Macroeconomia


GPA | Revisão de Preço e Resultado 1T22

Captura de Tela 2023-03-23 às 10.08.27

Breno de Paula

Publicado 05/mai4 min de leitura

Metamorfose ambulante

Após os últimos resultados, atualizamos nossas premissas e preço- alvo para o GPA. Incorporando as novas perspectivas para o cenário doméstico e considerando o horizonte para final de 2022 (YE22), mantemos nossa recomendação de compra para GPA (PCAR3) com preço-alvo/ação de R$ 30 (R$ 43 anteriormente).

Acreditamos que o principal componente a ser acompanhado nas empresas desse segmento é a inflação alimentar. Em níveis elevados desde a eclosão da pandemia e agravada pelos conflitos geopolíticos, a escalada de preços dos alimentos vem sendo sentida no bolso dos consumidores.

Embora de característica mais defensiva (resiliente), dado que alimentação é essencial a qualquer pessoa, os itens não são considerados inelásticos. Simplificando: um aumento de preços reduz em algum grau a quantidade adquirida.

Com isso, após sucessivos meses de inflação generalizada na economia brasileira, o consumidor precisa pensar bem onde gastar sua renda disponível. Em 2021, oito a cada dez brasileiros precisaram cortar gastos, segundo a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Entre os que realizaram cortes no orçamento familiar, 48% apontaram a diminuição do consumo de itens supérfluos de supermercado.

Além disso, outro efeito importante do aumento de preços é o chamado trade down, fenômeno que é caracterizado pela troca de marcas premium por marcas mais baratas. Nesse sentido, precisamos identificar o posicionamento das varejistas alimentares capazes de atender esse público.

O que temos observado é um aumento no fluxo de consumidores em busca do formato de atacarejo. O conceito vem caindo no gosto do brasileiro, que através do autosserviço compra em maior quantidade pagando um menor preço.

Além disso, o formato de atacarejo é o mais utilizado para o abastecimento B2B e de transformadores (lanchonetes, restaurantes, mercearias, hotéis, igrejas etc).

Após a cisão com a atacadista Assaí, GPA se tornou um pure player de varejo alimentar no Brasil. A intenção da operação, que era destravar valor para os acionistas, se mostrou acertada na ocasião.

Posteriormente, em outubro de 2021, o GPA anunciou a cessão de direitos de exploração de 71 pontos comerciais (hipermercados Extra) ao Assaí. Desde então, o grupo foca exclusivamente no formato de supermercados no Brasil.

Em cenário de transição, com o encerramento do Extra, o GPA persegue uma operação mais focada na integração da transformação digital e no processo de compra, com uma revitalização na experiência do consumidor.

Em nossa opinião, o e-commerce alimentar é uma importante avenida de crescimento para as varejistas de alimento. O foco em uma estratégia multicanal, explorando sua plataforma aberta aos sellers torna-se uma saída interessante para a Companhia se considerarmos o êxodo do consumidor para o atacarejo.

Consideramos que o público de interesse do GPA Brasil agora muda, sendo representados por indivíduos com mais renda e, consequentemente, mais tolerantes a elasticidade de preços.

A Companhia também conta com a operações fora do Brasil. O Grupo Éxito, presente em Argentina, Colômbia e Uruguai, tem ampla liderança no mercado colombiano e uruguaio. Nesse mercado, existem marcas e formatos para todos os segmentos da população.

Em nossa tese de investimentos avaliamos que, embora uma parcela grande da população seja sensível a preço, existe um nicho cada vez mais exigente e demandante de novas experiências. Esse é o público-alvo da nova operação GPA Brasil. A localização das bandeiras é privilegiada nesse aspecto, com presença em bairros nobres e aderentes ao foco da Companhia.

Embora o cenário macroeconômico nacional seja adverso, esse público de média/alta renda é o menos afetado em renda e emprego. Somado a isso, a melhora da confiança do consumidor, do contexto macroeconômico e reflexo de menores restrições a mobilidade nos países hispânicos constituem perspectivas favoráveis à tese.

Por outro lado, uma piora nos dados macroeconômicos, para além do projetado, pode dificultar a capacidade de repasse de preços, afetando a rentabilidade da Companhia. Além disso, o mercado de e-commerce alimentar, embora promissor, ainda é subpenetrado. Isso quer dizer que a disputa por market share deve ser acirrada, já que outros players também almejam essa posição de líder no mercado digital alimentar. Dessa forma, também existe o risco da rentabilidade ser comprometida, tanto quanto o de não conseguirem executar com sucesso os projetos multicanais.

Resultado 1T22

O GPA divulgou resultados mistos no 1T22. Se por um lado, o reflexo de provisões por inadimplência foi destaque negativo, o controle de despesas compensou parcialmente. A Companhia conseguiu bom repasse da inflação alimentar para os consumidores, mas a desmobilização de 60 lojas, até o momento, no formato de hipermercados (Extra) e das drogarias colocou o GPA Brasil em um novo patamar de receita e margens. O processo de mudança na operação, que inclui a transformação de lojas para o modelo G7 (mais digital), deve acontecer nos próximos meses seguindo o guidance do management. Já o Grupo Éxito teve ótima performance em receita, mas provisões com devedores duvidosos comprometeram parte da eficiência operacional. Em nossa visão, a Companhia deve entregar resultados melhores a partir do 2T22, quando espera-se o ajuste na ruptura de produtos, dada a alteração na malha logística, bem como da estratégia de investimentos no digital e last mile, capazes de prover escalada de margens e eficiência operacional.

No 1T22, a receita líquida consolidada da Companhia atingiu R$ 10,1 bi (+2,3% a/a e -8,5% vs nossas estimativas). A performance do GPA Brasil em receita líquida (pós Extra) foi de R$ 3,8 bi no período (-1,8% a/a), já as vendas em mesmas lojas (SSS) foi negativa em 0,9% em relação a mesma base do ano passado. A margem bruta do GPA Brasil alcançou 26,6% no 1T22 (-0,2 p.p. a/a), demonstrando resiliência e capacidade de repasse da inflação alimentar persistente. Já o Grupo Éxito atingiu vendas líquidas de R$ 6,1 bi (+5,0% a/a), com SSS de +20,8% no a/a. Na operação de Colômbia, Uruguai e Argentina, a margem bruta foi de 25,3% no trimestre (-0,9 p.p. a/a) justificada por itens não recorrentes. Equilibrada pela solidez da operação brasileira com efeitos transitórios na operação hispânica, a margem bruta consolidada foi de 25,9% (-0,6 p.p. a/a).

As despesas operacionais foram bem administradas após a nova estrutura administrativa da Companhia. No GPA Brasil, o aumento de SG&A (+0,6% a/a) foi aceitável, mesmo após o fechamento do formatos de hipermercados, que exigem da Companhia menos despesas com marketing e pessoal. Avaliamos dessa forma, pois o crescimento nominal das despesas foi consideravelmente inferior a inflação brasileira no período comparativo.

Já no Grupo Éxito, o crescimento das despesas com SG&A (+2,3% a/a) seguiu abaixo da evolução nas vendas, melhorando a diluição (-0,4 p.p. a/a). No entanto, embora controladas as despesas, o maior dispêndio concomitante a itens não recorrentes na margem bruta e equivalência patrimonial impactaram o EBITDA. No 1T22, o GPA Brasil apresentou margem EBITDA de 8,2% (-1,1 p.p. a/a) dada a desalavancagem operacional e queda nas vendas. Na operação hispânica, a margem EBITDA teve queda marginal parecida, totalizando 7,0% (-1,2 p.p. a/a), refletindo principalmente maior provisão para devedores duvidosos em suas joint ventures. No consolidado, a margem EBITDA foi de 6,5% foi em linha com as nossas expectativas (-1,1 p.p. a/a e +0,2 p.p. Inter Research).

A Companhia concluiu a cessão de direitos de exploração de mais de 60 pontos comerciais ao Assaí, sendo 40 no 1T22. Com isso, o lucro líquido das atividades descontinuadas foi de R$ 1,5 bi. Excluindo esse efeito haveria prejuízo líquido de R$ 111 mi no 1T22, revertendo o lucro de R$ 103 mi (-208% a/a) no mesmo período do ano passado.

Mais uma vez, a sólida posição de caixa, efeito das últimas negociações é destaque. A dívida líquida incluindo o saldo de recebíveis não antecipados alcançou R$ -4,6 bi no GPA consolidado ao final do trimestre, estável em relação ao 1T21. Dessa forma, a Companhia atinge excelente patamar de relação dívida líquida/EBITDA Ajustado em -2,1x e sólida posição de caixa com R$ 3,6 bi, também efeito das operações descontinuadas.

ESTRATÉGIA ESG: ações realizadas no trimestre. A Companhia lançou uma iniciativa a jovens estudantes que não tem condições socioeconômicas para arcar com custos de estudo. Já foram apoiados 84 alunos, aos quais 53% são mulheres e 47% negros. Além disso, o GPA tem investido em estações de reciclagem, presentes em 101 lojas. Em relação a transparência e governança, foi reconhecida com a premiação do Instituto Anti-Corruption, como Companhia comprometida com a integridade.

Sobre a empresa

Fundado em 1948, em São Paulo, o GPA é um varejista de alimentos, dono de bandeiras reconhecidas na América do Sul. No Brasil, Pão de Açúcar e Mercado Extra são as principais marcas, enquanto o Grupo Éxito (Colômbia, Uruguai e Argentina) tem forte representação na América do Sul. Recentemente o foco da Companhia segue no fortalecimento de seu marketplace através da expansão via e-commerce. A empresa pretende tornar-se um ecossistema de alimentos integrando canais digital e físico com sincronia.


Compartilhe essa notícia

Receba nossas análises por e-mail