Investimentos no Exterior


O rali no mercado de bonds

GAbi Joubert perfil 2

Gabriela Joubert

Publicado 09/set3 min de leitura

FED vai cortar, mas no ritmo precificado?

  • Aumenta a divisão dos investidores quanto ao ritmo de cortes de juros pelo FED e mercado de Bonds continua volátil

  • Os defensores de cortes mais agudos apostam em um cenário recessivo, enquanto os mais conservadores veem uma economia ainda resiliente

  • A curva de juros normalizou antes de se observar uma recessão, contrariando seu histórico em antecipar tais momentos. Será desta vez diferente?

  • Alguns agentes acreditam que o início da normalização é o que sinaliza o início de uma recessão.

Desde o início de agosto, os investidores têm apostados em cortes agressivos nos juros norte-americanos, consolidado pelas apostas de que talvez a economia esteja caminhando para uma iminente recessão. Os dados de payroll que vieram abaixo das expectativas dos economistas, bem como a taxa de desemprego que se manteve acima de 4%, trouxeram preocupações de que a desaceleração da maior economia global possa ser maior que o esperado e, talvez, que o precificado.

Dentre aqueles que esperam cortes mais agressivos, estão os que veem a economia desacelerando fortemente e caminhando para uma recessão, o que levaria o Fed a entregar cortes em maior magnitude, visando conter os impactos no mercado de trabalho e na atividade. Para estes, o Fed estaria atrasado nos seus cortes, o que implicaria uma decisão de reduzir em 50 p.b. os juros já na primeira reunião em setembro.

Do outro lado, os mais conservadores acreditam que, apesar de desacelerar, a economia norte-americana segue resiliente e o mercado de trabalho saudável, contribuindo para um cenário de soft landing, exigindo alguns cortes pelo Fed, mas na observância da evolução dos dados de atividade, inflação e emprego. Para estes, um corte de 50 p.b. já no início poderia estimular a economia, trazendo novamente pressões inflacionárias e desancoragem das expectativas.

Em setembro, estamos vendo a continuidade destas incertezas, refletida na volatilidade dos mercados, com o índice VIX (também conhecido como o índice do medo) operando acima dos 20 pontos.

Mas o que gostaríamos de chamar a atenção é para a curva de juros. As curvas vêm mostrando forte volatilidade, com grande sensibilidade aos dados de mercado de trabalho. No início do mês, vimos a curva de juros iniciando um processo de “desinversão”. Os juros das Treasuries de 2 anos que em abril rondavam os 5%, agora já estão próximos de 3,7%. Esse movimento é importante, considerando que a inversão da curva de juros antecipou quase todas as recessões nos Estados Unidos, desde 1955.

Ao mesmo tempo, quando a curva desinverte, como vemos agora, alguns agentes acreditam que pode ser um sinal de correção à frente, podendo, desta vez, mostrar que a recessão está, definitivamente, a caminho.

Mas o que, de fato, é a curva de juros?

A curva de juros é uma representação visual da diferença entre as taxas de curto e longo prazos. Geralmente, o investidor demanda uma maior remuneração para prazos mais longos (o valor do dinheiro no tempo). Por esta razão, para títulos de 10 anos, por exemplo, os juros serão mais altos do que os pagos a títulos de dois anos. Com isso, em situações normais, a curva de juros têm inclinação ascendente, ou seja, para cima.

Quando vemos uma inversão desta inclinação, significa que os juros de curto prazo estão maiores que os juros dos títulos de longo prazo, mostrando que o mercado está “cobrando” mais juros agora, esperando juros menores no futuro. Nas últimas décadas, na grande maioria das vezes que vimos uma inversão da curva, vimos uma recessão acontecer nos Estados Unidos, exigindo cortes de juros.

Historicamente, a curva de juros reflete as expectativas do mercado com relação à economia, principalmente quanto à inflação e a posicionamento que o Banco Central, neste caso o Federal Reserve, deverá adotar quanto à política monetária. Se a inflação sobe, investidores demandam maiores juros para compensar a queda de poder aquisitivo lá na frente. Mas a curva de juros pode inverter quando investidores esperam uma recessão, sinalizando expectativa de juros mais baixos no futuro, conforme o banco central precise estimular a economia. A inversão na curva de juros norte-americana antecipou cada uma das sete recessões dos últimos anos.

Então, o processo de desinversão da curva não deveria significar uma normalização de cenário?

Não necessariamente. Alguns agentes acreditam que o início deste movimento é o que traz realmente o início da recessão. Quando o Banco Central começa a cortar os juros talvez já seja tarde demais para evitar que uma recessão chegue. Porém, até para esta visão, é preciso cautela. Afinal, o que não falta é ajuste nos discursos para fazer valer o “Eu avisei”.

O que vemos, no entanto, é o Fed ainda preocupado com as pressões inflacionárias, mas mais que isso, atento aos números de atividade e mercado de trabalho. O que está claro é que teremos o início do ciclo de cortes, mas a magnitude destes cortes e seus impactos no mercado de bondsainda vai depender dos dados macro que veremos ao longo dos próximos meses.

Receba nossas análises por e-mail