Macroeconomia


Frigoríficos | Prévias 2T22

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Manuela Granja

Publicado 04/ago8 min de leitura

Resultados resilientes, com destaque para exportadoras

De modo geral, acreditamos que as companhias do setor continuarão com resultados resilientes no 2T22, impulsionadas principalmente pelas exportações, que refletem a demanda externa e seus preços atrativos. Contudo, o trimestre também será marcado pelo cenário adverso nos Estados Unidos, o que tende a proporcionar uma compressão superior das margens para empresas que possuem operações na América do Norte.

Ao olharmos para o mercado doméstico, o cenário para proteína bovina é mais positivo, o que beneficia as empresas com forte atuação na região. No qual por mais que a demanda interna ainda esteja comprometida com a perda do poder de compra da população, as exportações se sobrepõem a esse panorama e ganham destaque no período. O trimestre foi marcado pelo aumento da oferta de animais, impulsionado ainda mais pelo período de inverno no Brasil, além do gradual ingresso no ciclo positivo da pecuária, com uma queda do indicador do bezerro em 13,25% no 1S22 e diminuição de 4,75% t/t do indicador do boi gordo da Cepea/B3, amparando os custos no período. Em complemento, os preços comercializados no mercado externo batem novos recordes no 2T22, com avanço de 16,4% t/t e 15% a/a, superando a queda de 1,2% t/t no volume e proporcionando uma relevante evolução do total exportado em 15% no comparativo trimestral, mas redução de 0,2% a/a, de acordo com dados da Secex.

Para proteína de aves o trimestre também foi positivo para operações com o mercado externo, dado que foi visto um acréscimo de 34,7% t/t e 26% a/a do total exportado em dólares, acompanhado de um aumento de 18,2% nos preços comercializados, estimulado pela forte demanda externa com ausência da Ucrânia e crise da gripe aviária no Hemisfério Norte, o que proporcionou uma ampliação dos mercados consumidores acessados pelo Brasil. No entanto, no mercado interno as limitações do poder de compra da população continuam a interferir nas atividades, principalmente após avanço de 21,6% t/t do preço médio do frango congelado no trimestre, cotado em R$ 7,77, de acordo com dados da Cepea/ESALQ. No que tange as margens, veremos um gradual arrefecimento dos custos, principalmente impulsionado pela contração do preço dos grãos, com destaque para o milho em Campinas que teve um recuo do seu valor médio em cerca de 12,1% t/t, entretanto, as companhias só deverão sentir esses efeitos a partir do 2S22.

Por fim, para os Estados Unidos, o cenário de intensificação de virada do ciclo, somado ao avanço dos custos e conjuntura macroeconômica, proporcionaram um trimestre mais desafiador, por mais que ainda resiliente quando comparado com o histórico. No que tange a dinâmica do setor de proteína bovina, vimos que as secas no período e o consequente aumento da oferta de animais, proporcionou uma elevação dos estoques, assim dificultando o repasse de preços, que teve uma redução de 7,7% t/t do valor médio do select e -2,9% do choice beef. Em complemento, no trimestre vimos um avanço de 3,4% do gado vivo, cotado em um preço médio de US$ 144,40, além de uma leve queda de cerca de 1,9% t/t do corte choice do boxed beef cutout e spreads também um pouco abaixo do 1T22, direcionando para uma pressão superior das margens.

BRF (BRFS3): em movimento de gradual recuperação

Para BRF, após resultados que surpreenderam negativamente no 1T22, acreditamos que o 2T seja marcado por uma forte recuperação da companhia, principalmente estimulada pelas exportações no período. Para operações no Brasil, a situação continua adversa, dada a sensibilidade do consumo interno que afeta o volume vendido, entretanto, o repasse de preços nos processados efetuado pela BRF e estímulos do governo no trimestre auxiliarão nos resultados, o que nos fez projetar uma receita de R$ 6.182 mm (+5,1% t/t e +6,3% a/a). Para o segmento internacional, consideramos uma forte evolução das operações do Direct Export e Halal, com uma expectativa de receita de R$ 2.837 mm (32% t/t e 38,8% a/a) e R$ 2.151 mm (6,8% t/t e 35% a/a) respectivamente, impulsionados pela ausência da Ucrânia e surto da gripe aviária. No caso da Ásia, nossa expectativa é de um top line de R$ 1.307 mm (+8,1% t/t e-26,4% a/a), em virtude do aumento sazonal de cerca de 24,3% t/t das exportações para região do Extremo Oriente da Ásia, além de ser beneficiado pela desvalorização do real no final do trimestre. Visto isso, projetamos uma receita líquida de R$ 13.148 mm (+9,2% t/t e +13% a/a), com uma margem bruta de 17,5%, em reflexo aos avanços dos preços comercializados e isenção das irregularidades do 1T22. Por fim, chegamos em um EBITDA de R$ 1.137 mm (+649% t/t e -12,2% a/a), com uma margem de 8,6% (+7,4 p.p. t/t e -2,5 p.p. a/a). Sinalizamos que o resultado financeiro terá impactos da marcação a mercado da operação de bonds com vencimento no 2T22.

Fonte: Inter Research e companhia.

JBS (JBSS3): diversificação dilui os efeitos adversos

Apesar do sequencial enfraquecimento do segmento Beef North America, esperamos que a diversificação da JBS dilua os efeitos desse cenário mais adverso, proporcionando resultados ainda robustos para o 2T22, principalmente oriundo da Pilgrim’s Pride e atividades no Brasil. Dessa maneira, para operações de carne bovina na América do Norte, consideramos uma receita de US$ 5.411 mm, com recuo de 2,3% em comparação ao trimestre anterior, em virtude da postergação do barbecue season e suavização dos preços da carne no mercado interno. Além disso, esperamos que a pressão dos custos fique mais evidente nas margens, influenciado pela cadeia de suprimentos e alta no preço do boi. No caso da Austrália, o segmento continua em gradual recuperação, com um resultado no 2T22 em linha com anterior, levando a uma estimativa de top line de US$ 1.465 mm (+3,3% t/t). Já em movimento complementar a PPC, consideramos que a Seara também desfrutou do cenário externo oportuno, com uma estimativa de receita de R$ 10.190 mm (+7,4% t/t e +14% a/a). Por fim, para JBS Brasil, consideramos que o preço negociado no mercado externo, somado a uma sequencial melhora da oferta de animais, impulsionou as operações, fechando com uma top line de R$ 15.233 mm (+6,3 % t/t e +19,6% a/a). Visto isso, para o consolidado estipulamos uma receita líquida de R$ 91.733 mm (+1,0% t/t e +7,1% a/a), com uma queda de 6,4% t/t do EBITDA, cotado em R$ 9.166 mm, além de uma margem de 10,0% (-0,9 p.p. t/t e -1,1 p.p. a/a).

A Pilgrim’s Pride divulgou o seu balanço no dia 28/07, no qual vimos resultados robustos, levemente acima de nossas expectativas, com uma receita líquida de US$ 4.632 mm (+3,2% R/E, +9,2% t/t e +27,3% a/a). A performance refletiu a forte demanda do varejo e food service pela proteína de frango globalmente, intensificado com o encarecimento da carne bovina, além do retorno dos investimentos em melhorias operacionais e sinergias com as vigentes adquiridas na Europa. Por fim, a companhia reportou uma Margem EBITDA de 13,5% (+1,7 p.p. t/t e +3,3 p.p. a/a), com um EBITDA Ajustado de US$ 623,3 mm.

Fonte: Inter Research e companhia

Marfrig (MRFG3): margens caminham para o patamar histórico

Considerando apenas as operações da Marfrig, sem incluir a consolidação da BRF, esperamos para o 2T22 um resultado levemente abaixo do 1T22, com uma pressão superior nas margens do segmento da América no Norte, mas ainda robusto no comparativo histórico. Dessa forma, para National Beef, projetamos uma top line de US$ 2.972 mm (-1,7% t/t e +0,8% a/a), que espelha a leve redução do preço da proteína bovina, enquanto volumes se mantêm em linha com o 1T22. Por outro lado, com avanço do custo do animal e de toda cadeia de suprimentos, estimamos uma margem bruta de 16,3% (-1,5 p.p. t/t e -10,4 p.p. a/a), se aproximando da normalidade histórica. Já para operações na América do Sul a conjuntura foi mais sólida, com um mercado externo aquecido e atrativo, o que orientou a projeção da receita para o montante de R$ 6.817 mm (+5,6% t/t e 35,7% a/a) e margens em recuperação. Por fim, em vista disso, foi considerado uma receita líquida de R$ 21.450 mm (-4,0% t/t e +4,3% a/a), com recuo de 9,6% t/t do EBITDA, que ficou em R$ 2.504 mm, além de uma margem de 11,7% (-0,7p.p. t/t e -7,0 p.p. a/a). Sinalizamos que com a consolidação da BRF, a Marfrig deve obter uma alavancagem superior ao 1,36x vistos no 1T22.

Fonte: Inter Research e companhia

Minerva (BEEF3): mais um trimestre com resultados sólidos

Com grande exposição ao mercado externo, esperamos que o 2T22 seja marcado por resultados robustos, impulsionado principalmente pelas exportações e preços internacionais atrativos do período. Visto isso, para operações no Brasil projetamos uma top line encorpada de R$ 4.048 mm (+2,4% t/t e +38,5% a/a), explicado pela maior disponibilidade de animais, com período sazonal favorável e avanço do ciclo positivo, além da forte demanda externa, com preços recordes e um câmbio mais atrativo. Para o restante das operações da América do Sul, o destaque vai para o Paraguai, que sazonalmente possui uma oferta de gado superior no período, além dos estímulos da forte demanda internacional. Para os países restantes, foi projetado resultados similares ao 1T22, excluindo a Colômbia, que sofre com a paralisação das exportações para Rússia, ao passo que possui dificuldades de redirecionar as suas plantas. No caso dos custos, acreditamos que a leve redução de 4,75% do boi gordo no período repercutirá positivamente nas margens da companhia, proporcionando um EBITDA de R$ 708 mm (+9,5% t/t e +31,4% a/a) e margem de 9,2% (+0,2 p.p. t/t e +0,6 p.p. a/a).

Fonte: Inter Research e companhia

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