conversões em lojas. Já o aumento do mix de produtos e ações de marketing, conforme já vinhamos reforçando, demonstrou ser a estratégia acertada para o futuro do ecommerce. A margem bruta consolidada do trimestre foi de 46,1% (+2,6 p.p. a/a), em linha com a recuperação de margens nos níveis pré pandemia. Acreditamos que essa retomada é ainda mais significativa se considerarmos o crescimento da plataforma digital e de Fisia (que tem menores margens). A Companhia ainda demonstrou capacidade de integração e geração de sinergia entre os canais, alavancando as receitas consideravelmente e reduzindo custos.

O Grupo SBF também reportou R$ 434 mm de despesas operacionais no 1T22, (+37,2% a/a). O aumento das despesas de VG&A se deve às despesas variáveis atreladas ao crescimento do faturamento e da pressão inflacionária em logística e aluguéis. O EBITDA consolidado atingiu R$ 185,4 mm no 1T22 (+400,7% a/a) com margem de 13,8% (+9,2 p.p a/a). Em nossa visão contribuíram para a recuperação da eficiência do Grupo SBF: (i) a melhora da margem bruta dos canais; (ii) a alavancagem operacional causada pelo crescimento da receita e; (iii) as sinergias obtidas com a integração das operações de Fisia e Centauro.

No 1T22, a Companhia consumiu R$ 188,2 mm de caixa, impactado majoritariamente pelo consumo de capital de giro proveniente da alavancagem operacional. A situação de endividamento, medida pelo múltiplo dívida líquida/ EBTIDA UDM ficou em 0,73x no período, ressaltando a boa qualidade de solvência da Companhia.

Avanços em ESG

Não foram divulgadas iniciativas no release do 1T22.

Valuation

Em nosso modelo de Grupo SBF, utilizamos o método do fluxo de caixa descontado de dez anos, com crescimento na perpetuidade nominal de 5% e taxa de desconto (WACC) de 12,3%. Consideramos um CAGR de receita nominal de 9% entre 2022-2032.


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