Semana de Bancos Centrais
Dando início à nossa análise dos mercados globais, estreamos nosso relatório semanal com perspectivas para as principais bolsas no mundo, trazendo informação, análises, ideias de investimentos, o que foi destaque e para o que estamos olhando.
A última semana trouxe a consolidação do cenário de aversão ao risco com a possibilidade de um maior aperto monetário nos Estados Unidos. Dados do S&P, que monitoram 49 índices globais, mostraram queda em 44 deles no mês de abril, antecipando um provável movimento mais agressivo do FED não só com aumento de juros, mas também com os planos de redução do balanço. Juntamente com os efeitos da guerra na Ucrânia na economia da União Europeia, que já começam a se materializar, bem como os lockdowns em importantes cidades chinesas elevando os riscos de novos gargalos na cadeia de suprimentos global, vimos um mercado tomado pelo medo e uma fuga coletiva de ativos de renda variável, em especial, companhias de growth.
Na semana, o destaque negativo ficou por conta do Nasdaq, que acumulou queda de 1,2%, seguido pelo S&P500, que caiu 1,0% no mesmo período. Já na ponta positiva, tivemos forte recuperação das bolsas asiáticas, não sem grande volatilidade, com os principais índices avançando mais de 5%. Para saber mais sobre os principais índices globais, confira aqui o material que preparamos.
Américas
Os índices norte-americanos refletiram a forte queda dos papéis de tecnologia, após resultados decepcionantes de Netflix e Amazon, que derrubaram o Nasdaq e ajudaram a espalhar o sentimento de aversão ao risco já impulsionado pelas expectativas de aumento de juros na reunião do FOMC desta semana. Com isso, abril apresentou o maior recuo do S&P500 desde março de 2020 e a semana passada foi a pior para o Nasdaq em termos de desempenho desde a crise de 2008. Como falamos em nosso Inter Recomendações BDRs (leia aqui), o FED tem o grande desafio agora de iniciar seu ciclo de aperto monetário para conter uma inflação contumaz, sem que leve o país para uma recessão, em especial após o PIB do 1T22 ter mostrado um recuo de 1,4%, contra uma expectativa de crescimento de 1%. Neste sentido, nossa tese de investimentos segue com foco no setor de Óleo & Gás, no qual devemos ver manutenção de investimentos e preços ainda elevados contribuindo para receitas crescentes. Apostamos também nas companhias de consumo não-cíclico, mais resilientes em momentos de crise e de pressões inflacionárias. Apesar do recuo no PIB, de acordo com dados da Refinitiv, 62% das companhias já divulgaram seus balanços e, dentre estes, mais de 80% das companhias superaram as expectativas do mercado. O setor de consumo não-cíclico foi o mais surpreendente até agora, sem nenhuma decepção, o que corrobora nossa visão de resiliência do segmento.
Ásia
Na Ásia, as bolsas tiveram semana de alta volatilidade, impulsionadas pela extensão dos lockdowns em Xangai, os quais seguem trazendo incertezas no curto prazo e questionamentos sobre a desaceleração da economia chinesa no longo prazo que, aliás, já surtem efeitos, com dados de atividades decepcionando, conforme visto em março. Contudo, após anúncio do governo chinês sobre a possibilidade de novos estímulos à economia, as pressões negativas arrefeceram, abrindo espaço para recuperação, especialmente no setor de real estate, e os índices fecharam a semana com alta acumulada de mais de 5%, reduzindo as quedas no mês. Apesar das notícias de estímulos, seguimos reticentes com o crescimento econômico do país asiático no longo prazo, uma vez que as políticas expansionistas de foco em investimentos em infraestrutura que ajudaram no passado, podem não ser tão eficazes agora, especialmente em um cenário de mundo cada vez menos globalizado.
Europa
A guerra na Ucrânia segue como principal ponto de atenção e risco para a tese de investimentos no continente. Entre os efeitos de curto prazo, vimos a escassez de produtos, alta de preços de commodities e, situação ainda mais alarmante quanto ao abastecimento energético na região. A temporada de resultados do 1T22 tem surpreendido positivamente, com as companhias trazendo, em sua maioria, não apenas receitas crescentes, mas expansão de margens, assim como o PIB da região que, apesar de abaixo das expectativas, trouxe um leve avanço de 0,2% no trimestre. Na semana, apesar das pressões negativas, os índices refletiram os resultados positivos das companhias e vimos desempenhos acima de 2% no acumulado do período, apesar da queda generalizada no mês. Entretanto, o cenário para o restante do ano ainda é muito obscuro. Os impactos da guerra na inflação limitam o consumo por um lado, e por outro, as incertezas podem seguir afetando a demanda futura, reduzindo investimentos, restringindo oferta e contribuindo para um menor crescimento econômico. Tendo ampla participação de indústrias na economia, poderemos observar impactos de alta de matérias-primas corroendo as margens das companhias nos próximos trimestres, ao passo que o repasse de preços começa a enfrentar mais dificuldades ante inflação mais persistente. O índice de inflação ao produtor acumula alta de 36% em 12 meses até março.
Flashing Forward
para esta semana, sem dúvidas, as expectativas ficam por conta da reunião do FOMC, na quarta, e a possibilidade de aumento dos juros em 0,5 bps, levando os juros norte-americanos para 1%, de acordo com o consenso do mercado. Em termos de preços de ativos, acreditamos que boa parte da baixa recente já incorpora este aumento nos juros e a posição mais hawkish do FED. Contudo, a depender do tom do discurso de Powell e do conteúdo do comunicado, o mercado poderá retomar parte destes ganhos, caso haja um consenso de que os movimentos esperados sejam suficientes para iniciar a contenção desta aceleração. Em semana mais curta na Ásia devido a feriados locais, as medidas de controle de covid na China, bem como dados macroeconômicos aquém do esperado, podem seguir colocando pressão sobre os preços das commodities, afetando bolsas onde a concentração de papéis voltadas para este setor é maior, como Ibovespa, S&P/ASX e o S&P/TSX.