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Vitor Martins Carvalho

Publicado 23/ago8 min de leitura

Tokenização

Tokenização é um tema pertencente ao universo das criptomoedas que se popularizou bastante nos últimos anos, mas, afinal, do que se trata esse conceito?

Tokenização pode ser explicada como a transformação de ativos físicos ou mobiliários para sua versão digital. Teoricamente, a tokenização é um processo antigo, dado que desde o advento da computação e da internet se tornou possível utilizar versões digitais de ativos para facilitar sua negociação. Corretoras, bancos e outras instituições financeiras fazem uso dessa tecnologia há décadas. Entretanto, o que diferencia esse método de tokenização do método no qual as pessoas pensam atualmente quando se referem a esse assunto é a tecnologia por trás do processo de transação e custódia desses tokens. Após o surgimento do bitcoin, finalmente se tornou possível utilizar a blockchain para negociar tokens de forma descentralizada.

A magnitude dessa inovação só pode ser plenamente compreendida quando se entende o real desafio de armazenar informações no ambiente digital com segurança e transparência. No mundo físico, qualquer item é único e escasso, dessa forma, qualquer transação de um ativo, implica, naturalmente, posse. Após receber o ativo, tal como um papel, uma moeda, um contrato ou uma propriedade, não resta dúvidas que a transação foi válida: quem transferiu não possui mais o ativo, e quem recebeu agora tem posse absoluta.

Replicar esse processo trivial no ambiente digital de forma descentralizada se tornou um grande desafio. De forma centralizada, entretanto, não há complexidade: basta escrever em um banco de dados que fulano possui X do ativo Y, ciclano possui Z do ativo W etc. O único obstáculo, nesse caso, é o de proteger esses dados de ataques cibernéticos. Essencialmente, é assim que instituições financeiras e o governo armazenam a maior parte das informações de seus “usuários”. Descentralizar o livro-razão no qual esses dados são escritos sem comprometer a sua segurança, permitindo que qualquer pessoa com acesso à internet possa conferir a sua autenticidade e, caso deseje, possa realizar uma transação de forma direta - sem a necessidade de um intermediário – só se tornou viável por meio da blockchain. Essa tecnologia foi responsável por revolucionar o método pelo qual a tokenização de ativos é feita.

Principais tipos de tokens

Utility tokens:

Com o desenvolvimento das nações, temos observado um fenômeno universal de aumento da participação de serviços na atividade econômica. Nesse contexto, utility tokens poderão desempenhar um papel fundamental no dia a dia das pessoas, uma vez que servem para dar acesso a serviços de empresas privadas ou a serviços oferecidos por plataformas descentralizadas.

Security tokens (tokens mobiliários):

Esses tokens representam ativos mobiliários, tais como títulos de dívida, ações e cotas de fundos de investimento.

Tokens de Commidities:

Esses tokens fornecem direito de propriedade para uma commodity, ou representam um contrato financeiro cujo ativo subjacente é uma commodity.

Tokens de Pagamento:

Esses tokens apresentam a mesma função que o dinheiro em espécie. Nesse caso, podemos citar o bitcoin e CBDCs (moedas digitais emitidas pelo banco central). Cabe ressaltar que o token não precisa, necessariamente, ser emitido por uma plataforma descentralizada para ser caracterizado como tal.

Benefícios dos tokens em um sistema de registro descentralizado

O principal benefício de um sistema descentralizado está na transparência em seu modo de operação e na não obrigatoriedade de compartilhar dados sensíveis daqueles que desejam utilizar a plataforma.

Além disso, vários ativos financeiros ou físicos são extremamente ilíquidos e exigem o cumprimento de inúmeras burocracias para poderem ser transacionados. Um exemplo que ilustra fielmente essa situação é o mercado de Venture Capital e Private Equity. Comprar um percentual de uma startup é um processo restrito apenas a investidores qualificados e de alto poder aquisitivo. Por meio da tecnologia blockchain, os fundadores dessas startups podem emitir security tokens que representam pequenos pedaços de seu projeto, tal como empresas fazem a partir de ICO na bolsa de valores tradicional. Tal processo, denominado STO (Security token Offerings), permite o acesso de investidores comuns a esse mercado.

Outro benefício trazido pela tokenização é a fracionalidade, uma qualidade que torna possível a negociação de frações menores de ativos físicos. O que melhor exemplifica o potencial dessa funcionalidade pode ser observado no caso do mercado imobiliário. Esse é o maior mercado do mundo em termos de valor monetário e, apesar disso, é um mercado bastante ilíquido, uma vez que na maior parte dos casos não é possível negociar frações de um imóvel. Os fundos imobiliários e outros ativos semelhantes resolvem parcialmente esse problema ao permitir que investidores dividam suas participações em diferentes imóveis. Entretanto, além de esses fundos operarem de forma centralizada, os tipos de propriedade que negociam são extremamente restritos. A tokenização de imóveis em uma blockchain descentrailizada tornaria possível, pelo menos em teoria, transacionar metros quadrados de um imóvel ou qualquer outra fração desejada sem necessitar de intermediários.

Para finalizar, até mesmo a forma em que realizamos a contabilidade de empresas pode ser revolucionada com a tokenização. Atualmente, utilizamos o método consagrado denominado de Contabilidade de Dupla Entrada: cada movimentação é registrada em uma conta de origem e uma conta de destino, isto é, cada ativo possui, como correspondente, um passivo. Essa metodologia é extremamente importante para evitar erros, na medida em que qualquer entrada equivocada que não possui um correspondente nas duas contas pode ser prontamente eliminada, e entradas suspeitas que foram registradas em ambas as contas sinalizam alta probabilidade de fraude.

Segundo especialistas, a popularização do uso de tokens tornará possível, à princípio, a Contabilidade de Tripla Entrada, método idealizado pelo professor japonês Yuji Ijiri ainda na década de 80. Atualmente, os ativos e passivos do balanço patrimonial de todas as empresas estão em equilíbrio (a soma dos passivos é igual a soma dos ativos), entretanto, não há nenhuma forma de comunicação entre os balanços de diferentes empresas. Esse é o vácuo que o método de tripla entrada busca preencher. Toda compra de uma companhia corresponde a venda de uma outra, dessa forma, se todas as transações realizadas entre as empresas fossem registradas com um nível de detalhamento mínimo em uma mesma blockchain, seria possível localizar todos os lançamentos necessários para reconstruir o resultado de uma empresa a fim de auditá-la. Na verdade, com mais sofisticação, o próprio algoritmo por traz da blockchain poderia gerar tal resultado automaticamente e garantir sua validade, mantendo o sistema constantemente em equilíbrio global (tripla entrada) em vez de apenas equilíbrio local (dupla entrada).

Problemas Regulatórios

É inegável que grande parte dos benefícios atribuídos à tokenização na blockchain não são méritos advindos por questões tecnológicas, e sim por questões regulatórias. Esse fato gera bastante confusão. Por ser uma tecnologia em estágio inicial e pouco utilizada, ainda há, nesse mercado, um vácuo regulatório significativo. No mercado tradicional, há muitas barreiras associadas ao processo de emissão de capital ou de distribuição de equity que aparentemente podem ser contornados por meio do uso de tokens. Entretanto, essa é uma situação instável e definitivamente transitória, por implicar inúmeros riscos aos investidores.

Felizmente, o Brasil está bem a frente nesse quesito. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) abriu no ano passado um Sandbox regulatório que consiste em um ambiente experimental a partir do qual diferentes empresas pré-selecionadas, que atuam na área de tokenização, receberam a permissão de emitir tokens para as firmas que desejam captar recursos por meio da emissão de dívida ou distribuição de equity. De acordo com informações da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) em 2022 foram emitidos R$ 134 milhões de debêntures tokenizadas, o que representa 0,1% do valor total emitido por esse tipo de título nesse período. É esperado que esse percentual permaneça baixo no futuro, tendo em vista que a emissão por meio de tokens compensa apenas para aquelas empresas menores, cuja entrada no mercado de capital tradicional é muito custosa.

Ademais, o Banco Central do Brasil (Bacen) tem se mostrado muito mais aberto e interessado em inovações no sistema financeiro do que seus pares internacionais, como a implementação do sistema PIX corrobora. Ainda em maio do ano passado, o Bacen divulgou as diretrizes para um desenvolvimento de uma CBDC brasileira: o real digital (leia nosso relatório sobre CBDC para entender melhor sobre o assunto). Em diversas ocasiões, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconheceu que estamos caminhando para uma economia tokenizada, e destacou a importância de o sistema regulatório brasileiro virar um exemplo mundial de como abraçar essa nova tendência.

Conclusão

Diante do processo de digitalização de praticamente todas as atividades cotidianas que geram valor e da consolidação do setor de serviços como principal motor da economia, a tokenização em blockchain se tornou um assunto extremamente relevante. Essa tecnologia possui o potencial de gerar inúmeros ganhos de eficiência, além disso, frente as entidades centralizadas que ganham bastante poder de mercado no atual modelo econômico, seu uso é a única alternativa para aqueles que desejam manter independência, privacidade e soberania de seus dados pessoais.

Cabe ressaltar que o uso dessa tecnologia cresceu em grande parte devido as vantagens regulatórias temporárias. Os investidores que desejam adentrar nesse mercado devem estar atentos a esse risco, e dar preferência àqueles projetos que realmente possuem uma proposta de valor derivada das qualidades intrínsecas associadas à tecnologia blockchain como descentralização e ganhos de eficiência. Felizmente, o Brasil tem se mostrado amigável às novas ideias, e a popularização dessa tecnologia deverá contribuir para a melhoria do ambiente regulatório do sistema financeiro em geral.

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*somente para investidores qualificados


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