Poucas divergências e muita unanimidade
Na semana passada, estivemos em Nova Iorque entre eventos e reuniões com investidores e a sensação de que saímos de lá é de que existem divergências no sentimento dos investidores, mas muito mais unanimidade. O descarte de um cenário recessivo se consolidou, com dúvidas agora quanto ao soft landing (ou o no landing at all) e o rumo da política monetária conduzida pelo FED.
Na alocação, renda fixa segue com boa preferência, uma vez que os juros mais altos (ou normalizados, como escutamos) devem prevalecer, com unanimidade no alongamento da duration dos portfólios. Quanto à alocação em renda variável, a busca por Quality prevaleceu, com a trend de AI ainda em evidência, mas com destaque às Mag 4 agora (Amazon, Microsoft, Meta e Nvidia). No entanto, ressaltamos os receios de valuations esticados e destacamos certa preferência a outros segmentos, como Financials e Industrials. Por fim, na alocação internacional, pelo ponto de vista dos investidores americanos, mercados emergentes aparecem na liderança, com especial atenção à Renda Fixa. Japão e Índia também estiveram entre as menções.
Pontos de Divergência
Dentre as divergências, a mais evidente ficou por conta da desaceleração do mercado de trabalho e a quantidade de cortes nos juros pelo FED até o fim do ano. Por um lado, vemos grandes apostas na resiliência do mercado de trabalho e na continuidade do aumento da renda, o que poderia seguir beneficiando o poder de consumo da população e, consequentemente, dificultando o trabalho do FED no controle das pressões inflacionárias. Por outro lado, alguns investidores já enxergam o movimento descendente da inflação suficiente para que cortes de juros sejam entregues ainda este ano, com expectativas de até dois cortes.
Os investidores ainda apostam na desaceleração da economia, seguida do arrefecimento das dinâmicas operando hoje no mercado de trabalho. A criação de vagas, medida pelo payroll, mostra-se ainda forte, apesar da desaceleração. Na última leitura, foram criadas 175 mil vagas, abaixo da expectativa de 240 mil novos empregos. Com isso, a taxa de desemprego aumentou na margem de 3,8% para 3,9%, enquanto os salários avançaram 0,2%, também abaixo da expectativa, crescendo a uma taxa anualizada de 3,9%.
No entanto, para alguns, a renda ainda deve seguir como principal vetor do poder de consumo da população, impulsionando o crescimento econômico e, com isso, mantendo as pressões inflacionárias. A inflação, por sinal, também continua trazendo questionamentos. Ao longo do primeiro trimestre, os dados de CPI mostraram que os preços voltaram a acelerar, colocando em dúvida o real apetite do FED para entregar os cortes de juros esperados para o ano e, inclusive, trazendo algumas apostas de possível novo aumento. O CPI de abril, contudo, trouxe certo alívio, ao avançar menos que o esperado e os investidores se dividem entre os que enxergam essas pressões se esvaindo e os que veem a economia em um novo patamar tanto de inflação quanto de juros.
Pontos de Convergência
Dentre os pontos em comum, destacamos a consolidação do cenário de soft landing da economia norte-americana. O call de recessão foi amplamente descartado e vemos agora os investidores se posicionando de acordo. Unanimemente, vemos um reposicionamento ao longo da curva de juros, com as recomendações de alongamento da duration dos portfólios se concentrando no meio da curva, nas maturities de 5-7 anos. A alocação sugere exposição não só às Treasuries norte- americanas, mas também ao bonds corporativos de melhor qualidade, com foco nos investment grade. A estratégia corrobora a visão de expectativa de início de cortes nos juros em breve, aproveitando ainda a oportunidade de juros mais altos no curto prazo, seguindo o passado recente no qual "Cash is King!", mas aproveitando para minimizar o risco de reinvestimento.
Na alocação de renda variável, a trend da Inteligência Artificial ainda é a preferência, mas com ressalvas. Mercado, entretanto, passa agora a focar nos quatro principais expoentes do mercado e preferindo as líderes Nvidia, Microsoft, Meta e Amazon. Outro ponto de concordância, com taxas de juros em patamares elevados por mais tempo, a busca por qualidade aumenta e já vemos o segmento perfomando acima do restante do mercado. Por trás do racional, o desempenho operacional mais estável destas companhias, com capacidades de entregas consistentes mesmo com desaceleração econômica à vista e possibilidade de melhores LPA, saindo um pouco dos valuations considerados esticados.
Nesse sentido, vimos posições voltando para setor de Financials e Industrials. O primeiro, beneficiado ainda pelos altos juros e as receitas financeiras, além do excesso de liquidez que tem ajudado as receitas nas áreas de trading, bem como a volta, mesmo que tímida, das operações de mercados de capitais. O segundo setor retomando dos patamares depreciados pela pandemia, seguindo a recuperação da cadeia de suprimentos global, além do processo de nearshoring que vem beneficiando as indústrias locais.
Por fim, para investimentos fora dos Estados Unidos, seguindo uma tendência que apontamos em março, em nosso relatório especial sobre mercados emergentes (leia aqui) temos visto uma forte preferência por mercados emergentes, mas neste momento mais pela renda fixa que se mostra muito atrativa, resultado de uma proatividade maior dos bancos centrais destas economia em agir contra a inflação previamente. No entanto, como mostramos em nosso relatório, podemos ver em um segundo momento as bolsas destes países respondendo positivamente e mais rapidamente à flexibilização de juros nos Estados Unidos.
Quanto à China, contrariamente à nossa visão, investidores seguem mais pessimistas com o mercado de ações chinês. A fragmentação geopolítica, as tensões sino-americanas, o aumento das medidas protecionistas contra produtos asiáticos estão entre os principais deflatores da tese. A crise no setor imobiliário também preocupa, mesmo com o recente pacote de resgate anunciado pelo governo chinês.
Nossa visão: conforme falamos no nosso relatório Market Strategy de Maio.24, na alocação internacional, seguimos recomendando parte da exposição em cash, considerando a relação risco/retorno com ganhos consideráveis sem grandes esforços. Reduzimos nossa exposição aos ativos de longo prazo, considerando a alta volatilidade e pressão que ainda devemos ver nestes títulos, mas vemos boa oportunidade nas durations de médio prazo, que se beneficiarão dos juros mais altos, porém com menos risco de reinvestimento. No crédito corporativo, seguimos neutros com high-grade e high-yield. Já para Renda Variável, mantemos nossa preferência para bolsas desenvolvidos, ex-US, onde ainda vemos espaço para correção. Seguimos também apostando na recuperação da bolsa chinesa.