Resultados dos Big Six
Como de costume, os grandes bancos abriram a temporada de resultados nos Estados Unidos e, conforme esperado, vimos encolhimento nos lucros, no geral, resultado de maiores provisões por conta do cenário mais adverso à frente e receitas menores, em especial do braço de mercado de capitais e investimentos, conforme o apetite por novas emissões e IPO se reduziu ao longo de todo 2022. As linhas de despesas seguiram em patamar elevado e no início do ano algumas instituições, como o Goldman Sachs, anunciaram corte de pessoas para ajustes de balanços e quadro, já antecipando a desaceleração esperada para o ano.
Diferentemente da temporada passada, os resultados deste trimestre foram mais dispersos, com desempenhos análogos dentre os players. Nos destaques positivos, JP Morgan e Bank of America seguiram surpreendendo as expectativas, ao reportarem lucro acima do esperado pelo consenso. Juntou-se a ambos, o Morgan Stanley que reportou também números melhores que o esperado, revertendo o cenário do trimestre anterior, quando havia destoado dos demais, sendo o único desempenho abaixo do consenso. Wells Fargo e Citigroup trouxeram números em linha com as expectativas, enquanto o Goldman Sachs foi a decepção do grupo, com receitas e lucros bem abaixo do consenso.
A volatilidade do mercado no trimestre, contudo, operou em favor dos bancos que reportaram forte crescimento nas receitas com trade, conforme os clientes readequavam portfólios antecipando cenário de juros mais elevados com o aumento da taxa de juros no país em razão da política monetária mais restritiva do FED.
JP Morgan – (JPM/JPMC34)
O JP Morgan apresentou um resultado acima das expectativas e com receitas 17% maiores na comparação anual, que somaram US$ 35,6 bi. A receita financeira avançou 48% a/a, seguindo o aumento da taxa de juros no país, beneficiando o spread bancário. Outra surpresa positiva foi a receita de trade, que subiu 8% a/a, beneficiada pela maior volatilidade no período que impulsionou a movimentação no mercado e o reposicionamento dos portfólios dos investidores, em especial na renda fixa. No entanto, como esperado, as receitas de operações de mercados de capitais tiveram forte recuo, de cerca de 57% ante o 4T21, refletindo o menor apetite por emissões ao longo do segundo semestre do ano. As provisões somaram US$ 1,4 bi, comprometendo parte dos lucros que totalizaram US$ 10,6 bi, 15% maior que o esperado (6,4% maior a/a), levando a um LPA de US$ 3,56 versus estimativas de US$ 3,10 e acima dos US$ 3,33 vistos no 4T21.
Bank of America – (BAC/BOAC34)
Os resultados do Bank of America foram por um lado beneficiados pelas maiores receitas com juros, seguindo o cenário de juros mais altos pela política monetária restritiva incorporada pelo FED, e por outro lado limitados pelas menores receitas advindas do seu negócio de investimentos, com menor apetite do mercado por operações de crédito e IPOs. Contudo, esse recuo foi parcialmente compensado por melhor desempenho no segmento de varejo. As receitas tiveram avanço de 11% na comparação anual e vieram levemente acima das expectativas, enquanto o lucro líquido expandiu 2% a/a, vindo 7% maior que o esperado, levando a um LPA de US$ 0,85, alta de 4% a/a e 11% maior R/E.
Goldman Sachs (GS/GSGI34)
Ainda em processo de reestruturação de suas operações com maior foca no segmento de Investimentos e Trade, conforme anunciado no trimestre anterior, o banco decepcionou ao trazer números bem abaixo do esperado e desempenho anual com a maior queda dentre os pares, com lucro líquido recuando 69% a/a, o menor patamar em uma década. As receitas tiveram recuo de 16% a/a, totalizando US$ 10,5 bi (2% abaixo do consenso), impactadas pela queda de 48% a/a nas receitas no braço de investimentos e retração de 27% nas receitas do segmento alta renda e grandes fortunas. Entretanto, o que chamou atenção foram as despesas com pessoal, que avançaram mais de 15%, mesmo com recuo nas receitas. Na semana passada, o banco anunciou demissão de cerca de 3 mil funcionários, já em processo de readequação do quadro à nova realidade da companhia. As provisões também aumentaram, de US$ 344 mm para US$ 972 mm, conforme esperado. Por fim, o lucro líquido totalizou US$ 1,19 bi, (-69% a/a e 43% menor que o esperado), levando a um LPA de US$ 3,32, bem abaixo das expectativas de mercado de US$ 5,48.
Morgan Stanley (MS/MSBR34)
Revertendo os resultados decepcionantes do trimestre anterior, o Morgan Stanley superou as expectativas, com receitas impulsionadas pelo desempenho recorde do segmento alta renda, onde as receitas avançaram 6% a/a, totalizando US$ 6,6 bi. Ajudaram também a boa performance da área de trade do banco que se beneficiou da maior volatilidade do período, enquanto clientes reajustavam portfólios antecipando cenário mais adverso para os próximos trimestres, e que subiu 26% a/a, para US$ 3,02 bi. Além disso, o banco também reportou avanço importante nas receitas com juros e empréstimos concedidos, o que acabou mais que compensando o recuo de 49% a/a nas receitas de mercado de capitais, com o menor apetite do mercado para novas emissões. As provisões tiveram importante salto, contudo, saindo de US$ 5 mm para US$ 85 mm neste trimestre. Por fim, o lucro líquido do banco totalizou US$ 2,1 bi, 41% menor a/a e 3% abaixo das expectativas, enquanto o LPA ficou 37% menor a/a, em US$ 1,26, mas 6% acima do consenso.
Citigroup (C/CTGP34)
O Citigroup trouxe resultados mistos no trimestre, com receitas em linha com o esperado, mas recuo nos lucros, impactado pelas maiores provisões no período. As receitas de IB tiveram retração de 58% a/a, enquanto no segmento de trade o banco viu a performance avançar 6% a/a, também beneficiado pelo momento de alta volatilidade do mercado. O Citigroup segue com processo de reestruturação dos seus ativos internacionais, como a decisão de vender o Banamex, banco de varejo mexicano, visando melhorar lucratividade e equiparar-se ao valuation de seus pares. As receitas totalizaram US$ 18,0 bi, 6% maior a/a e 1% acima das estimativas do mercado. Com provisões aumentando US$ 640 mm, o lucro líquido encerrou em US$ 2,15 bi, 27% menor que o 4T21 e 2% abaixo do esperado. Assim, o LPA totalizou US$ 1,10, queda de 25% a/a e 4% menor que as expectativas.
Wells Fargo (WFC/WFCO34)
Os resultados do Wells Fargo tiveram comportamento misto no trimestre, com lucros recuando mais de 40% a/a, refletindo o forte impacto de US$ 3 bi, já esperado, referente ao processo em pauta nos últimos seis anos sobre o escândalo com contas falsas. Além disso, pesou também as provisões de US$ 957 mm em razão das expectativas macroeconômicas menos favoráveis para os próximos trimestres. As receitas somaram US$ 19,7 bi, queda de 6% a/a e 2% menores que o esperado pelo mercado. No bottom-line, o banco reportou recuo de 53%, ficando em US$ 2,3 bi, levando a um LPA de US$ 0,61, 51% abaixo do 4T21 e 8% menor que as estimativas. O banco deve seguir focado na regularização do processo de contas falsas, além de direcionar esforços para retomar o segmento imobiliário, importante braço de negócios do banco, além de expandir a sua unidade de investimentos.