Palavra da Estrategista
A dúvida é pior que a certeza
A ressaca pós-carnaval veio antes este ano. Nem a temporada de balanços no exterior melhor que o esperado foi suficiente para impulsionar as bolsas norte-americanas que sentiram o baque das correções nos papéis de tecnologia. O resultado da Nvidia, apesar de acima das expectativas, não gerou a empolgação esperada, e o S&P 500 encerrou o mês em queda de 1,5%.
Pela ótica macroeconômica, os dados continuam mostrando robustez. O mercado de trabalho não dá sinais de piora, conforme payroll que veio acima das expectativas para o mês. O PIB também segue forte e esperamos em crescimento de 2,4% para o ano. Consequentemente, a inflação se mostra persistente e janeiro tivemos uma surpresa negativa, com o CPI vindo em 0,5%, somando 3% em 12 meses. Esta junção de fatores vem tornando a vida do Federal Reserve mais difícil e já vemos o mercado precificando entre um e dois cortes para este ano, porém apenas no segundo semestre.
Ao mesmo tempo, as políticas do novo governo quanto à imigração e tarifas seguem trazendo ainda mais incertezas ao cenário e o índice VIX, que mede a volatilidade dos mercados, chegou ao seu maior nível no ano, acima dos 20 pontos.
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O custo da dúvida
Mais incertezas, mais volatilidade
Fevereiro seguiu o compasso de indefinição do início do ano, com investidores prorrogando algumas tomadas de decisões enquanto mensuram os reais impactos das políticas do novo governo Trump, seja pela imposição de tarifas, pela redução de impostos ou pelo processo de desregulamentação da economia.
Novamente, as conversas sobre tarifas voltaram ao radar, com provável início de cobranças de 25% sobre Canadá e México, mas agora incluindo também a União Europeia. Vimos Trump se aproximando mais de Rússia e avançando em conversas para por fim à Guerra na Ucrânia. Quanto à relação com China, as posições parecem mais controversas. Ao mesmo tempo que as restrições de compartilhamento de tecnologia continuam, assim como as ameaças de tarifas, Trump acenou para mais investimentos chineses em território americano. Essa posição ajudou a melhorar o otimismo com China, que já vinha chamando atenção desde o fator DeepSeek no início do mês passado.
No campo macroeconômico, o consenso aponta para juros ainda altos no primeiro semestre, uma vez que para a inflação acima da meta, mercado de trabalho aquecido e o crescimento econômico forte poderiam limitar a atuação do Fed no que tange a flexibilização da política monetária. No entanto, aqui, vale ressaltar que a queda recente na confiança mostra um certe desconforto com as incertezas com o novo governo, o que, se consolidado, poderia afetar as decisões futuras de consumo e investimentos.

Volatilidade demanda um portfólio defensivo, mas oportunidades podem surgir nos alternativos
Em momentos de alta volatilidade e aumento de incertezas, é crucial adotar uma abordagem mais defensiva ao nosso portfolio enquanto nos mantemos abertos às oportunidades.
A diversificação continua mandatória. Mantemos o otimismo com a classe de renda fixa, já que os juros mais altos implicam em maiores taxas. Entretanto, o risco de crédito também está presente, e devemos lembrar que maiores taxas beneficiam os investidores, mas dificultam a vida dos que precisam pagar. Dispender uma maior atenção ao emissor é importante, além de escolher diferentes vencimentos. Apesar dos dados macroeconômicos resilientes sugerirem juros ainda altos no ano, o efeito de desaceleração das tarifas na economia não pode ser descartado. Por isso, mantemos nossa preferência para títulos vincendos no meio da curva, com bonds entre cinco e dez anos.
Com relação às ações, apostar no mercado norte-americano está cada vez mais complexo. Os lucros esperados para as empresas têm sido revisados para baixo, com as próprias companhias sinalizando para uma demanda mais acomodada e a persistência de custos altos por conta da inflação. Além disso, as tarifas impostas recentemente poderia trazer ainda mais pressão às margens, especialmente para empresas de crescimento. Não obstante, ainda vemos oportunidades em setores que deverão se beneficiar das novas políticas de Trump, como o industrial, o financeiro e até mesmo o setor de saúde. Aqui, preferimos nomes já estabelecidos devido à sua forte presença de mercado e resultados estáveis.
Buscando por oportunidades em outras classes, o ouro continua desempenhando bem devido ao seu caráter mais defensivo. Além disso, o setor de real estate segue sob pressão por conta das taxas de juros e altos preços dos imóveis. Neste sentido, o segmento de multifamily poderia ser beneficiado.

