Macroeconomia


Global Markets | Temporada de Balanços 3T23 – Bancos Parte II

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Gabriela Joubert

Publicado 18/out5 min de leitura

Temporada de Balanços começa com resultados fortes

Na última sexta-feira, os grandes bancos norte-americanos deram início à temporada de balanços do 3T23 e confirmaram as expectativas de receitas crescentes tanto com empréstimos quanto com os bancos comerciais, em razão do consumo ainda resiliente das famílias. Este desempenho foi suficiente para compensar o fraco desempenho dos bancos de investimentos, que apesar de melhorar, ainda lida com cenário monótono. Wealth Management também surpreendeu no trimestre, assim como as receitas de trading, com a grande volatilidade nos bonds, commodities e câmbio.

Vimos as provisões para perdas não-realizadas com investimentos avançarem novamente, conforme esperado, seguindo a queda dos valores dos bonds com o avanço dos juros. As tarifas vindas dos negócios de investimento mostraram leve recuperação na base trimestral, apesar dos negócios neste segmento seguirem pressionados, dado o cenário ainda restritivo de crédito e emissões, e menor inclinação das próprias empresas de adentrarem o mercado em momento de ainda grandes incertezas. Para os bancos mais expostos ao varejo e ao consumo, como JPMorgan e Wells Fargo, vimos resultados fortes, com consumo ainda resiliente e receitas de juros de empréstimos compensando a queda de receitas de outros negócios. O segmento de trading também surpreendeu e vimos receitas avançarem em praticamente todos as instituições. Os negócios de Wealth Management também seguiram como joia da coroa, com receitas avançando e pavimentando melhores desempenhos futuros.

No entanto, as falas dos dirigentes em calls com mercados trouxeram unanimemente o tom de cautela com os próximos trimestres, uma vez que o patamar restritivo dos juros pode incorrer em desafios adicionais ao consumo, ao crédito e aos negócios em geral. Como falamos em nosso relatório anterior, apesar da mensagem de cautela, temos visto os resultados dos bancos superando as expectativas trimestre a trimestre, o que coloca mais uma vez o benefício da dúvida para o setor, que segue em recuperação no ano, principalmente após a Crise Bancária de março e à despeito das ameaças sobre os bancos regionais.

Confira os comentários sobre os resultados já divulgados.

Goldman Sachs (GS/GSGI34): resultado acima do esperado, mas com ressalvas. Os números do Goldman Sachs mostraram uma queda menor que o esperado, com receitas de investimentos parcialmente compensando os writedowns referentes à venda da GreenSky, fintech de empréstimos para reformas de imóveis para pessoas físicas, além de impairment de sua unidade de Real Estate. Ambas as operações somadas tiveram um impacto negativo de US$ 864 mm nos resultados do banco. O banco participou da nova leva de IPOs no trimestre e viu suas receitas com emissões avançarem, elevando as apostas de recuperação deste segmento, mas o cenário ainda traz incertezas sobre o apetite destas empresas de adentrarem o mercado de capitais. As receitas com tarifas de Bancos de Investimentos totalizaram US$ 1,55 bi, mesmo patamar do ano passado. Do lado negativo, o segmento comercial do banco continua sofrendo. Além da venda abaixo do estimado da GreenSky (US$ 1,7 bi versus US$ 2,2 bi), a instituição também precisou fazer ajustes no seu portfólio de investimentos em ativos de Real Estate, o que pesou nas receitas de Wealth Management, que recuaram para US$ 3,23 bi, queda de 20% a/a.

Bank of America (BAC/BOAC34): crescimento em todas as frentes. O Bofa surpreendeu positivamente as expectativas de Wall Street ao reportar avanço nos lucros com maiores receitas com juros, além de um desempenho melhor que o esperado da unidade de Investment Banking e da divisão de trade. A receita do banco comercial cresceu 6% a/a, para US$ 10,5 bi, também impulsionada pelo consumo resiliente da população, que gastou 3% mais que o 3T22 com cartões de crédito e débito. Ao mesmo tempo, as unidades de investimentos e de trading superaram o esperado pelo consenso, com as tarifas de IB crescendo 1,2%, para US$ 1,2 bi, apesar do mercado ainda parado. Na parte de trading, viu-se aumento de 8% a/a nas receitas, que totalizaram US$ 4,4 bi, o maior patamar em uma década. As perdas não-realizadas com ativos registraram US$ 131,6 bi, aumentando dos US$ 106 bi do trimestre passado, enquanto as provisões somaram US$ 1,2 bi, um incremento de US$ 336 mm ante o mesmo período de 2022. O NII do banco somou US$ 14,4 bi, aumento de 4% a/a.

Morgan Stanley (MS/MSBR34): Wealth Management é destaque novamente. Contrariamente aos demais, o Morgan Stanley trouxe queda nos lucros na comparação anual, apesar de menor que esperado. O desempenho da divisão de Wealth Management foi novamente o destaque positivo dos resultados, compensando os negócios de investimentos com mercado ainda em modo de espera. Enquanto as receitas de Wealth avançaram quase 5% a/a, para US$ 6,4 bi, mesmo com base de novos ativos encolhendo de US$ 64,8 para US$ 35,7 bi, o top line de Investimentos reduziu 27% a/a, para US$ 938 mm, seguindo a retração das operações de M&As e IPOs no ano. Nas provisões, o banco reportou US$ 134 mm versus os US$ 35 mm no 3T22, impactado pela piora do ambiente para crédito imobiliário comercial (CRE).


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