
Humor muda e investidores buscam alternativas
Desde fevereiro, quando bateu seu pico, o S&P500 já recua mais de 10%, apagando praticamente US$ 5 trilhões em valor de mercado. Após um ano de recordes atrás de recordes, 2025 tem sido desafiador, com os investidores questionando o real preço a ser pago pelas medidas adotadas por Trump para a tão almejada supremacia norte-americana.
O sentimento veio carregado de incertezas e ao mesmo tempo que o índice VIX, conhecido também como Índice do Medo, batia sua máxima no ano, o mercado de bonds superava em desempenho as ações, conforme o efeito Magnificent 7 vai se esvaindo. A temporada de balanços trouxe números ainda robustos das empresas, com superação do consenso tanto para receitas quanto para lucros, na maior parte dos casos. Mas, com o aumento da cautela, aumentaram também as revisões para o ano e agora analistas já esperam resultados mais fracos para as empresas nos próximos trimestres.

Esta mudança de expectativas reflete uma certa decepção do mercado com o posicionamento do novo governo quanto aos efeitos de suas políticas, principalmente a imposição de tarifas, na economia.
Dados recentes de inflação mostram alguma desaceleração. Tanto o CPI, inflação ao consumidor, quanto o PPI, inflação ao produtor, vieram abaixo do esperado pelo mercado, sugerindo um enfraquecimento nas pressões de custos. Lembramos que no início do ano o Feddecidiu por manter os juros no atual nível, ao invés de seguir com seu ciclo de cortes, uma vez que tanto a atividade quanto o mercado de trabalho se mostram ainda resilientes.

No entanto, o cenário de tarifas poderia levar a uma espiral de aumento de preços, impactando a decisão de juros dos bancos centrais globais. De acordo com as projeções da OCDE, a depender da intensidade das tarifas impostas globalmente, poderíamos ver um aumento de 0,3% na inflação global, o que levaria a um crescimento de 3% no PIB global em 2026, queda de 0,3% ante a projeção anterior.

Já para os Estados Unidos, a organização prevê um crescimento econômico de apenas 1,5% em 2026, desacelerando ante os 2,8% esperados para este ano.

O Velho Continente surge como a fênix
Antes esquecida, a Europa aparece agora como uma alternativa àqueles que buscam ainda mercados desenvolvidos, mas não querem incorrer o risco de uma realização mais abrupta no mercado acionário norte-americano.
A Europa foi penalizada nos últimos anos por conta dos conflitos geopolíticos na região que trouxeram grandes incertezas e desafios. A Guerra na Ucrânia e as restrições impostas à Rússia levaram a um aumento generalizado de preços na região, forçando os bancos centrais a elevarem os juros, mesmo com um cenário de desaceleração da economia. No entanto, desde o fim do ano passado para frente, temos visto uma acomodação dos efeitos negativos que vinham impactando as variáveis macroeconômicas por lá. Desde o início do ano, o STOXX, índice composto das principais empresas europeias, já sobe mais de 8%.

Até mesmo os conflitos geopolíticos parecem impactar menos as decisões dos investidores que veem uma solução mais próxima agora do que há um ano. Mesmo com as ameaças de tarifas, os conflitos geopolíticos na região e as instabilidades em alguns governos, as notícias recentes de novo pacote de gastos pelos governos locais, em especial na Alemanha, levaram também a uma melhora nas expectativas de crescimento na região. Esta melhora do otimismo se reflete também nas projeções de crescimento para os países na zona do euro, conforme colocado pela própria OCDE.

Na temporada de balanços do 4T24, de acordo com dados da LSEG Analytics, os lucros das empresas que compõem o STOXX 600 subiram cerca de 8,6% ante o 4T23, sendo que excluindo o setor de energia, que vem sendo afetado pelo cenário de guerras na região, os lucros corporativos avançaram mais de 15% na mesma base de comparação. Das companhias que já reportaram seus balanços, cerca de 58% bateram as estimativas dos analistas, número acima da média histórica de 54%.

Mas, não apenas isso. Já vemos melhores expectativas para os balanços das empresas, com analistas revisando para cima suas projeções de lucros e receitas para o restante do ano. O múltiplo preço sobre lucro vem acompanhando a evolução do índice, o que reflete esse maior otimismo com a evolução dos lucros corporativos para frente.

E na Ásia, a China reaparece. “Oi, sumida!”
Outro mercado que vem chamando a atenção dos investidores está lá do outro lado do mundo, na Ásia. A China passou por momentos difíceis no pós-pandemia, com correção intensificada causada pela crise imobiliária que gerou perda de riqueza e confiança. A desaceleração da economia também foi um agravante, já que agora vemos um novo patamar de crescimento do PIB da segunda maior economia do mundo que sai de duplo dígito ao longo das últimas décadas para cerca de 5%, de acordo com a meta estipulada pelo próprio governo.

Ao longo dos últimos anos, vimos também importante mudança de posicionamento do governo chinês, agora mais favorável ao capital privado, o que tem beneficiado o setor corporativo e as projeções de lucros.
Outra mudança importante, o direcionamento da nação ao desenvolvimento do setor de tecnologia têm trazido ao mercado alternativas à predominância americana no segmento, com as Big Techs. A ascensão de nomes como BYD, fabricante de veículos elétricos, mostra o resultado deste novo posicionamento. No ano, o setor de tecnologia chinês sobe quase 30%, impulsionado pelo efeito Deepseek, empresa que apresentou ferramentas de inteligência artificial com custos menores e eficiência similar aos grandes players, o que tem também elevado os questionamentos sobre os atuais valuations das Magnificent 7.

Todos estes fatores combinados, adicionados às incertezas ante o governo Trump II contribuíram para uma melhora no sentimento do mercado e no otimismo com China. Pesquisas recentes divulgadas pelo Bank of America mostram que existe um maior otimismo quanto à melhora da economia chinesa, ao mesmo tempo em que gestores vislumbram menor crescimento nos Estados Unidos. Isso tem contribuído para esta maior rotatividade que temos visto nos mercados, com redução do fluxo de capital que vinha saindo do país nos últimos anos.