Dias de chuva, dias de bonança
A semana passada iniciou com pessimismo elevado diante da probabilidade de um aperto monetário mais agressivo por parte do FED após dados de atividade e inflação acima do esperado. Contudo, na sexta-feira, falas de dirigentes do FED em tom mais ameno ajudaram a acalmar os ânimos, reduzindo as perdas no acumulado semanal.

Com isso, os índices globais tiveram momento de alívio e iniciaram esta semana em tom mais apaziguado, beneficiados por resultados de bancos nos Estados Unidos surpreendendo as expectativas e por novos estímulos na China, focados majoritariamente no setor de Real Estate, visando minimizar a crise que perdura no segmento desde o ano passado. Já na Europa, mercados lidam com as incertezas correntes globais, mas também com impasses regionais, com a crise energética adentrando novo capítulo e mercado de bonds apresentando sinais de deterioração para as economias mais frágeis.
Esta semana, bancos centrais em todo mundo divulgam novas diretrizes sobre suas políticas monetárias e novos aumentos de juros são esperados na batalha contra a inflação.
Esses e mais assuntos serão discutidos nesta edição. Boa leitura!
América: 75 ou 100? Quem dá mais?
Com inflação em alta e dados de mercado de trabalho ainda bastante aquecido, o mercado precificou desde o início da semana passada um novo aumento de 100 bps na próxima reunião do FED. Entretanto, falas de dirigentes da ala mais hawkish do FED afirmando que um aumento de 75 bps na próxima reunião já seria uma resposta adequada aos dados mais recentes de atividade, ajudaram a diminuir a aversão ao risco nos mercados globais. Com isso, o S&P500 e o DOW tiveram recuo semanal de 0,9% e 0,2%, respectivamente, e seguem com desempenho positivo no acumulado do mês.
No destaque da semana passada, a temporada de balanços surpreendeu negativamente com resultados tanto de JP Morgan quanto de Morgan Stanley vindo abaixo do esperado, com a linha de lucros fortemente impactada por provisões para débitos duvidosos, em razão do cenário mais desafiador à frente.

Contudo, também na sexta, o Citibank bateu as expectativas do mercado e, nesta semana, tanto Goldman Sachs quanto Bank of America reportaram números mais fortes que o consenso, beneficiado pela recuperação de suas carteiras de créditos que voltaram a crescer no 2T22, sinalizando retomada do apetite dos consumidores e das empresas, mesmo com elevação dos juros. Vale ressaltar, porém, que apesar da visão otimista, os bancos reiteram a possibilidade de uma desaceleração no último trimestre do ano, caso a confiança do consumidor continue deteriorando. Além disso, sinalizaram que os desafios para o segundo semestre deste ano devem vir mais fortes e já veem menor ritmo de contratação e cortes em custos e despesas daqui para frente.

Europa: Próximos passos do BCE
Em setembro, o Banco Central Europeu (BCE) divulgará seu novo relatório de projeções e o mercado já começa a precificar mais amplamente um risco de recessão na região, especialmente após a revisão do PIB para 1,4% em 2023 ante os 2,3% projetados anteriormente. Esta semana, espera-se que o BCE aumente sua taxa básica de juros em 25 bps pela primeira vez desde 2011, de forma a conter o avanço da inflação que persiste na região e já chega a 8,6%.
Além do processo de aumento de juros, as autoridades monetárias no continente iniciam movimento de substituição de bonds de países desenvolvidos como Alemanha e França por títulos de economias mais frágeis e mais endividadas, como Itália, a fim de proteger seus membros ao longo do movimento de reversão de suas medidas expansionistas. O governo italiano viu seus custos se elevarem e beirarem o colapso após credores precificarem o maior risco de desaceleração econômica e efeito do aumento dos juros nos seus EUR 2,5 trilhões em débito. Na semana passada, mais um país-membro passou por instabilidade política com o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, entrando com pedido de renúncia ao seu cargo (posteriormente recusado), diante de um possível colapso dos títulos do governo, em razão da forte e acelerada escalada nos yields e derrocada dos índices.

Ásia: It’s all about China!
Crise no mercado imobiliário chinês continua e o governo, por meio da Comissão Regulatória de Bancos e Seguros da China (CBIRC) anunciou nova rodada de estímulos encorajando bancos a estenderem empréstimos a projetos qualificados, formando um porto seguro adicional às incorporadoras, especialmente após a onda crescente de boicotes de consumidores se recusando a pagar as hipotecas de empreendimentos com obras em atraso.

O governo chinês tem trabalhado também com a emissão de novos títulos públicos para fomento de pequenos e médios bancos, a fim de manter a sustentabilidade do crédito para o mercado de real estate, uma vez que este setor representa de 15% a 30% da economia chinesa. Estas e outras medidas têm ganhado força no país, em tentativa do governo de minimizar os impactos dos recentes lockdowns anunciados, em especial na capacidade produtiva do país e no consumo das famílias, e que culminaram em um avanço de apenas 0,4% para o PIB chinês no 2T22, abaixo das expectativas de 1%, afastando-se da meta de 5,5% tratada pelo Partido Comunista para este ano.
Flashing Forward
Ao longo da semana, teremos dados de investimentos estrangeiros direto na China e decisão de política monetária do Banco Central do Japão (BoJ). Na Europa, temos CPI, além de Índice de Confiança do Consumidor na Zona do Euro. Além disso, Banco Central Europeu divulga sua decisão sobre aumento dos juros, na qual o mercado espera elevação de 25 bps, seguida por coletiva de imprensa da presidente, Christine Lagarde. Na sexta-feira, teremos também PMIs em toda a Europa e Estados Unidos. Ao longo da semana, saberemos também dados de mercado imobiliário norte-americanos.