A Renda Fixa norte-americana e os investimentos via ETFs
Os investimentos em ETFs de Bonds (ou Renda Fixa) replicam índices relacionados ao mercado do tesouro norte-americano ou títulos de renda fixa corporativo. A opção via ETFs traz a possibilidade de investir em fundos de renda fixa com baixa taxa de administração, em razão da ausência de gestão ativa para superar um benchmark, uma vez que estes fundos apenas replicam a cesta do índice em questão. Por esta razão, o produto vem ganhando grande representatividade nos portfólios de investimentos desde que foram criados. Além disso, permite a possiblidade de diversificação, já que o investidor pode alocar seus recursos em um número maior de ativos ao mesmo tempo, além de permitir também o investimento em diferentes teses, com concentração em algum segmento específico, por exemplo.
Entretanto, quando comparada à Renda Fixa brasileira é importante ressaltar que no exterior a volatilidade destes papéis acaba sendo maior em razão de i) marcação a mercado destes ativos, o que faz com que seus preços sejam atualizados diariamente de acordo com as dinâmicas do mercado, ii) condições macroeconômicas e iii) oferta e demanda do produto. Sendo assim, apesar de levar no Brasil o nome “renda fixa”, a nomenclatura acaba confundindo aqueles que esperam uma rentabilidade sem grande volatilidade. Na verdade, o termo “renda fixa” se encaixa melhor na previsibilidade dos proventos pagos aos investidores que são definidos no momento da concepção do título, sendo conhecidos previamente tanto o valor pago periodicamente quanto o valor final no momento do resgate, salvo exceções. Com isso em mente, fica mais fácil entender que, apesar do retorno final previamente conhecido, o valor destes títulos irá oscilar ao longo do tempo, especialmente em momentos conturbados como os vividos atualmente, com inflação em alta e política monetária mais restritiva do FED e pode resultar em possível recessão na maior economia do mundo.
Nos últimos dois anos, o cenário de elevação dos juros norte-americanos pesou nos títulos de renda fixa tanto governamentais quanto corporativos, em especial os de mais longo prazo (maior duration), uma vez que títulos de curto-prazo passaram a remunerar muito mais com risco muito menor. ETFs como o TLT (iShares 20+ Year Treasury Bond ETF), que replica uma cesta fictícia de bonds norte-americanos de longo prazo (+20 anos) acumulam perdas de mais de 30% em dois anos, ao passo que ETFs de bonds de curtíssimo prazo, como SGOV (iShares 0-3 Month Treasury Bond ETF) ou BIL (SPDR® Bloomberg 1-3 Month T-Bill ETF) acumulam alta de mais de 4% no mesmo período (3% em 2023), rendimento bastante significativo para um baixo risco.
Essa dinâmica é bem ilustrada no gráfico abaixo. Nele, vemos que quando a política monetária se torna mais restritiva, ou seja, a taxa de juros aumenta, temos uma desvalorização dos títulos e, por consequência, dos ETFs associados a eles. Isso ocorre porque à medida que a taxa de juros aumenta, os títulos existentes, emitidos à uma taxa de juros menor, se tornam menos atraentes, portanto, o investidor irá exigir um prêmio adicional para reter esse título antigo. Esse prêmio se dá na forma de uma diminuição do preço unitário do título, fazendo com que em sua maturação, o retorno do título existente, hoje, seja igual ao do novo título a ser emitido hoje. Essa dinâmica é mais relevante nos títulos longos, ou de duration longa, pois o investidor exige um prêmio maior dado que o custo de oportunidade de reter esse título também é maior. Entretanto, é uma faca de dois gumes. Quando estamos no cenário oposto, em que o banco central está prestes a iniciar o ciclo de cortes nas taxas de juros, os títulos se valorizam, em especial os mais longos.
As incertezas quanto ao futuro da política monetária adotada pelo FED, a possibilidade de recessão e a restrição de crédito, além do recente rebaixamento do rating dos Estados Unidos ainda devem seguir trazendo volatilidade aos ativos de renda fixa no país, inclusive aos corporativos. No entanto, dados recentes mostram que o ciclo de alta dos juros no país pode estar terminando, conforme tendência de desaceleração das pressões inflacionárias e resiliência da economia norte-americana. Somado a isso, comparado com demais ativos, em especial ativos de renda variável como as ações, o risco ainda assim é menor, já que o retorno pré-acordado é garantido pelo emissor no vencimento, no caso das Treasuries, o maior risco fica por conta da probabilidade de default do governo norte-americano, enquanto nos títulos corporativos, a garantia é dada pelas empresas.
Em 2023, vemos que os ETFs de duration mais curta têm mantido a tendência de alta dos últimos 12 meses, contrapondo a trajetória de alta dos juros norte- americanos. Observamos também a recuperação dos títulos de maior duration, conforme mercado começa a se posicionar para um cenário de fim de ciclo de alta nos juros nos Estados Unidos.
Hoje contamos com duas carteiras recomendadas de ETFs. A Índices Globais, direcionada para investimentos nos mercados globais, trazendo oportunidades para uma alocação estratégica àqueles que buscam diversificação por meio dos principais índices disponíveis no exterior, e a Global Macro, para investidores que buscam diversificação em relação aos seus investimentos internacionais tradicionais. Com foco na macroeconomia internacional, essa carteira é desenhada para operar ciclos macroeconômicos ao redor do mundo, em linha com o cenário macro vislumbrado pelo time de Macro Research do Inter.
Em nossa carteira recomendada ETFs Índices Globais de agosto, optamos por um mix entre ETFs de renda fixa governamental e corporativa, além de índices com diferentes durations visando os benefícios da diversificação, além da melhor adequabilidade para cada cliente. Já na carteira recomendada ETFs Global Macro, a alocação de agosto conta com 70% de exposição à Renda Fixa com 40% em títulos curtos e 30% em longos.