Carteiras


Market Strategy | Agosto 2024

GAbi Joubert perfil 2

Gabriela Joubert

Publicado 01/ago4 min de leitura

Resumo:

• Brasil: Atividade surpreende, mas cautela prevalece com cenário de riscos 

• Internacional: Cenário mais claro para corte dos juros norte-americanos 

• Commodities: desaceleração econômica global pressiona preços dos insumos 

• Imobiliário: Recorde de vendas no Brasil, mas nos Estados Unidos estoques aumentam 

• Bolsas globais: Resultados das empresas e FED levam à rotatividade de setores 

• Bolsa Brasil: Ibovespa sobe com entrada de capital estrangeiro 

• Renda Fixa: Copom mantém a Selic, mas juros voltam a subir e prêmios avançam 

• Indústria de Fundos: renda fixa continua como destaque na captação do ano 

• Alocação Estratégica: “IPCA+6%” ou “dólar+5%”?

Julho foi marcado pela consolidação das apostas de que o FED dará início ao corte de juros em setembro, conforme dados de atividade e inflação confirmam a tendência de desaceleração. A curva de juros cedeu nos Estados Unidos, com os juros das Treasuries de 10 anos recuando do nível estressado de 4,7%, para abaixo de 4,0%. As bolsas, no entanto, tiveram comportamento misto, conforme a temporada de balanços foi redesenhando as expectativas extremamente otimistas de Wall Street. Os índices Dow Jones (qualidade) e o Russell 2000 (Small Caps) tiveram forte recuperação no mês, de 5% e 10%, respectivamente, enquanto Nasdaq recuou cerca de 2%.

No Brasil, o risco fiscal continua no radar e o governo precisou agir, divulgando um plano de contingência de cerca de R$ 15 bi, ainda insuficiente para o ajuste e credibilidade. A curva de juros e os prêmios de riscos voltaram a patamares estressados, com a NTN-B ultrapassando os 6%. Por outro lado, o cenário de queda de juros nos Estados Unidos retomou a tese de emergentes e o investidor estrangeiro voltou a comprar bolsa brasileira, fazendo com que o índice avançasse 3% no mês, reduzindo parte das perdas do ano.

Pensando na alocação para o próximo mês, mantemos nossa preferência pela Renda Fixa, tanto aqui quanto lá fora. No Brasil, seguimos forte com nossa recomendação de indexados e pós-fixado, enquanto vemos no pré uma relação risco x retorno menos favorável. Nos Estados Unidos, apesar da posição em curto prazo, reforçamos a necessidade de reposicionar o portfólio para durations um pouco mais longas, evitando assim o risco de reinvestimento. Lembre-se, o mercado se move rapidamente. Já na renda variável, podemos ver a continuidade da recuperação da bolsa brasileira, com a melhora do cenário externo e alívio no risco fiscal doméstico. Já nos Estados Unidos, vemos ainda risco de correção no S&P500, influenciado pelos balanços das Mag7. Nas demais linhas, reduzimos nossa exposição às commodities, mas mantemos nossa posição em FIIs e fundos multimercados.

Por fim, sobre a discussão “IPCA+6% ou dólar+5%”, reforçamos a importância de diversificar e de agir, principalmente em momentos de oportunidades como estes. Enquanto aqui ainda conseguimos aproveitar os prêmios estressados, lá fora o mercado já começa a se movimentar e o tal dólar+5% pode ficar para trás em muito breve.

Cenário Macro - Brasil

Atividade surpreende, mas cautela prevalece com cenário de riscos: 

O primeiro semestre surpreendeu com atividade mais forte que o esperado e mesmo o impacto das chuvas no Sul foram atenuados com uma recuperação mais robusta em junho. O dado de mercado de trabalho de junho exemplifica bem o atual cenário, com a taxa de desemprego próxima da mínima histórica, em 6,9%, e população ocupada e massa salarial batendo recorde da série. O rendimento real médio teve alta real de 5,8% em 12 meses e, sem um ganho significativo de produtividade, a inflação de serviços pode se manter pressionada, o que foi destacado no comunicado do Copom na reunião de julho. A Selic foi mantida em 10,5% e o tom foi de cautela com o cenário de riscos. O IPCA mostra alguns sinais de preocupação, e deve fechar 2024 mais próximo de 4,2% com inflação de serviços acima de 4,5%, mesmo com a Selic mais restritiva por mais tempo.

Apesar dos juros altos no Brasil e contas externas favoráveis, com o forte desempenho da balança comercial, o câmbio continua depreciando e o real fechou o mês em R$5,65, uma desvalorização que acumula 16% e também mantém o Copom em alerta. Nossa expectativa é de manutenção da Selic em 10,5% por um prazo mais prolongado, considerando os atuais riscos no cenário, com mercado de trabalho aquecido, câmbio depreciado e risco fiscal.

A política fiscal segue no radar com a deterioração do resultado primário até junho e déficit acumulando 2,4% do PIB. O anúncio de contingenciamento de R$15 bilhões ainda é insuficiente para cumprir a meta e não trouxe alívio para o mercado. Enquanto isso, o custo da dívida continua subindo e o déficit nominal acumula 9,9% do PIB, o que elevou a dívida bruta/PIB para 77,8% em junho, uma alta de 6 p.p. em apenas 18 meses.

Cenário Internacional

Cenário mais claro para início do corte dos juros norte-americanos: 

Os sinais de desaceleração da economia americana foram suficientes para o Fed indicar que o início do corte de juros está próximo, muito provavelmente em setembro. A inflação medida pelo PCE teve nova queda em junho e acumula 2,6% em 12 meses, patamar acima da meta, mas apontando que a tendência de convergência deve continuar. Os dados do mercado de trabalho também seguem na mesma direção, com o a redução no número de vagas de trabalho criadas e o aumento do desemprego que já chega a 4,1%.

A desaceleração da atividade global e arrefecimento da inflação tem sido trigger para o afrouxamento da política monetária, com início dos cortes na Zona do Euro, na Inglaterra, e a indicação de que nos EUA a queda de juros também está próxima. A redução de risco nas taxas de juros é evidente, com o título de 10 anos dos EUA voltando para o patamar de 4%, o que não se via desde janeiro.

O mês de julho foi marcado por nova queda nos preços internacionais de commodities, também indicando desaceleração da economia global e frustração com a retomada do crescimento da China, que anunciou crescimento do PIB de 4,7%% no 2º trimestre, desacelerando em relação ao resultado de 5,3% do 1T24.

Real Estate

Recorde de vendas no Brasil, mas nos Estados Unidos estoques aumentam: 

O mercado imobiliário brasileiro segue aquecido e preços em alta. As construções vem sendo impulsionadas pelo programa Minha Casa Minha Vida, resultando em recorde de vendas no primeiro semestre do ano pelas empresas listadas na bolsa que atuam nesse segmento.

A confiança para a construção iniciou o segundo semestre com boas perspectivas pela demanda, mas ainda abalada com o aumento dos custos do setor, especialmente o de mão de obra, e a elevada carga tributária. O sustento da demanda se deve principalmente ao bom desempenho do mercado de trabalho, especialmente o setor formal. Já a preocupação referente à carga tributária segue em discussão diante da proposta na reforma tributária de aumento da alíquota para operações de compra e venda que deverá aumentar o valor dos imóveis.

Nos EUA, os preços de imóveis em alta e taxas de hipoteca elevadas estão afastando potenciais compradores que aguardam por um alívio nos preços com a tão esperada queda dos juros por lá, o que tem levado a um acúmulo de estoque em listagens no mercado.

Desempenho das Bolsas Globais

Resultados das empresas e FED levam à rotatividade de setores: 

Estados Unidos: 

Ao longo do mês, o cenário de corte de juros pelo FED que foi se desenhando ajudou a dar impulso aos setores mais sensíveis aos juros e vimos os índices como Dow Jones e Russell 2000 recuperarem boa parte do gap que S&P 500 e Nasdaq haviam deixado.

Por outro lado, a temporada de balanços, que começou com expectativas elevadas, arrefeceu um pouco do otimismo com AI, afinal Wall Street passa a cobrar resultados dos recursos investidos até o momento.

Nos subíndices, o setor de Real Estateavançou mais de 20%, sendo a maior alta do mês, enquanto tecnologia e comunicação tiveram quedas respectivas de 3% e 4%.

Mundo

Na Ásia, apesar do recuo no mês, o Nikkei continua como o grande campeão do ano, em alta acumulada de mais de 16%, beneficiado pela valorização do iene e pelo cenário de maiores juros no Japão, com forte migração de recursos ao mercado local. Na China, o desempenho dos ativos tem leve alta no ano, com investidores ainda indecisos sobre o ritmo de recuperação da economia chinesa.

Na Europa, as bolsas encerraram em leve alta, com investidores elevando as apostas de cortes de juros pelos bancos centrais ainda este ano. Os dados de atividade em desaceleração mostram que a região está pronta para a continuidade da flexibilização da política monetária, mas ainda dependendo do rumo dos juros nos Estados Unidos.

Desempenho Ibovespa

Com uma ajudinha do gringo, Ibovespa mantém mais um mês de alta.

No mês de julho, o Ibovespa manteve a toada positiva e avançou 2,8%. Em primeiro lugar, tivemos um efeito vindo do exterior com expectativas de corte de juros pelo Fed se consolidando de que o Fed. Em segundo, algumas movimentações do governo acenando para um corte de gastos trouxeram algum alívio, mesmo que o mercado não esteja considerando suficiente. Desta forma, julho pode ser o primeiro mês do ano com um fluxo positivo do investidor estrangeiro, que aportou R$ 3,6 bilhões líquidos na bolsa brasileira, saldo ainda tímido, mas que começa a mostrar uma desaceleração do fluxo de saída, que acumula R$ 36,5 bilhões no ano.

O setor industrial tem sido um destaque à parte no mercado brasileiro, muito em função da performance da Embraer e Weg que no mês avançaram 21% e 17% respectivamente, reforçando uma preferência do mercado para os cases de exportadoras, mas não só isso, cases que têm se destacado operacionalmente em seus respectivos mercados de atuação.

Não só o setor industrial se beneficiou no mês, a maioria dos segmentos performou bem subindo na faixa dos 4%, aproveitando o bom humor do investidor estrangeiro, que tem visto a curva de juros norte americana fechar, o que faz abrir o apetite para mercados ignorados, que é o caso do Brasil.

Agosto tem tudo para ser um mês positivo, com a temporada de resultados que pode surpreender positivamente, principalmente para empresas que estavam mais alavancadas e que estão recuperando resultados, caso do varejo, por exemplo. Mas vale ficarmos atentos aos dados de inflação nos EUA que podem ditar o tom das apostas quanto aos cortes em setembro, que seguem firmes e que no final das contas, tem ditado o tom da nossa bolsa por aqui também.

Desempenho da Renda Fixa

A montanha russa dos juros brasileiros!

A volatilidade dos juros no Brasil aumento e o cenário é de estresse, com a curva DI ficando bem acima da projeção Focus e do atual nível da Selic, como se o mercado estivesse precificando uma alta dos juros por parte do Bacen e não uma queda.

O risco fiscal foi um dos principais catalisadores para o aumento dos prêmios locais, o que levou o governo a apresentar um plano de contingenciamento, visando acalmar os ânimos do mercado e as projeções futuras não só de juros e inflação, mas também o atual patamar do câmbio.

Por fim, a dinâmica dos juros nos EUA, que já foi um grande motivador da curva aqui, agora fica em segundo plano. As expectativas, atualmente, são de dois cortes de juros por parte do FED ainda este ano, mas o atual patamar da inflação, a corrida eleitoral e a performance da economia também deixam o cenário em aberto, aumentando a volatilidade.

Indústria de Fundos

Fundos registram captação liquida positiva de R$ 78,81 bilhões no mês de julho

Os fundos de renda fixa continuam como destaque de captação no ano. Desde janeiro a captação na classe soma mais de R$ 253 bilhões.

No mês de julho os fundos de investimento registram até o dia 19 um saldo positivo de R$ 78,81 bilhões.

As classes de multimercados e de ETFs foram responsáveis por quase a totalidade do resultado negativo da indústria no ano. Elas tiveram retiradas líquidas de R$ 93,93 bilhões e R$ 3,41 bilhões, respectivamente.

Renda fixa, FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) e previdência, somam uma entrada líquida no ano de R$ 337,31 bilhões.

A classe de renda fixa representa atualmente 39% do total geral da indústria de fundos. Isso mostra grande aversão a risco do investidor, que ainda está buscando investimentos menos arriscados.


Compartilhe essa notícia

Receba nossas análises por e-mail