Período de ajustes de expectativas
Mais uma semana marcada pela aversão ao risco, com os índices globais apresentando forte deterioração no ano, conforme os bancos centrais confirmam tempos de juros mais elevados à frente. O MSCI Global cedeu mais de 3% na semana, somando queda de 23,1% desde o início do ano, enquanto o MSCI recua mais de 25%. Na contramão, o índice brasileiro se mantém em campo positivo, avançando 7,5% no ano, beneficiado pelo fim da escalada de juros, após o Copom manter a Selic em 13,75% na última reunião.
Nos Estados Unidos, tanto o S&P quanto Dow Jones confirmam o bear market e recuam 20%, enquanto o Nasdaq, composto principalmente por empresas de tecnologia e mais sensíveis à política monetária contracionista, já devolveu mais de 30% desde o início de 2022. Mesmo com o anúncio mais incisivo do banco central americano, ainda vemos grandes desafios com demanda bastante aquecida por conta de um mercado de trabalho ainda forte. Na Europa, além das pressões inflacionárias, mercados seguem lidando com cenário de guerra e crise energética, enquanto na Ásia, o assunto se pauta na desaceleração econômica da China por conta da política de Covid zero que tem afetado a produção no país. Somados a estes desafios, vemos um cenário dado de juros mais elevados, porém a dúvida que prevalece é: por quanto tempo os mercados terão que lidar com este novo patamar de política monetária.
Confira na edição desta semana!
América: período de ajustes.
Finalmente o mercado parece ter entendido a mensagem do FED sobre a necessidade de ancoragem das expectativas e a prioridade no controle da inflação. Com isso, os índices norte-americanos engataram dias de correção, após anúncio de aumento de 75 bps na taxa de juros na última reunião, com outros aumentos que devem levar os juros ao patamar de 4,4% este ano e 4,6% em 2023. Mercado agora deverá acompanhar com lupa dados da economia no país que ainda mostram números fortes. Em agosto, novos pedidos de produtos manufaturados avançaram, sugerindo manutenção do ritmo de compras de máquinas e equipamentos pelas empresas no país, apesar do cenário de juros mais elevados e possível desaceleração econômica. A confiança do consumidor também aumentou, impulsionada pelo mercado de trabalho ainda aquecido e a recente queda nos preços de combustíveis.
Já com relação ao mercado imobiliário, observamos esfriamento com a elevação das taxas de financiamento e a demanda por imóveis usados retraiu pelo sétimo mês consecutivo. As licenças para novos empreendimentos também recuaram, chegando ao mesmo nível observado no auge da pandemia de covid-19. Contudo, os preços de novas casas ainda mostraram avanço de 8,0% na comparação anual, influenciando aluguéis. Devemos ver o mercado imobiliário americano arrefecer nos próximos meses, resultado de um crédito mais caro, podendo afetar os preços dos imóveis negativamente e, com isso, diminuir a pressão dos preços de aluguéis. No geral, mantemos a visão mais conservadora para todo o mercado de equity neste curto prazo, focando para setores menos voláteis e mais defensivos, como consumo não- cíclico.
Ásia: sinais animadores? Talvez.
Em agosto, vimos alguns sinais de recuperação da economia chinesa, com leve alta da produção industrial e da confiança. Contudo, as incertezas permanecem e o principal ponto de atenção segue quanto à política zero-covid adotada pelo governo chinês e seus efeitos sobre a retomada das atividades no país. O lucro industrial na China acentuou a queda no período de janeiro a agosto, recuando 2,1% ante mesmo período de 2021, refletindo os impactos de fechamentos da indústria por conta dos lockdowns anunciados no primeiro semestre e, mais recentemente, dos efeitos de racionamento energético por conta da forte onda de calor que afeta o país desde julho e que vem exigindo priorização de fornecimento para produção agrícola em detrimento de outros setores da economia. Além disso, a crise no setor imobiliário parece longe de ser solucionada e novos boicotes ameaçam dificultar ainda mais o processo de tentativa de ajuda às companhias do segmento. Recentemente, o Banco Mundial revisou o PIB chinês de 5% para 2,8% para este ano e espera agora um crescimento de 4,5% em 2023.
Europa: tempos contracionistas.
A semana passada foi marcada por uma série de elevação de juros dos bancos centrais na Europa, visando a contenção das pressões inflacionárias na região, em meio a um cenário de guerra, crise energética e choques na cadeia de suprimentos. Mercado de bonds na Zona do Euro mantém o nível estressado, com os yields avançando em movimento de antecipação a novos aumentos de juros, incluindo pelo próprio BCE. No Reino Unido, nos últimos dias, a libra esterlina teve forte desvalorização, após o governo britânico anunciar corte de tarifas a serem compensados por aumento da dívida pública. Enquanto isso, na Itália, as eleições gerais trouxeram vitória da ala de direita do governo, liderada por Giorgia Meloni, que deverá se tornar primeira-ministra do país -cadeira nunca ocupada por uma mulher – e lidar com os desafios de um continente em crise. As expectativas são de um governo mais equilibrado e estável para os próximos anos, o que beneficiou os mercados italianos com a bolsa em forte alta, descolando de seus pares europeus.
Flashing Forward:
Nessa semana, a atenção será voltada para os indicadores de atividade econômica da Zona do Euro, bem como a Taxa de Desemprego, Preços ao Consumidor A/A e Núcleo Preços ao Consumidor A/A que, por sua vez, devem mostrar a persistência da inflação na Europa apesar das movimentações dos bancos centrais. Nos Estados Unidos, o departamento de trabalho irá reportar os Novos Pedidos Seguro-Desemprego que, de acordo com as expectativas de mercado, devem vir levemente acima do observado anteriormente. Por fim, será divulgado o PMI Manufatura da China que deve apresentar um resultado flat.