Eleições nos Estados Unidos definem o tom da semana
A semana passada foi marcada pela maior aversão ao risco após a reunião do FOMC que decidiu elevar a taxa de juros em 75 bps, conforme esperado, mas intensificada pelas palavras de Powell que trouxeram um tom mais agressivo, afirmando que o FED deverá manter a taxa de juros no país em nível elevado por mais tempo. Os índices norte-americanos tiveram forte recuo, devolvendo parte dos ganhos acumulados no último rally, com destaque para Nasdaq que retraiu mais de 5% no acumulado semanal, também pressionado pelos resultados aquém do esperado das Big Techs.
Na Europa, entretanto, os papéis tiveram momentos de bonança com rumores na China de possível flexibilização das restrições contra a covid, o que ajudou a impulsionar papéis das empresas ligadas à commodities e varejo de luxo. Aliás, as bolsas asiáticas também tiveram uma semana positiva, mesmo com dados de atividade mostrando forte desaceleração no país.
Com cenário global desafiador, lidando com custos ainda elevados e políticas monetárias contracionistas, esta semana mercados atentam para dados de inflação nas principais economias do mundo, bem como para as eleições no Congresso e Senado norte-americanos, as quais podem mudar os rumos dos últimos dois anos do governo Biden.
Confira na edição desta semana!
Com China em crise, Europa em recessão e Estados Unidos sob indefinição, o que esperar do resto do mundo e dos emergentes?
A economia mundial passa por solavancos e as economias emergentes não estão imunes. Apesar de manter um crescimento robusto, fruto da recuperação cíclica do consumo privado e turismo, além dos incentivos à demanda por parte dos governos, que tem sido contínuo desde a pandemia, também se observa uma desaceleração no ritmo de crescimento, consequência da piora das condições econômico-financeiras globais, com o intenso aperto monetário nas economias avançadas. Outro fator relevante para o enfraquecimento da atividade econômica é a própria desaceleração da economia chinesa, reduzindo a demanda externa pelas exportações desses países. De fato, já se observa os efeitos desses dois eventos no mercado de commodities. Por um lado, o aperto das condições financeiras retira liquidez do mercado e aumenta a probabilidade de uma recessão global. Por outro, as cadeias de produção dão sinais de que caminham em direção à normalização após os desarranjos provocados pelas restrições relacionadas à Covid-19 e à guerra na Ucrânia. Com isso, observa-se uma descompressão dos preços de commodities, grande fonte de receita internacional para os emergentes. Entretanto, os riscos geopolíticos, especialmente a guerra da Ucrânia e a tensão entre China e Taiwan, devem impedir uma queda muito acentuada dos preços das commodities.
A combinação de menor apetite por risco e surpresas no ritmo do aperto monetário por parte do Fed, fez com que o dólar ganhasse força globalmente. Apenas em 2022, o dólar já apreciou 15% contra uma cesta de moedas mais relevantes da economia global. Para as economias emergentes isso é uma má notícia pois amplifica as pressões inflacionárias decorrente dos choques de oferta observados desde 2020. Entretanto, essa valorização do dólar tem sido maior contra moedas de economias avançadas, como o Euro e a Libra. E essa discrepância se dá pelo fato de que os banco centrais emergentes anteciparam o aperto monetário em relação às economias avançadas.
Nesse sentido, mesmo com o cenário mais delicado ainda vemos oportunidades nos emergentes. Nos últimos 20 anos, as economias emergentes performaram melhor que as economias avançadas. E a perspectiva é que isso se mantenha. As projeções do FMI indicam um crescimento médio de 3,7% para as economias emergentes em 2022, contra 2,4% das economias desenvolvidas. Para 2023 a discrepância esperada é ainda maior, com as economias emergentes mantendo o crescimento esperado de 3,7%, enquanto as economias desenvolvidas têm um crescimento médio esperado de 1,1%. E nessas economias alguns setores tendem a se destacar. Por exemplo, devemos continuar a observar a rápida expansão de serviços financeiros não-tradicionais em países que são tipicamente mal atendidos pelos bancos tradicionais. Além disso, investimento em tecnologia vai auxiliar o crescimento desses países, via adoção de tecnologias digitais e de inteligência artificial. Para isso, a estrutura de 5G é extremamente importante, portanto, países que conseguirem implementar o novo protocolo de 5G de maneira mais célere estarão mais bem posicionados, e de fato se observa essa preocupação em diversos países emergentes.
América: House of Cards na vida real.
Esta semana, mercados atentam para o desenrolar das eleições de meio de mandato (mid-term elections) nos Estados Unidos, a qual poderá renovar a base do Congresso (House of Representatives) e aumentar a diferença entre Republicanos e Democratas no Congresso, atualmente em 50/50, trazendo maioria republicana e limitando o poder de ação do governo Biden. Com inflação ainda em alta, superando 8% de crescimento ante setembro de 2021, as chances de uma base mais republicana – e menos propensa a gastos – aumentam, podendo tornar mais difícil aprovação de projetos nos próximos dois anos de atuação do atual presidente, o democrata Joe Biden.
A inflação em alta vem pesando no bolso dos consumidores e assustando bancos centrais no mundo todo e na semana passada o FED elevou a taxa de juros em 75 bps conforme esperado, mas a fala de Powell afirmando que seria imprudente pensar em fim do ciclo agora causou indigestão nos mercados que agora vislumbram juros mais elevados por mais tempo. Os resultados da temporada de balanços do 3T22, apesar de ainda acima das expectativas, já trouxeram uma visão mais comedida das projeções para os próximos trimestres, com empresas esperando demanda mais limitada e custos ainda elevados, além de já sinalizarem menor ritmo de contratações e atém mesmo demissões para o fim deste ano.
Das 502 empresas do S&P500, 89% já reportaram os números deste trimestre, com apenas 70% batendo as estimativas do consenso. No destaque negativo, o segmento de consumo discricionário, mais dependente do ciclo econômico, já mostrou as dificuldades enfrentadas pelas limitações de consumo da população e cerca de 38% das empresas reportaram números abaixo do esperado. No setor de Real Estate, apenas 55% das companhias superaram as estimativas do consenso, reflexo da menor demanda em virtude do crédito mais caro por conta do aumento dos juros. Na ponta positiva, 81% das empresas de consumo não-cíclico, mais resiliente em tempos de crise, superaram as projeções dos analistas.
Ásia: Política zero-covid: flexibiliza ou não?
As discussões ao longo dessa e da semana anterior sobre a possível flexibilização das políticas zero-covid adotadas pelo governo chinês seguem definindo os rumos das bolsas asiáticas. Se por um lado, nos últimos dias os papéis vinculados à China tiveram impulso com rumores de que o governo do país poderia anunciar medidas de flexibilização às restrições impostas, desde o início desta semana o humor virou, com novos casos de covid no país batendo a máxima dos últimos seis meses e indicando desafios à frente, especialmente com a chegada do inverno, período sazonal mais favorável à disseminação de doenças respiratórias. Enquanto isso, a economia chinesa segue mostrando sinais de arrefecimento e em outubro as exportações e importações no país tiveram um recuo inesperado, o primeiro simultâneo desde maio de 2020, pico da pandemia de covid. Contrariamente ao avanço de 5,7% visto em setembro, em outubro as exportações chinesas recuaram 0,3% a/a, bem abaixo das expectativas de alta de 4,3%, refletindo a demanda global mais fraca, mas também as limitações produtivas do país por conta do sentimento mais deteriorado e dos fechamentos pontuais por conta da covid. Quando olhamos as exportações chinesas para economias como Estados Unidos e União Europeia, o recuou foi ainda maior, de 12,6% e 9% a/a, respectivamente. Do outro lado da equação, as importações retraíram novamente, caindo 0,7% a/a em outubro, refletindo o menor consumo interno, além da crise imobiliária que tem afetado a demanda por materiais básicos. As importações de cobre e carvão recuaram em outubro pela primeira vez desde maio de 2020, seguindo a queda da produção industrial.
Na semana passada, o governo chinês afirmou que o foco será no crescimento econômico e mercado aguarda a primeira reunião do novo Politburo em dezembro a fim de entender melhor os próximos passos do novo mandato de Xi Jinping e seu novo plano de crescimento, o qual deverá ser pautado em tecnologia e inovação, conforme antecipado ao longo do Congresso do Partido Comunista, no mês passado.
Europa: recessão cada vez mais certa
O Banco Central Europeu vai continuar a aumentar sua taxa de juros a fim de controlar a inflação que persiste e atinge 10,7% (set.22), batendo recorde, e trazê-la de volta à meta de 2%, mesmo que o preço a se pagar seja levar a economia da região à recessão. De acordo com as estimativas recentes, a economia na zona do euro deve entrar em recessão no 1T23, impulsionada por uma combinação de custos mais altos de energia, demanda global desaquecida e custos de dívida mais alto. Investidores já esperam que o BCE eleve continuamente a taxa de juros até 3%, dos atuais 1,5%, até o meio do ano que vem.
No mundo corporativo, as companhias de energia seguem no meio das discussões sobre taxação e controles de preços, enquanto as exportadoras e as empresas de varejo de luxo sofrem a pressão adicional vinda de perspectivas desanimadoras sobre a economia chinesa.
Flashing Forward:
Com a recente elevação nas taxas de juros americana e aquecimento do mercado de trabalho, os olhares da semana estão voltados para os indicadores de preço, como o Preços e Núcleo Preços ao Consumidor m/m e a/a. Além disso, teremos a divulgação das Aplicações para Novas Hipotecas e dos Novos Pedidos Seguro-Desemprego. Na China, também será reportado os dados dos Preços ao Consumidor a/a, porém com a expectativa de desaceleração de 2,8% para 2,4%.