Novos rallys, mas a mensagem dos BCs é clara: don’t fight us
Os mercados globais seguem com forte oscilação diante de muitas incertezas e algumas tentativas frustradas de acertar o timing do ciclo de política monetária. Os recentes rallys confirmam um mercado descrente no aperto monetário mais estrito, necessário para conter os avanços dos preços e ancorar estas expectativas. Na Europa, o BCE elevou em 75 bps a taxa de juros na semana passada, visando combater uma inflação persistente e ainda em ascensão, enquanto esta semana o CPI nos Estados Unidos surpreendeu negativamente ao vir acima das expectativas e mostrar que o trabalho do FED está longe de ser concluído.
O momento segue de cautela, enquanto vemos um cenário de desaceleração global ganhando magnitude, crédito se tornando mais escasso e cadeias de suprimentos ainda afetadas pelos efeitos pós-pandemia o que poderá se refletir em deterioração dos balanços das companhias nos próximos meses. A busca por ativos sólidos e mais consolidados pode ser uma alternativa a um cenário externo desafiador e ainda repleto de incertezas.
Confira na edição desta semana!
América: Don’t fight the FED
Na próxima semana, teremos a reunião do Fomc e, como já antecipado pelo presidente Jay Powell, o Fed deve ser novamente duro no combate à inflação. Esperamos uma nova alta de 75 bps na taxa e indicação que a política monetária precisa continuar avançando em território contracionista e não descartamos que a taxa chegue em 4% até o final do ano. Os dados do CPI de agosto mostraram que a inflação medida pelo núcleo segue avançando e serviços, incluindo aluguel, tiveram forte alta no último mês. Em 12 meses, o headline desacelerou de 8,5% para 8,3%, com a queda marginal da gasolina, mas o núcleo avançou de 5,9% para 6,3%. A preocupação do Fed com a inflação mais persistente deve continuar, e nas projeções a serem divulgadas veremos uma expectativa de taxa terminal maior e por um prazo mais longo, em relação à última análise feita em junho.
O que essa postura mais hawkish do Fed significa para os mercados? O mercado de renda fixa já tinha assimilado essa expectativa e as taxas dos títulos do tesouro vêm subindo desde o final de julho. O título de 2 anos remunera 3,75% e o de 10 anos está próximo de 3,5%. Já o mercado de ações teve momentos de recuperação, apoiado na expectativa de que a inflação cairia mais rapidamente e a política monetária seria revertida, logo veríamos o Fed pivot, o que parece não ser mais um cenário provável. Não temos dúvida de que a inflação irá ceder. Não somente pela normalização das cadeias e recente queda nas cotações das commodities no mercado
internacional, mas pelo próprio efeito da politica monetária, ainda que com alguma defasagem. O impacto é uma desaceleração na economia americana, mas a intensidade e duração ainda são desconhecidas, por isso, é importante manter a cautela e não tentar acertar o movimento do ciclo.
Ásia: entendendo a crise imobiliária.
Esta semana, o premier chinês, Li Keqiang, anunciou novas medidas de estímulos que serão faseadas visando impulsionar a economia via consumo e investimentos em projetos-chave, como incentivos fiscais e linhas de créditos especiais a empresas para aquisição de maquinários, investimentos em tecnologia e P&D. O governo também informou que deve emitir bonds para financiamento de projetos de infraestrutura, procurando alternativas para a crise de Real Estate que persiste no país.
Vamos voltar um pouco no tempo e entender melhor o mercado imobiliário chinês. Nos últimos anos, vimos o mercado imobiliário chinês crescer a taxas expressivas, o que impulsionou os preços dos imóveis bem como o nível de alavancagem das empresas no setor. Contudo, dados da indústria de Real Estate mostram que cerca de 90% da população chinesa já possui casa própria e que um em cada quatro apartamentos no país está vazio, indicando que, talvez, o país esteja passando por uma bolha imobiliária, motivada por capital especulativo e não demanda real. Considerando que atualmente esta indústria responde por cerca de 30% da economia chinesa, um estouro desta bolha poderia trazer uma crise financeira ao país. Assim, visando melhorar a qualidade financeira das construtoras por meio da redução da alavancagem, melhora da qualidade do crédito e aumento da liquidez, o People’s Bank of China sancionou em 2020 a política Three Red Lines, a qual consiste em limitar o acesso ao crédito destas incorporadoras desde que atendam alguns pré-requisitos, como: (i) relação ativo/passivo menor que 70%, (ii) net gearing ratio abaixo de 100% e (iii) relação caixa e dívidas de curto prazo de até 1. Esta política foi o que quase levou a Evergrande à falência no ano passado, pois impossibilitou que a companhia rolasse suas dívidas, ao mesmo tempo em que a demanda arrefecia pela queda substancial da especulação no setor.
Além dos desafios da crise imobiliária que o país enfrenta, vemos ainda um mundo que caminha para um crescimento mais limitado, arrefecendo outra área importante do PIB chinês, o comércio exterior, além dos impactos da política zero covid na recuperação da economia local pós-pico da pandemia. Em agosto, ambos os PMI Manufatura e o PMI Caixin reportaram números abaixo de 50 pts, indicando contração, impactado por novos lockdowns, bem como racionamento de energia em razão de onda de calor que afeta o país asiático.
Europa: crise energética ganha novos desdobramentos.
Na semana passada, o BCE elevou a taxa básica de juros da União Europeia em 75 bps em movimento de combate a uma inflação persistente, com preços de energia pesando negativamente nos indicadores. Esta semana, a Comissão Europeia apresentou um pacote de medidas que visa reduzir os impactos dos elevados preços de energéticos que levaram à inflação recorde na região, prejudicando atividade industrial e elevando a conta de luz para toda a população. Dentre as medidas propostas, destaca-se a taxação (33%) de parte dos lucros excedentes das companhias de petróleo, gás, carvão e refinarias a fim de redistribuir estes valores em benefícios aos setores mais afetados pelo aumento dos preços. Outra medida que ganhou destaque foi o plano de liquidez emergencial visando opções de linhas de crédito e outros meios para sanar a falta de liquidez no setor. Por fim, espera- se uma política de racionamento de energia com redução de consumo em 5% por toda a população em horários de pico. Com isso, a Comissão espera conter os avanços de preços e limitar os efeitos nocivos na economia, que já vem sofrendo com os impactos da guerra, além de cenário de alta de juros e arrefecimento da demanda.
Flashing Forward:
Na agenda desta semana, nos Estados Unidos teremos indicadores importantes em relação à movimentação da atividade, como o Preço ao Produtor, medido pelo PPI, Novos Pedidos de Seguro-Desemprego e Aplicação para Novas Hipotecas, que darão uma melhor projeção de como anda o mercado imobiliário após o aumento dos juros. Além disso, teremos uma semana movimentada na economia da China, que reportará na quinta-feira a Produção Industrial a/a, na qual devemos ver ainda números afetados pela política zero covid implantada no país, Vendas ao Varejo e Taxa de Desemprego, com destaque para a taxa entre jovens que no último dado reportado havia disparado para nível recorde de 19,9%.