O que esperar da temporada de balanços nos Estados Unidos?
A temporada de balanços do 2T23 teve início na última sexta-feira (14) com a divulgação dos resultados dos grandes bancos varejistas, como JP Morgan e Wells Fargo, seguido do Citigroup, os quais surpreenderam as expectativas, com lucros muito acima do esperado (veja aqui relatório sobre estes resultados). No entanto, a mensagem passada ao mercado foi clara: os bancos já veem sinais de desaceleração na economia norte-americana e a inadimplência preocupa. Com isso, apesar dos papéis abrirem o pregão em alta, o desempenho perdeu força e as ações encerraram o dia em queda. Como os resultados dos bancos servem como uma proxy do que esperar para a economia, em especial JP Morgan e Wells Fargo, em razão de sua capilaridade e presença tanto no varejo como no corporativo, a leitura que Wall Street fez destes comentários foi de desafios adicionais pela frente.
No geral, o consenso apontava para uma expectativa de recuo de 6,4% nos lucros das empresas quando comparado com o mesmo período do ano passado, apesar de vermos estabilidade nas projeções de receitas. Os custos, tanto de insumos quanto de pessoal, e juros mais elevados seguem pressionando as margens das empresas, mesmo com uma demanda ainda se mostrando bastante resiliente.
Na última semana, entretanto, vimos deterioração destas expectativas, com mercado agora esperando queda de 8,1% nos lucros corporativos, com destaque negativo para o setor de Energia e Materiais, sofrendo os impactos de preços mais deteriorados das commodities, além de cenário mais incerto com China e uma base forte de 2022. Do lado positivo, devemos ver os lucros do setor de consumo discricionário avançar 28,5% a/a, refletindo uma base mais fraca em 2022, e a melhora observada no período dos índices inflacionários. Outro setor que começa a ganhar tração é a indústria, beneficiada duplamente pelo cenário de fim do ciclo de alta nos juros norte-americanos e com a normalização da cadeia de suprimentos global.
Já para as Big Techs, ou como foram apelidadas mais recentemente, as “Sete Magníficas”, as expectativas vão além dos números. Depois de subirem entre 40% e 200% no ano e impulsionarem o S&P para um desempenho acumulado de jan-junho de mais de 18%, os investidores vão buscar números que justifiquem a valorização destes papéis. No destaque de alta, as ações da Nvidia, fabricante de microchips, subiram mais de 200% no ano, com a expectativa de maior demanda por conta do avanço na área de inteligência artificial. Outra empresa na qual os investidores têm apostado, a Microsoft também deverá ser acompanhada de perto, com mercado ansioso pelos impactos da compra do ChatGPT no balanço da companhia. Os resultados destas empresas poderão consolidar, ou não, o bull market que estamos vendo na bolsa norte-americana. Em razão do peso destes ativos nos índices, o desempenho geral do mercado tem ficado aquém da valorização consolidada do setor de tecnologia, distorcendo os números observados até agora. Ex-Tech, o S&P teria apresentado um comportamento estável desde o início do ano. Se os números reportados vierem abaixo do esperado, frustrando as expectativas, em especial da aplicabilidade e lucratividade potencial dos negócios que envolvem a mais recente trend do setor, inteligência artificial, poderemos ver uma correção nestes ativos, pesando também nos índices.
Com relação às nossas projeções do S&P500, na análise de sensibilidade chegamos a 4.500 para o S&P 500 ao final de 2023 em um cenário mais bullish, com a inflação apresentando bons resultados aos “remédios” implementados pelo FED junto ao arrefecimento das despesas financeiras nos resultados das companhias presente no índice. Já́ na visão mais pessimista, poderíamos ver o S&P 500 em 3.800 pontos, no caso de uma forte correção dos papéis de tecnologia (maiores contribuidores do bull market até agora), além de possível falha do FED em realizar um soft landing, seguindo com a persistência inflacionária concomitante a elevação nas taxas de juros que poderia levar à tão anunciada recessão.