Macroeconomia


Americanas | Revisão de Preço & Resultado 1T22

Captura de Tela 2023-03-23 às 10.08.27

Breno de Paula

Publicado 13/mai10 min de leitura

Recuperação de vendas e margens são destaques

Após os últimos resultados, atualizamos nossas premissas e preço- alvo para a Americanas. Incorporando as novas perspectivas para o cenário doméstico e considerando o horizonte para final de 2022 (YE22), alteramos nossa recomendação para neutra em Americanas (AMER3) com preço-alvo/ação de R$ 32 (R$ 45 anteriormente).

Em 2020, com a adoção do home office, as pessoas sentiram necessidade de equiparem seus lares com artigos que trouxessem mais praticidade, conforto e qualidade de vida, enquanto alternavam a vida laboral com o convívio familiar. Os recursos outrora destinados a serviços e consumo discricionário, foram boa parte alocados em móveis e eletrodomésticos. Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio, realizada pelo IBGE, as atividades relacionadas a móveis e eletrodomésticos cresceram 11,9% e 10%, respectivamente.

Passado o período mais turbulento da pandemia e com a retomada do fluxo de pessoas, já conseguimos observar uma volta à normalidade do trabalho presencial. Aliado a isso, reforçamos a característica intrínseca dos móveis, linha branca e eletrônicos: bens duráveis. Ou seja, seu ciclo de vida e uso é maior e dispensa reposição regular. Então, devido ao fato das pessoas já terem consumido essas categorias de produtos nos últimos meses, acreditamos que os recursos, a curto prazo, serão direcionados ao setor de serviços e mais ligados à vida social. Por último, e possivelmente mais importante, não devemos desconsiderar o efeito da inflação na renda real da população nesse momento. O aumento generalizado de preços limita as escolhas ao essencial.

Cientes disso, as Companhias de e-commerce já se movimentam em busca de outras formas de receita. Nos últimos meses acompanhamos as operações de consolidação, como forma de ampliar o sortimento de produtos e categorias na busca de um marketplace completo e que fidelize o cliente. Nesse aspecto, Americanas já é destaque. A baixa dependência de algumas categorias de ticket médio alto, somada à alta recorrência de compras oferecem resiliência frente ao cenário ao macro.

A combinação de negócios, com intuito de maximizar o valor de Americanas também foi considerada positiva pelo Inter Research e por consenso de mercado. A reorganização societária deixou a Companhia com uma estrutura enxuta, na qual o acionista de referência abriu mão do controle (detém aproximadamente 30% das ações vs. 70%free float). Até o momento, já foram concluídos: (i) a unificação das bases de dados; (ii) unificação dos estoques, melhorando o sortimento e o nível de serviço; (iii) integração dos CD’s em malha única e (iv) otimização financeira com redução do endividamento bruto.

A Americanas também tem importantes avenidas de expansão além da abertura de lojas. A Companhia tem planos de explorar o Fast Delivery, utilizando-se de Dark Stores em todas as regiões do Brasil. Ademais, a AME, plataforma financeira da Americanas, pretende ter participação relevante nos resultados da Companhia. A ideia que surgiu à princípio como carteira digital do ecossistema, já evoluiu para um super app.

A Ame já atingiu 32,5 milhões de downloads, 12 milhões de usuários ativos mensais (MAU) e um volume total de pagamentos (TPV) de R$ 28 bilhões. Por isso, consideramos essa frente financeira na vanguarda entre os players concorrentes.

Por fim, a Companhia tem demonstrado muito apetite em M&A’s, realizando 10 novos negócios desde 2020. As novas verticais visam prover capilaridade e sortimento, garantindo mais solidez as receitas com a diminuição da dependência de determinados segmentos.

Porém, nos últimos doze meses as ações da Americanas acumulam queda de 61%. Acreditamos que o racional também está relacionado com o ceticismo do mercado sobre a capacidade da Companhia em manter seu share e rentabilidade em um ambiente altamente competitivo entre os players. Aliado a isso, enxergamos um cenário desafiador em 2022 com: (i) aumento da inflação; (ii) elevação da taxa de juros; (iii) desemprego elevado e (iv) ano eleitoral. Desta forma, esta dinâmica de curto prazo não é favorável à confiança do consumidor. Nesse momento acreditamos que o foco das pessoas está no consumo não discricionário (alimentos) e no discricionário de alta renda.

Apesar disso, reconhecemos que Americanas negocia muito abaixo de seu valor justo. A empresa, menos dependente da linha branca, móveis e eletrônicos, adota uma estratégia diferente dos peers, mas igualmente interessante. Nossa recomendação neutra visa proteger o investidor até que a conjuntura atual dê sinais de inflexão. A falta de interesse para as empresas mais ligadas ao consumo impedem o trigger de valorização nesse momento.

Resultado 1T22

A Americanas deixa parte dos obstáculos para trás e demonstra sequência positiva em vendas e rentabilidade, em linha com as nossas expectativas. O momento desafiador do cenário econômico - com alta das taxas de juros, inflação crescente, pressão em custos e queda na renda da população - exige eficiência nas principais variáveis operacionais e financeiras da Companhia. Nesse trimestre, a Americanas exibiu capacidade de gerenciar esses percalços, mas o prejuízo líquido junto da queima de caixa, sobretudo na atividade operacional, continuam como ponto de atenção.

Em nossa opinião, a combinação de negócios, com intuito de maximizar o valor de Americanas foi acertada. A reorganização societária terminou com uma estrutura enxuta e comparável aos peers. Até o momento a Companhia conseguiu entregar: (i) a unificação das bases de dados; (ii) unificação dos estoques, melhorando o sortimento e o nível de serviço; (iii) integração dos CD’s em malha única e (iv) otimização financeira com redução do endividamento bruto.

No 1T22, o GMV consolidado da Americanas totalizou R$ 14,2 bi (+21,7% a/a). O canal digital contribuiu com GMV de R$ 4,8 bi (+24,3% a/a),mesmo sobre uma base comparativa muito forte com as restrições à mobilidade no 1T21. O e-commerce 1P apresentou ótimo crescimento de 24,3%, enquanto o 3P foi responsável por 16,9% na mesma base de comparação. O take rate foi de 10,3%. Já as lojas físicas atingiram R$ 3,2 bi (+27,7% a/a) e vendas nas mesmas lojas (SSS 4M22 ex Páscoa) de +10,3%, fruto de maior fluxo de pessoas em shoppings e recorrência de compra. No 1T22, a margem bruta apresentou melhora marginal atingindo 30,5% (+0,4 p.p. a/a), consideramos esse número positivo, se levarmos em conta o efeito inflacionário no período.

O EBITDA ajustado alcançou R$ 660 mm (+58% a/a), o maior valor da história para o período, refletindo os ganhos de sinergias da combinação dos negócios (B2W + LAME), das iniciativas de crescimento sustentável e da rápida evolução do plano de negócios da AME. Inclusive, a plataforma financeira superou a marca de 32 milhões de downloads e atingiu um TPV de R$ 7,8 bi (+53% a/a).

A Americanas terminou o 1T22 consumindo R$ 1,76 bi de caixa, devido (i) a sazonalidade do período; (ii) variações no capital de giro, sobretudo fornecedores e (iii) aceleração do Capex seguindo o cronograma de expansão (28 lojas inauguradas em 2022).

Avanços em ESG

Em janeiro, a Companhia integrou pela primeira vez o The Sustainability Yearbook 2022, anuário que reúne as empresas com melhores performances em sustentabilidade do mundo. Além disso, foi listada no ranking das companhias abertas com as melhores notas no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3.

Valuation

Em nosso modelo de Americanas, utilizamos o método do fluxo de caixa descontado de dez anos, com crescimento na perpetuidade nominal de 5% e taxa de desconto (WACC) de 12,7%. Consideramos um CAGR de receita nominal de 8% entre 2022-2032.


Compartilhe essa notícia

Receba nossas análises por e-mail