Macroeconomia


Global Markets | Temporada de Balanços 3T23

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Gabriela Joubert

Publicado 13/out7 min de leitura

Temporada de Balanços começa com resultados fortes

Nesta sexta-feira, os grandes bancos norte-americanos dão início à temporada de balanços do 3T23 e as expectativas são de números beneficiados, em certo aspecto, pelos juros que tocam as máximas, impulsionando os lucros destas instituições e compensando parcialmente o ainda baixo patamar de receitas com Investimentos. Neste trimestre, o foco segue quanto aos efeitos dos juros, tanto na capacidade dos bancos de administrar seus balanços e recursos em tesouraria, bem como a aderência aos níveis de capital, além do monitoramento da habilidade dos tomadores de honrar suas dívidas.

Do lado dos balanços, provisões para perdas não-realizadas com investimentos devem avançar novamente, seguindo a queda dos valores dos bonds com o avanço dos juros. As tarifas vindas dos negócios de investimento devem apresentar leve recuperação na base trimestral, mas os negócios neste segmento continuam bastante pressionados, dado o cenário ainda restritivo de crédito e emissões, além de um apetite mais inibido dos bancos na própria concessão e renegociações. Para as instituições mais expostas ao varejo e ao consumo, como JPMorgan e Wells Fargo, os resultados destas frentes devem novamente surpreender positivamente, considerando os gastos das famílias ainda em patamar confortável e inadimplência que, apesar de no pico do ciclo atual, seguem nas mínimas históricas.

Olhando para frente, contudo, apesar do crescimento dos lucros no trimestre, a visão dos bancos é de um cenário mais desafiador com desaceleração da economia e com consumidores mais preocupados com poupança e capacidade de honrar suas dívidas, uma vez que as famílias começam a acessar suas reservas para efetuar pagamentos e manter padrão de consumo. Já para os bancos médios, a situação continua mais complicada, em especial nos write-offs de investimentos e descasamento de ativos em tesouraria, situação que levou à quebra do Silicon Valley Bank em março, além do aumento da inadimplência nas carteiras de clientes. No ramo de investimentos, a visão ainda é de cautela, apesar dos sinais de recuperação observados nos últimos meses com o sucesso na estreia de papeis de empresas como SoftBank, Arm Holdings e InstaCart nas bolsas norte-americanas.

De fato, o horizonte ainda é incerto e a mensagem de cautela das instituições repetem o mesmo teor e tom dos últimos trimestres, a despeito dos recorrentes aumento de lucros divulgados, surpreendendo os mercados positivamente a cada trimestre.

Confira os comentários sobre os resultados já divulgados.

JP Morgan (JPMC34/JPM): lucros avançam com NII recorde. O maior banco norte-americano abriu a temporada de balanços do 3T23, como de costume, e trouxe lucros de US$ 13,15 bi, 35% maior que o reportado no 3T22. Os números foram resultado do aumento da taxa de juros básica da economia e seus efeitos nos balanços da instituição, mas também da aquisição do falido First Republican Bank, em maio. NII cresceu 30%, para US$ 22,9 bi, o que levou o banco a revisar suas projeções para 2023 e esperar agora um NII de US$ 89 bi, versus os US$ 87 anteriores. Com relação às provisões, vimos redução de 10% a/a, para US$ 1,4 bi, uma vez que o banco liberou cerca de US$ 113 mm de reservas. Como esperado, as receitas com emissões de crédito e ofertas públicas sentiram os efeitos de um mercado ainda parado e reduziram 6% a/a, para US$ 1,6 bi. As incertezas quanto aos próximos passos do FED e a situação econômica no país tem dificultado as operações de mercado de capitais desde o fim do ano passado, após recorde de emissões pós-pandemia.

Citigroup (C/CTGP34): receitas com Investimentos e trade batem estimativas. Os resultados do Citibank ficaram praticamente estáveis no 3T23, com contribuição de maiores receitas com juros de empréstimos, de trade e maiores tarifas de investimentos (+34% a/a), apesar do patamar ainda abaixo do esperado no mercado de capitais. O lucro da instituição totalizou US$ 3,5 bi, beneficiados por aumento de 12% nas receitas de clientes institucionais, advindas de um salto nas tarifas de investimentos, uma reversão dos resultados ruins observados nos últimos trimestres. As receitas totais somaram US$ 20,1 bi, alta de 9% a/a, na qual também houve forte contribuição das negociações de mesa, devido à alta volatilidade de ativos de renda fixa e commodities no período. O banco segue focado em seu processo de reestruturação organizacional que deve trazer demissões de colaboradores, inclusive do alto-escalão. O Citibank aumentou a linha de provisões para créditos duvidosos de US$ 16,3 bi para US$ 17,6 bi, ao mesmo tempo em que revisou para cima seu guidance de NII para este ano para US$ 47,5 bi (de US$ 46 bi).

Wells Fargo (WFC/WFCO34): revisão de guidance com receitas de Juros. O Wells Fargo trouxe resultado acima do esperado no 3T23, com números beneficiados pelas receitas com juros, o que fez com o que banco revisasse para cima suas projeções de NII para o fim deste ano, indicando um crescimento de 16% a/a, contra expectativas de +14% anteriormente. No trimestre, o NII aumentou 8%, para U$ 13,1 bi. De qualquer maneira, seguindo o observado nos pares, o banco também viu os depósitos seguirem com a tendência baixista, recuando de US$ 1,41 trilhão para US$ 1,34 trilhão, conforme investidores veem oportunidades nos fundos de curto prazo (Money market funds), em razão do alto patamar de juros. Na linha de provisões, foram adicionados mais US$ 333 mm para possível perdas no segmento de imóveis comerciais, uma vez que os bancos em geral estão antecipando um possível estresse nos chamados Commercial Real Estate (CREs), focados em imóveis de escritórios, que em breve precisarão renegociar suas dívidas, em um momento de juros muito elevados e vacância ainda preocupante.


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