No 1T22, a Cemig divulgou resultados mistos, com bom crescimento de receita juntamente de pressão nos custos. Houve aumento das despesas operacionais (+11,6% a/a), principalmente em razão do aumento com dispêndios em serviços de terceiros, obrigações pós-emprego e depreciação e amortização. Além disso, verificou- se desempenho abaixo do esperado no canal de Distribuição, que sinalizou retração no volume consolidado de energia faturada. Porém, os resultados positivos apresentados pela Gasmig e no segmento de Geração e Transmissão, com a entrada de novos contratos de venda mais do que compensaram os reveses. Com isso, a Cemig divulgou EBITDA ajustado de R$ 1,9 bi (+15,6% a/a e +21% nossas estimativas). Em nossa opinião, o 1T22 apresentou resultados neutros, embora o bom desempenho na parte de geração e transmissão, a distribuidora desapontou em termos de performance. Entretanto, mantemos nossa recomendação Neutra para as ações da CMIG4, com preço de R$ 14/ ação visando o final de 2022.
Cemig GT. O total de energia faturada pela Cemig GT encerrou o trimestre em 6,9 milhões de MWh (-3,2% no a/a). O segmento de clientes livres, tanto no industrial quanto no comercial, apresentou uma expansão de 5,6%, entretanto a companhia anunciou que parte de seus contratos livres de vendas para comercializadoras foi transferido para a Cemig Holding, causando uma redução de -25% nessa categoria e impactando fortemente o volume total faturado pela subsidiária. Segundo a companhia, excluindo essa transferência interna, o crescimento registrado no volume seria de aproximadamente 13%. Mesmo com a transferência desses contratos, o EBITDA apresentado pela Cemig GT foi de R$ 945 mm (+26,7%), explicado pelo: (i) aumento de 28% das receitas de transmissão, dado o aumento de investimento em projetos de transmissão; (ii) a forte variação dos índices de inflação IPCA e IGP-M e; (iii) melhora de margem dado o aumento do preço médio de energia faturada durante o período.
Cemig Distribuição. O segmento de distribuição de energia registrou volume final de 11,1 milhões de MWh, redução de 3,4% a/a no total de energia faturada. Esse declínio foi causado principalmente pela diminuição do volume faturado nos segmentos industrial (-2%), rural (-34%) e serviços públicos (-6,7%), por outro lado o setor de comércio e serviços (+7,4%) foi o principal destaque positivo. As quedas também são justificadas pelas temperaturas mais amenas registradas esse ano, o maior volume de chuvas e a redução da atividade industrial nas regiões atendidas pela companhia. Por outro lado, o segmento apresentou expansão de 2,1% na base de clientes da companhia, tanto livres, quanto cativos, mas ainda assim, dada a redução na quantidade de energia distribuída, o EBITDA ajustado da companhia totalizou R$ 654 mm (-1,8% a/a), excluindo a reversão tarifária ocorrida no 1T21. O lucro líquido foi de R$ 375 mm (-4,1% a/a).
Gasmig: O volume de gás natural transportado ao final do trimestre totalizou 2,9 milhões de m3/dia (-21,6% a/a), devido ao menor despacho das usinas térmicas em decorrência do aumento de chuvas no período. Mesmo assim, o EBITDA foi de R$ 181,9 mm (+10,9% a/a).
Resultado financeiro e resultado líquido. A companhia apresentou forte variação em seu lucro líquido, principalmente em decorrência de variações cambiais. Graças à sua elevada alocação de dívida em moeda estrangeira, o resultado financeiro foi beneficiado, totalizando R$ 314 mm (vs -R$ 1,2 bi 1T21). Tal variação foi obtida principalmente pela queda de 15,1% no dólar durante o período, gerando uma receita de variação cambial de aproximadamente R$ 840 mm, em conjunto com a apreciação da curva futura de juros e a redução do endividamento líquido da companhia ao longo do período. Com isso, foi registrado resultado líquido no período de R$ 1,46 bi (+245% a/a e +97% acima de nossas projeções). Removendo o resultado financeiro não caixa, o lucro líquido teria sido aproximadamente de R$ 614 mm (+46% a/a).
Endividamento e investimentos. Ao final do 1T22, foi apresentada pela empresa uma dívida líquida consolidada no valor de R$ 7,3 bi (-14% vs final de 2021). Desse total, aproximadamente 51% são provenientes da Cemig GT, e 48%, da Cemig D. Vale ressaltar que a companhia apresenta aproximadamente 49,5% de sua dívida alocada em dólar. Com a sua melhora operacional e a redução de seu endividamento líquido, a Cemig encerrou o trimestre com um indicador de dívida líquida /EBITDA UDM de 1,23x (vs 3,0x covenant), o que gera bastante espaço para novos investimentos e expansão de seu portfólio. Ao final do 1T2, foram registrados R$ 500 mm em investimentos (+39% a/a), com foco principalmente em modernização do sistema elétrico, expansão no parque gerador e possíveis incrementos na RAP.