Em busca do melhor look
Após os últimos resultados, atualizamos nossas premissas e preço-alvo para a C&A. Incorporando as novas perspectivas para o cenário doméstico e considerando o horizonte para final de 2022 (YE22), mantemos nossa recomendação de compra em C&A (CEAB3) com preço-alvo/ação de R$ 7 (R$ 12 anteriormente).
Em 2020, com o home office, aulas virtuais e a limitada vida social de bares, festas e encontros pessoais, acompanhamos uma queda vertiginosa no consumo discricionário, sobretudo em vestuário. Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio realizada pelo IBGE, as atividades relacionadas a tecidos, vestuário e calçados acumularam 22,7% de queda no ano mais severo da pandemia.
Já em 2021, o fluxo de pessoas e o retorno às atividades presenciais foram crescentes no decorrer dos meses. Hoje, já podemos considerar uma rotina de volta a normalidade. Os dados de mobilidade divulgados pelo Google corroboram que os fluxos de deslocamento já encontram- se em níveis pré pandemia.
Para o acumulado de doze meses até fev/2022 da PMC/IBGE, as atividades relacionadas a tecidos, vestuário e calçados apontam um crescimento acumulado de 18,6%. Fato é que o consumo de roupas sempre esteve presente na rotina do brasileiro e, por isso, frequentemente vemos esse item liderando intenções de compras em datas comemorativas.
Entretanto, para o consumo discricionário dados macroeconômicos são fundamentais. Precisamos considerar os índices de inflação, junto aos níveis de emprego e renda, entre outros. Enfrentando obstáculos desde o começo da pandemia, a escalada de preços e o desemprego afetam a demanda por produtos. Nesse sentido, o consumo discricionário, caracterizado por bens “supérfluos” ou não essenciais, é bastante afetado.
O que se observa hoje é que as classes de renda mais baixas, o popular consumidor brasileiro, precisa pensar bem onde gastar sua renda disponível. Em 2021, oito a cada dez brasileiros precisaram cortar gastos, segundo a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
Dessa forma, precisamos separar nesse momento os nichos dentro do consumo discricionário, para entendermos o posicionamento das empresas em relação ao público-alvo. Dado que algumas marcas atendem um público mais afetado nos últimos anos, enquanto outras marcas são direcionadas para um público mais resiliente.
A C&A é uma das mais populares redes de vestuário no Brasil, com market-share aproximado de 4%. A Companhia atende todos os públicos em roupas, além de oferecer produtos eletrônicos e perfumaria. Analisando o público-alvo, mix de produtos e área de vendas por loja, acreditamos que a C&A foca no consumidor de classe C e B do mercado brasileiro. Rivalizando principalmente com: Renner e Riachuelo.
Por esse prisma podemos considerar que C&A atua no público mais afetado com a deterioração dos dados macroeconômicos e, por isso, os próximos resultados vão exigir muito esforço do management em busca de rentabilidade.
O ponto positivo desse case são as iniciativas implementadas nos últimos anos e que ainda estão em processo de ramp up. Dessa forma, acreditamos que a empresa diminuirá os gargalos logísticos e os níveis de ruptura, garantindo eficiência operacional e maiores níveis de satisfação do consumidor.
Notamos que o gap entre a operação logística da Companhia e suas principais concorrentes já vem se fechando. Os processos manuais e com maior margem de erro vem sendo substituídos por automatização. A otimização do novo software dos sistema Push & Pull, prevista para o final de 2022, deverá consolidar o conceito de ominicanalidade da C&A, já que a inteligência artificial capturará informações de todos os processos, subsidiando estratégias nos canais on e off.
Na esfera digital, a Companhia também apresenta grande vantagem. O app da C&A é o mais baixado dentro do segmento de moda no Brasil. Por essa posição de vanguarda, as iniciativas de omnicanalidade: Clique e retire, Corredor Infinito, Vendas WhatsApp são oportunas.
Por outro lado, uma piora nos dados macroeconômicos, para além do projetado, pode dificultar a capacidade de repasse de preços e demanda, afetando a rentabilidade da Companhia. Além disso, o mercado de e-commerce, embora promissor, ainda é subpenetrado. Isso quer dizer que a disputa por market share deve ser acirrada, já que outros players também almejam essa posição de líder no mercado digital de moda.
Resultado 1T22
A Companhia divulgou resultado fraco, com boa recuperação de receita, mas uma pressão grande em despesas operacionais. Embora as vendas em Vestuário e Fashiontronics tenham indicado retomada, os dispêndios mais do que compensaram esse efeito, culminando em EBITDA negativo e prejuízo líquido. O cenário macro ainda é desafiador, sobretudo ao considerarmos que o público-alvo segue na faixa mais afetada com a deterioração. Entretanto, acreditamos que a Companhia tem o que é preciso para ultrapassar esse momento e que o desconto em relação ao preço x valor traz uma interessante margem de segurança.
A C&A reportou receita líquida de R$ 1,2 mm (+54,2% a/a) no 1T22, frente a uma base fraca no a/a quando as lojas físicas (SSS +53,5% a/a) foram afetadas em função da pandemia. A receita de vestuário apresentou aumento de 61,1%, número considerado forte, mesmo levando em conta o impacto inflacionário no faturamento nominal. Já a receita de Fashiontronics avançou 50,0% a/a, dado o maior nível de sortimento e estoque que permitiu capturar conversão. A margem bruta total foi de 47,4% (+2,2 p.p. a/a) em função do melhor desempenho de vestuário e do aumento da participação de venda de itens de beleza, com melhores margens.
No 1T22, as despesas operacionais somaram R$ 570,3 mm (+46,8% a/a). As despesas de vendas totalizaram R$ 442,1 mm (+28,4% a/a), em decorrência de uma base comparativa fraca, quando as lojas estavam com restrição de funcionamento; da abertura de 22 pontos e do aumento de pessoal. Já as despesas gerais e administrativas ficaram 151,6% maior a/a, somando R$ 126,8 mm, explicadas pela contratação de pessoal no e-commerce e por reversão de provisões trabalhistas. O EBITDA ajustado no 1T22 foi negativo em R$ 107,1 mm. A margem EBITDA ajustada foi de -8,9% (+8,3 p.p. a/a), resultado, em nossa visão, temporário pelo descasamento do aumento nas despesas com pessoal e aluguéis com a geração de receita em crescimento. No 1T22, a C&A apresentou prejuízo líquido de R$ 152,7 mm, graças a maiores despesas financeiras.
No 1T22, a C&A consumiu caixa de R$ 685,6,8 mm (+47% a/a). O principal impacto foi no capital de giro, com um maior consumo de caixa em fornecedores e investimentos. A C&A encerrou trimestre com dívida bruta total de R$ 1,73 bi e com uma dívida líquida de R$ 1,1 bi. O múltiplo EBITDA/Dívida Líquida UDM próximo de 3x deixa um ponto de observação, apesar de compensado com as perspectivas positivas de maior geração de caixa nos próximos meses.
Avanços em ESG
Na frente de governança, foi instaurado o Comitê Interno de ESG para assessorar a Diretoria Executiva e o Comitê de Recursos Humanos na estratégia e responsabilidades relacionados ao tema. Não foram divulgadas mais ações no release do 1T22.
Valuation
Em nosso modelo de C&A, utilizamos o método do fluxo de caixa descontado de dez anos, com crescimento na perpetuidade nominal de 5% e taxa de desconto (WACC) de 12,6%. Consideramos um CAGR de receita nominal de 10% entre 2022-2032.