Investimentos no Exterior


O S&P 500 está caro?

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Gabriela Joubert

Publicado 05/dez5 min de leitura

Recordes atrás de recordes.

Desde as eleições norte-americanas, que consolidaram Trump como vencedor para um segundo mandato presidencial, o S&P 500 vem mantendo sua trajetória de alta, beneficiado por um otimismo generalizado do mercado quanto às expectativas de resultados das companhias para os próximos anos.

De fato, ao longo de sua campanha e conforme observado em seu primeiro mandato, Trump adota uma postura mais em prol do empresariado, inclusive com redução de tributação para pessoa jurídica e promessas de mais. Além disso, mercado vislumbra que a postura e a mensagem do America for Americans pode fortalecer a indústria nacional, especialmente no que tange a desburocratização da economia, o que facilitaria a maneira de se fazer negócios no país. No entanto, ao mesmo tempo que a bolsa americana seguiu batendo recordes sucessivos, ultrapassando inclusive a marca histórica dos 6.000 pontos, os juros futuros por lá também avançaram.

Ora, na teoria e na história, sempre que temos juros mais altos, vemos um mercado menos apto ao risco e, por conta disso, o apetite pelo mercado acionário diminui, fazendo com que o desempenho das bolsas fique abaixo do esperado. 

Se isso é verdade, por que não vimos esta correção ocorrer ao longo do ciclo de alta dos juros pelo Fed?

Boa leitura!

As peculiaridades da economia e da bolsa americana

Sem dúvidas, o patamar da bolsa americana reflete o nível de sua própria economia. Nas últimas décadas, a economia norte-americana manteve um crescimento médio anual de cerca de 2%, patamar relevante considerando que estamos falando da maior economia do mundo. O processo acaba se tornando um ciclo virtuoso, no qual o país cresce e as empresas investem mais em inovação, tecnologia, contratando mais, elevando receitas e arrecadação e fazendo com que o país cresça.

Mas o que faz os Estados Unidos “OsEstados Unidos”?

Empreendedorismo e Inovação

Primeiramente, precisamos ressaltar o perfil empreendedor histórico do cidadão americano. O país é conhecido por ter um dos maiores centros tecnológicos do mundo e é a casa das maiores empresas de tecnologia globais. Durante décadas, tem listado entre os países com maior número de patentes registradas no mundo, atrás apenas da China, que vem crescendo consideravelmente ao longo dos anos (ponto de atenção aqui!).

Esta característica empreendedora e inovadora permite ao país estar à frente de demais pares na criação e consolidação de empresas, em especial no setor tecnológico, o que se reflete na composição do S&P500, onde as grandes empresas do setor representam cerca de 1/3 de todo o índice.

Mas não só de tecnologia vive a economia norte-americana! Os Estados Unidos detém também as maiores empresas do mundo em outros setores importantes da economia, como automotivo, financeiro, farmacêutico e consumo, por exemplo.

Maior mercado consumidor do mundo

E por falar em consumo, o mercado norte-americano ainda é hoje o maior mercado consumidor do mundo, com gastos pessoais de mais de US$ 18 trilhões, de acordo com o Bureau of Economic Analysis(BEA), seguido pela União Europeia (US$ 10 bi) e pela China (US$ 8 bi).

Quando observamos historicamente o gráfico de consumo no país, vemos que mesmo em momentos de taxas de juros mais altas e inflação acima da meta, os níveis de gastos com consumo seguem em patamares sustentáveis, o que torna a economia norte americana bastante resiliente.

Esta potência consumidora também se reflete nas empresas que compõem a economia e, consequentemente, a bolsa. Dentre as maiores empresas do mundo em termos de receita, temos duas gigantes do varejo norte-americano, Walmart e Amazon, liderando o ranking, seguidas pelas petroleiras Saudi Arabian Oil e China Petroleum and Chemical, além da Apple.

Wall Street – coração do mercado financeiro

Outro aspecto importante, o mercado financeiro. Palco de grandes histórias que, muitas vezes, acabam virando excelentes filmes, os Estados Unidos são hoje o destino e sede das maiores empresas financeiras do mundo. Bancos, seguradoras, investidores, todos se encontram em Wall Street.

Os Estados Unidos são o polo financeiro global e detêm a maior bolsa de valores do mundo, a New York Stock Exchange (NYSE). Fundada em 1972, uma das mais antigas bolsas de valores do mundo, conta hoje com um valor de mercado de US$ 30 trilhões. Apesar de seu tamanho e liderança, em termos de volumes negociados diariamente, a NYSE geralmente perde para seu par tecnológico, a Nasdaq (National Association of Securities Dealers Automated Quotations). A importância é tão grande que o S&P500, índice composto pelas 500 maiores empresas listadas na NYSE, é o benchmark global do mercado acionário.

E como isso se reflete no S&P 500?

No primeiro trimestre do ano, vimos um movimento de alta generalizado, refletindo as expectativas de cortes de juros pelo Fedque chegavam a antecipar até seis cortes até o fim do ano. Desde o início do ano, vimos observando a tendência da Inteligência Artificial ainda dominando os mercados.

No entanto, em meados de abril, a resiliência da economia norte-americana e o patamar ainda saudável do mercado de trabalho mostraram que talvez os juros tivessem que se manter altos por mais tempo e, assim, vimos correção nas bolsas, com o S&P 500 recuando cerca de 5%. Mas apesar da pressão negativa sobre os mercados, as Big Techs seguiram seu rumo e continuaram puxando o S&P500 para cima, abrindo a diferença de desempenho entre as Mag7 e os demais papéis da bolsa.

No entanto, apesar da rápida correção em agosto, a partir de setembro vimos novamente a retomada da bolsa norte-americana, agora puxada por todos os setores, praticamente, espelhando as apostas de novos cortes pelo Fedem um primeiro momento, mas também a possibilidade de um cenário de maior crescimento econômico em 2025.

A vitória de Trump nas eleições presidenciais também contribuiu para um rali em novembro. Apesar das apostas do mercado de que poderemos ver inflação ainda persistente em 2025, o que limitaria a atuação do Fedno que tange o corte de juros, o mercado passou a precificar um cenário de maior crescimento econômico, em razão das políticas pró-América prometidas por Trump.

Perspectivas 2025

Olhando pela perspectiva do nível histórico de preço sobre lucro do índice, vemos que o atual patamar de 25x se aproxima de níveis pré-bolhas, como em 1990 que antecedeu a crise das ponto.com. Outro momento em que vimos o múltiplo chegar neste patamar foi em 2020, quando o mercado voltava dos períodos de lockdown e as empresas reajustavam suas operações e ainda mostravam balanços machucados pelos efeitos da pandemia. Exceto por estes dois momentos, historicamente o índice opera a 20x na média.

As semelhanças que vemos com o período antes da crise das dot.com é que em ambos os períodos o mundo vivenciava uma revolução tecnológica. No primeiro, com a chegada da Internet que certamente mudou a maneira como vivemos atualmente e agora com o desenvolvimento da inteligência artificial, o que trará, com certeza, um mundo diferente do qual conhecemos hoje. Nestes momentos de mudanças abruptas e inserção de nova tecnologia é natural vermos um novo patamar de valuation para os ativos, uma vez que os resultados das empresas tendem a se beneficiar rapidamente da implementação destas tecnologias, ganhando eficiência e melhorando margens. Assim foi com a internet e assim está sendo com a inteligência artificial.

Na leitura do mercado, as apostas se intensificam quanto ao retorno esperado com as aplicações destas novas tecnologias e quem serão os grandes vencedores nesta corrida. Em primeiro momento, o medo de ficar de fora (ou FOMO – Fear of Missing Out) prevalece e o mercado se ajusta, pagando mais caro pelo preço de se colher os benefícios no futuro e valuations como o da Nvidia, que chegou a 200x em 2023, passam a serem aceitos com mais facilidade.

Em um segundo momento, no entanto, conforme a empolgação vai minimizando, mercado passa a reavaliar os resultados apresentados pelas empresas e as perspectivas para o futuro. Neste período, começamos a ver os ajustes nas projeções para patamares mais condizentes e isso se reflete nos múltiplos esperados.

De acordo com as projeções da Bloomberg, se em 2024 o atual patamar de 6.000 pontos do S&P500 implica em um múltiplo de 25x, para 2024 já vemos projeções de múltiplos em 22x, o que significaria um recuo do S&P 500 a 5.500, ou queda de 7%. No entanto, vemos que esse múltiplo reflete as expectativas de continuidade no crescimento dos lucros para 2025. Nas projeções da Bloomberg, mercado espera um aumento de 12% nos lucros ante 2024.

Com base nas próprias expectativas do mercado, podemos ver alguma correção acontecendo em 2025, porém o que temos observado é mais um “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. Apesar de verem espaço para correção, ninguém está deixando de comprar bolsa norte-americana. Seja por falta de opções melhores (Europa lida com problemas internos tanto macro quanto políticos, China ainda luta para mostrar ao mercado que pode crescer e emergente sofrem com problemas internos diversos, vide Brasil), seja pelos motivos que listei no início do relatório.

Nesse sentido, apesar dos múltiplos sinalizarem um valuation esticado, ainda podemos ver o mercado aceitando pagar este preço por um período de tempo. 

O S&P 500 é o S&P 500!

Estar posicionado nas maiores empresas do mundo na maior economia do mundo vai fazer sentido em qualquer portfólio, o que mudará será o tamanho desta alocação. 

E isso para os investidores já basta!

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