Inflação e a inércia dos BCs
Apesar da recuperação para o índice local na semana passada, no exterior o cerne das discussões gira em torno de inflação, elevação de juros e desaceleração no PIB Global. Dados da China decepcionam mais uma vez, vindo abaixo das já pessimistas projeções pelos efeitos do lockdown. Na Europa, Bancos Centrais assumem que talvez tenham demorado para agir e nos Estados Unidos, após inflação acima do esperado, receio de uma recessão aumenta entre especialistas. Esses e outros temas estão no nosso Global Markets desta semana. Confira!
Com olhos voltados para dados de inflação nos Estados Unidos na semana passada, mercados tiveram dias de grande volatilidade, iniciando a semana em alta, com recuperação expressiva das empresas de growth, em especial as Techs, para então ceder com CPI acima das expectativas inserindo ainda mais pressão nos ativos. Entretanto, a fala do presidente do FED, Jerome Powell, reafirmando o ritmo de aperto monetário com alta prevista de 0,5 p.p. na próxima reunião ajudou a acalmar os ânimos, trazendo alívio momentâneo às bolsas, fazendo com que a queda semanal diminuísse, mas ainda fechando no vermelho. Ao mesmo tempo, vimos as ações do Twitter nos holofotes novamente, após Elon Musk colocar a compra da empresa em modo de espera, questionando a veracidade das informações sobre contas falsas na plataforma. Esta semana, a apreensão quanto à expectativa de menor crescimento global, tanto com dados de China quanto revisões na Europa, colocam nova pressão baixista nos mercados e o sentimento de cautela contamina inclusive Bancos Centrais, que discutem próximos passos de suas políticas monetárias contracionistas. Com isso, empresas de growth seguem comprimidas, enquanto ações de energia, geralmente mais defensivas, seguram os índices, juntamente com consumo não-cíclico e algumas ações do setor de saúde, com farmacêuticas em destaque.
Américas
A inflação divulgada para os Estados Unidos em abril superou a projeção mediana do mercado e trouxe um quadro qualitativo pessimista. Por um lado, a leitura de 0,3% desacelerou ante março, quando a guerra na Ucrânia teve forte efeito sobre os preços das commodities. Por outro, o núcleo de inflação acelerou para 0,6%, acima da expectativa de 0,4%. A análise por grupos mostra contribuições de -0,22 p.p. e de +0,12 p.p. dos preços de energia e alimentos, respectivamente. A inflação de bens teve contribuição marginal de apenas +0,04 p.p., com quedas de veículos usados e vestuário compensando a elevação de veículos novos. Por fim, os serviços tiveram impacto de 0,41 p.p. no dado agregado, com forte alta de itens ligados ao transporte, mas também do aluguel residencial e de serviços de saúde. A inflação do núcleo de serviços acumula alta anualizada de 6,5% nos três meses terminados em abril, bem acima da meta de 2,0%, e possui inércia historicamente elevada, o que prescreve a continuidade do movimento de contração monetária pelo FED nos próximos meses.
A divulgação da inflação ao produtor também trouxe um quadro desafiador para o nível de preços no curto prazo. A leitura de 0,5% sugere que os repasses ao consumidor devem continuar, ainda com influência da guerra na Ucrânia e dos lockdowns na China. Apesar dos dados correntes ainda altos, o cenário de espiral inflacionário na economia americana parece ter pouca materialidade. Os salários tiveram queda real interanual de cerca de 3,4% até abril, embora o mercado de trabalho mostre claros sinais de sobreaquecimento. Além disso, a inflação implícita nos juros de longo prazo teve queda nas últimas semanas, mostrando leituras entre 2,5% e 3,0%, o que sinaliza alguma confiança do mercado no processo de desinflação nos próximos anos.
Em consequência, esperamos que o FED mantenha o ritmo de ajuste de +0,5 p.p. nas próximas reuniões, até convergir para uma taxa de juros próxima de 3,0% no fim do ano, paralelamente a uma redução forte do seu balanço. A partir desse ponto, o FED reavaliará o quadro inflacionário para decidir a respeito da necessidade de intensificar o grau de contração monetária. Caso esse movimento se mostre necessário, a taxa de juros seguirá avançando, o que poderá levar a uma contração do crédito e pressão adicional nos preços dos ativos, potencialmente trazendo alguns trimestres com leituras marginalmente negativas para o PIB.
Ásia
Sentimentos mistos abriram a semana nos mercados asiáticos. Dados de abril para a economia chinesa mostraram queda acima do esperado para Vendas ao Varejo (-11,1% vs -6,1%) e Produção Industrial (-2,9% vs +0,4%), além de dados de desemprego na região urbana terem alcançado maior nível desde 1982, ficando em 6,7%. Os efeitos dos lockdowns no país têm se alastrado por toda a cadeia de suprimentos global, com menor produção na região limitando linhas de produção globalmente, uma vez que as restrições logísticas na segunda maior economia do mundo têm diminuído exportações e importações, como visto na semana passada. Notícias recentes de desaceleração nos casos de covid e afrouxamento das medidas de segurança impulsionaram papéis de commodities, especialmente as mineradoras, impingindo em recuperação das grandes perdas recentes. Além disso, o governo chinês anunciou nova redução dos juros para financiamento imobiliários, em mais uma rodada de socorro ao setor de Real Estate, um dos principais motivadores do PIB nacional, após impactos do lockdown terem levado a concessão de empréstimos para estes fins ao menor nível em mais de quatro anos. Mesmo com anúncio de estímulos, a mensagem recebida pelos mercados é de maior probabilidade do hard landing, contrariamente ao que se esperava antes do início da pandemia, o que pode acarretar ainda mais dificuldades a um cenário global já desafiador.
Europa
Com dados chineses assustando, o receio de uma recessão global ganha força, especialmente na Europa que ainda lida com os efeitos de uma guerra em seu território, impulsionando preços de alimentos e combustíveis, ocasionando novos recordes inflacionários. O BOE, Banco Central da Inglaterra, deu sinais de que sua política monetária contracionista está para começar, via aumento dos juros, após meses de inércia, antecipando dados de inflação que devem mostrar avanço de 9,1% em abril, maior nível desde 1982, podendo incentivar outros BCs na região a posicionamentos similares. O BCE (Banco Central Europeu) afirmou que uma política mais ativa pode ser esperada a partir de julho, a confirmar após dados de CPI e PIB a serem divulgados esta semana. Com isso, as ações defensivas, como o setor de energia e consumo não-cíclico mantêm-se estáveis, enquanto indústria cede, ante receios advindos da desaceleração chinesa, ao mesmo tempo que mineradoras caminham para uma semana de recuperação.
Flashing Forward
Esta semana, mercados acompanham atentos aos dados de Vendas ao Varejo nos Estados Unidos, no qual espera-se um avanço de 0,7% em abril, juntamente com balanços de grandes varejistas como Walmart, Home Depot e Macy’s. Adicionalmente, acompanharemos números do setor imobiliário que podem trazer leve contração, fruto dos impactos inflacionários no poder de consumo da população, mostrando desaceleração no ritmo de vendas, espelhando conforme já vimos nos dados de poupança na semana passada. Por fim, dados de confiança do consumidor na Europa, bem como PIB e inflação, trarão informações adicionais sobre os efeitos de maiores custos de alimentos e energia intensificados com os conflitos na Ucrânia, juntamente com sinais de próximos passos dos Bancos Centrais na região.