Spreads maiores e controle de custos ajudam, inadimplência joga contra.
O Bradesco reportou um resultado positivo, mas levemente abaixo das nossas expectativas, com lucro líquido de R$ 6,8 bilhões (+3,1% t/t e -2,4% R/E) e ROE de 18,0% (estável t/t e -0,8 p.p. R/E). O resultado foi direcionado principalmente pelo avanço da margem financeira com clientes, refletindo o ambiente de maiores spreads e pela redução das despesas operacionais, mas que foi compensada pela forte redução no resultado com tesouraria e pelo aumento da PDD expandida, que veio em linha com o crescimento da carteira e da deterioração da qualidade de crédito, onde a inadimplência do banco já atinge níveis pré-pandemia. Esperávamos um pouco mais do resultado com seguros, apesar de razoavelmente bom comparado ao 1T21, e serviços, que mesmo com queda sazonal t/t também foi bem na comparação anual. O Bradesco alterou seu guidance para 2022 melhorando suas projeções, principalmente para a margem financeira com clientes e redução das despesas operacionais, por outro lado, em linha com a deterioração da qualidade do crédito, a PDD expandida também sofreu um aumento. No net entendemos como uma alteração positiva, que sugere um lucro líquido acima das nossas expectativas, considerando o meio do guidance com um ROAE de cerca de 21% para 2022. Mantemos nossa recomendação neutra em BBDC4, com preço-alvo FY22 de R$ 26.
Margem com clientes protagoniza resultado, enquanto tesouraria despenca. PDD eleva com carteira e sinais de deterioração. A margem financeira registrou R$ 17,1 bilhões (+0,6% t/t e -1,6% R/E), impulsionada pela maior margem financeira com clientes de R$ 15,8 bilhões (+7,0% t/t e +4,9% R/E), que foi explicada pelo avanço do spread e volume, principalmente em linhas de veículos, cartão de crédito, crédito pessoal e capital de giro. A taxa média do banco evoluiu bem no trimestre, saindo de 9,1% no 4T21 para 9,7% no 1T22. Já a margem com o mercado (tesouraria), despencou 43,1% t/t (-44,7% R/E) registrando R$ 1,2 bilhão, refletindo impactos do aumento do CDI nas estratégias de gestão de ativos e passivos do banco. Com as despesas de PDD avançando 12,9% t/t (+1,7% R/E) em linha como crescimento da carteira e com uma inadimplência saltando para níveis pré-pandemia, a margem financeira líquida acabou vindo levemente abaixo do esperado, registrando R$ 12,2 bi, queda de 3,6% t/t (-2,8% R/E).
Crédito praticamente estável com Pessoas Físicas determinando crescimento. Inadimplência volta a níveis pré-pandemia. A carteira de crédito do Bradesco apresentou uma alta de 1,5% t/t e 22,8% a/a, registrando R$ 618,8 bi, refletindo principalmente o crescimento da carteira PF de 3,4% t/t versus a queda no ramo PJ de 0,6% t/t. O segmento PF continua avançando em linhas de maiores spreads como Cartão de Crédito (+7,6% t/t), Crédito Pessoal (+5,5% t/t) e CDC (+3,4% t/t). Observamos um avanço pujante da inadimplência total do banco, que saiu de 2,8% em dez/21 para 3,2% em mar/22, atingindo nível de 2019, que consideramos normalizados. Contudo, o ambiente macroeconômico sugere uma tendência de avanço da deterioração. O ramo PF mostrou salto de 3,8% em dez/21 para 4,4% em mar/22, com MPMEs também avançando de 3,1% para 3,6% na mesma comparação temporal. As grandes empresas permanecem com baixa inadimplência, registrando queda de 0,2 p.p. t/t atingindo 0,1% em mar/22. Com a forte deterioração da qualidade do crédito, o Bradesco viu seu índice de cobertura cair de 260,9% em dez/21 para 235,4%, mesmo aumentando as despesas com provisões no período, se aproximando de uma cobertura normalizada.
Leve queda com sazonalidade do 1T, mas renda com cartões mostra consistência. Em seguros, recuo sazonal, mas resultado bem melhor no a/a. O resultado com prestação de serviços registrou R$ 8,6 bi (-2,9% t/t e +6,7% a/a), com destaques para (i) Rendas de Cartão que caiu -3,9% t/t devido a sazonalidade do período, mas avançou 19,1% a/a, vindo do maior volume transacionado de cartões no trimestre com a retomada da mobilidade na comparação anual; (ii) conta corrente, que caiu -4,0% t/t, advindo de pressões em tarifas causadas pela competição e Pix, mas avançou 0,3% a/a, vindo do acréscimo de 4 mm de clientes em 12 meses, totalizando 37 milhões no 1T22 e do maior volume de negócios dos correspondentes bancários. O resultado com seguros totalizou R$ 3,3 bilhões, caindo 6,8% t/t com menor resultado financeiro e maior sinistralidade no ramo de saúde, mas na comparação anual (melhor visualização no ramo), o resultado avançou 4,7% a/a, com melhor resultado financeiro, compensando uma queda no resultado operacional.
Menores despesas, também com efeitos sazonais garantiram o bom bottom-line no trimestre. As despesas operacionais totalizaram R$ 11,7 bilhões (-9,1% t/t e 4,4% a/a), direcionadas principalmente pela redução sazonal de 4,7% t/t nas despesas com pessoal, vindo de menores despesas na participação nos resultados e encargos sociais e redução de 10,2% nas despesas administrativas, refletindo melhor controle de custos, principalmente em serviços de terceiros e propaganda e publicidade. O Bradesco não reduziu agências no período, por outro lado houve uma redução de 137 Pontos de Atendimento (PAEs/PAs) para 4.396 no 1T22, totalizando entre agências e PAEs/PAs 8.317 unidades, uma queda de 1,8% t/t.
Guidance revisado para melhor. O Bradesco revisou seu guidance mantendo as projeções para carteira de crédito em 10% a 14% e para o crescimento das operações de seguros em 18% a 23%. Contudo, revisou para cima (i) o crescimento da margem com clientes, agora para 18% a 22%, uma boa evolução, na qual esperamos que os spreads devam continuar contribuindo para esse aumento; (ii) receitas com prestação de serviços para melhor, em 4% a 8%, na qual esperamos que deva vir de um bom resultado com renda de cartões com o melhor TPV observado; (iii) também para melhor, a evolução das despesas operacionais com crescimento de 1% a 5% e, por fim; (iv) revisando para pior a PDD expandida de R$ 17 bi a R$ 21 bi, que esperamos vir de um cenário de maior deterioração da qualidade de crédito como pudemos observar no 1T22. Se considerarmos o meio do novo guidance, nossas estimativas sugerem um lucro líquido em 2022 de cerca de R$ 32,5 bilhões com um ROAE de 20,8%, ou seja, um lucro 16,4% acima das nossas expectativas para 2022. Entendemos como positiva a revisão, porém, deve ser guiada principalmente pelo aumento da margem financeira com clientes e pela redução das despesas operacionais.
