Olho na inflação
Cenário segue turbulento e o urso ronda os mercados. Enquanto as discussões seguem ante os próximos passos do FED, as tensões se elevam com dados abaixo do esperado na China, mais um mês, desta vez com as exportações. Esses e mais tópicos são o tema da Global Markets desta semana. Confira!
Com a aversão ao risco que tomou conta dos mercados desde abril, crescem as expectativas de que possamos estar entrando definitivamente em um bear market (quando vemos uma queda de 20% ou mais), após as fortes altas que vimos em todos os mercados desde a eclosão da pandemia, resultante de uma política de incentivos em nível global. Investidores questionam-se sobre a letargia do FED em reconhecer um movimento de preços ascendente, à época considerado passageiro, e iniciar seu ciclo contracionista que agora pode ser insuficiente para segurar a inflação sem que a economia seja levada à recessão. A descrença no FED, somado aos receios de um hard landing na economia chinesa, além de um cenário ainda incerto de guerra no velho continente parecem a tempestade perfeita para o pessimismo que vem tomando conta dos mercados globais. Contudo, nesses momentos, em que todos os ativos parecem entrar em um redemoinho de correções, manter a sensatez e não se deixar levar pelo efeito manada é essencial. Há quem diga que o fim do ciclo de baixa já está próximo, uma vez que os preços do petróleo e das commodities, forte influenciadores da cadeia, parecem ter estabilizado, indicando desaceleração para os próximos meses. Além disso, espera-se um crescimento menor para o PIB global para este ano, o que poderia contribuir para um cenário mais controlado de preços. Seria, então, momento de reforçar a posição em Equities? Em nossa opinião, mais que acertar o momento de entrada ou saída, acreditamos que em momentos de grandes incertezas, a cautela deve prevalecer, assim como a diversificação, palavra-chave para uma estratégia assertiva de investimentos.
Américas
Imediatamente após a decisão do FED de aumentar em 0,5 p.p. a taxa de juros no país, os mercados entraram em um frisson momentâneo, com as ações em forte recuperação. Contudo, uma releitura da Ata do FOMC e dos discursos de alguns dirigentes da instituição trouxeram a impressão de que talvez o ritmo atual não seja suficiente para conter a inflação que assombra os mercados, fazendo com que o pessimismo visto na semana anterior perdurasse até agora. Dados de poupança no país (renda menos impostos, aluguel e outros gastos) mostraram queda de 2 p.p., saindo de 8,4%, reportado em dez/21, para 6,2% em março, reflexo dos efeitos mais contundentes da elevação de preços de combustíveis e alimentos no orçamento da população. Desde o início do ano, o setor de consumo discricionário já acumula queda de mais de 24% e vemos o mercado norte-americano apresentando mesmo comportamento observado para as empresas de consumo cíclico aqui no Brasil no início do ciclo de aperto monetário. Assim, esperamos que este ritmo de correção ainda continue por um tempo para este segmento, mas também afetando as companhias de growth e com balanços mais robustos, uma vez que estas acabam sendo mais impactadas pelo maior efeito da despesa financeira em seus resultados. O setor de tecnologia, historicamente mais alavancado, inicia a semana em queda com o Nasdaq em seu menor nível desde nov/20 e após queda acumulada de mais de 3% na semana passada; contudo, demais índices no país mostram também forte correção, com os yields mais altos colocando pressão nos ativos locais e globais. Quanto à temporada de balanços, apesar dos números das companhias excederem as expectativas em 79% dos casos, as perspectivas para o ano arrefecem. Esta semana, mercados atentam para os dados de inflação no país, medido pelo CPI, em busca de sinais de que as pressões inflacionárias já possam ter chegado a um pico, fazendo com que o FED mantenha o ritmo de alta em 0,5 p.p., levando os juros norte-americanos para 3% ao fim do ano.
Ásia
Na Ásia, mais uma semana influenciada por preocupações quanto à política zero covid na China e seus efeitos na demanda interna, bem como na economia global. Dados de exportações referentes a março no país asiático abaixo do esperado trouxeram ainda mais incertezas quanto ao abastecimento da cadeia de suprimentos global que já sofre com escassez de alguns produtos (vide a crise de semicomponentes e seus impactos no setor automotivo). Com isso, as commodities iniciaram a semana em forte queda, afetando empresas exportadoras em todo o mundo. Vemos um grande impasse nas medidas de incentivo que possam ser anunciadas pelo governo chinês para impulsionar a economia local. Enquanto em um primeiro momento poderemos ver recuperação dos setores que foram afetados por estes dados menos expressivos reportados pela economia chinesa nos últimos meses (mineradoras e demais empresas de commodities), no longo prazo não enxergamos resultados sustentáveis vindos de uma política de estímulos como a observada no passado. O comércio exterior responde por um terço do PIB chinês e manter uma política focada em investimentos em infraestrutura e exportações poderá não ser tão eficaz, especialmente em um mundo que caminha para uma economia cada vez menos globalizada. Ao mesmo tempo, um direcionamento para uma economia que cresça com base em maior consumo deve passar, ainda, pelo desafio cultural de uma sociedade mais poupadora que o mundo ocidental. Assim, setores como real estate e indústria de base devem seguir no radar do governo, especialmente considerando a importância destes segmentos para o PIB do país.
Europa
Na Europa, a semana que começou receosa com dados de PMI Industrial abaixo do esperado e impasses correntes na situação de guerra na Ucrânia, terminou com fortes quedas, refletindo maiores preocupações com uma desaceleração econômica que passa a ter sinais mais claros. Igualmente aos Estados Unidos, embora tenhamos vistos os resultados das companhias ainda batendo as expectativas em mais de 70% dos números divulgados (vs. média trimestral de 52%), as declarações dos managements das empresas vêm carregadas de cautela quanto ao resto do ano. Os efeitos da guerra já se fazem sentir com a produção industrial na região recuando, além de receios quanto aos impactos da demanda chinesa por insumos, enquanto a inflação bate recordes. As empresas de commodities também pesaram negativamente semana passada e seguem pesando esta semana, assim como as companhias de growth e tecnologia.
Flashing Forward
Esta semana, o foco fica por conta da inflação, via CPI a ser reportado esta quarta. O mercado deverá buscar sinais de possível desaceleração, o que poderia indicar manutenção na posição do FED quanto ao ritmo de elevação dos juros em 0,5 p.p., mais que precificados pelo mercado. Dados do payroll divulgados na sexta mostraram criação de 428 mil novos postos, acima do esperado; contudo, em abril, os salários nominais cresceram 5,5% na comparação interanual, ligeiramente abaixo do mês anterior, podendo indicar menor pressão para inflação para os próximos meses (veja nosso comentário sobre payroll aqui). Enquanto isso, as ações seguem em queda, com ações de growth, incluindo as mega-caps, sofrendo fortes correções ante a elevação dos juros de 10 anos.
Nesta edição, trazemos, ainda dois importantes índices globais: o MSCI Global e o MSCI Emergentes.
O MSCI, ou Morgan Stanley Capital International, é um conjunto de índices de ações global e de Países Emergentes (MSCI World Index e MSCI Emerging Markets Index, respectivamente). O cálculo é feito desde 1969 pela Capital International, em 1986 o índice foi licenciado pelo banco Morgan Stanley e mantém o nome desde então. As empresas que compõem os índices são medidas em volatilidade, valor de mercado, liquidez e crescimento.
O MSCI World Index é composto por 1.539 empresas de 23 países desenvolvidos. 68,45% do índice corresponde a empresas americanas enquanto os setores que mais pesam são os de Tecnologia, Financeiro e Saúde.
Já o MSCI Emerging Markets Index é formado por 139 empresas de 24 países, o Brasil corresponde a 5,35% do índice, frente 30,57% da China. Os maiores setores são Financeiro, Tecnologia e Consumo não-Cíclico.