Cenário
O trimestre encerrou com recordes renovados no exterior, com o S&P 500 apresentando seu melhor desempenho trimestral desde 2019, impulsionado pelo setor de Tecnologia e potencial da Inteligência Artificial, bem como a confirmação das apostas de que o FED deve iniciar o corte de juros em breve. No entanto, vale ressaltar que, comparado ao observado no fim do ano passado, a curva de juros norte-americana corrigiu, com investidores reprecificando os cortes esperados para este ano, conforme o risco de nova alta da inflação se renova com a economia ainda forte, o que deve exigir cautela quanto à flexibilização da política monetária. O cenário reforça uma visão mais branda à redução dos juros, com algumas casas, inclusive, apostando em apenas dois cortes do FED para este ano.
No Brasil, infelizmente o Ibovespa descolou novamente dos pares e acumulou queda de 4,5%. Os dados internos mostram que, por aqui, a economia dá sinais de maior robustez que o esperado. Inflação se mantém comportada e o mercado de trabalho continua robusto. O Copom manteve o ritmo de cortes de 50 p.b. na Selic, que agora está em 10,75%, e sinalizou mais um corte para a próxima reunião. No entanto, a remoção do forward guidance para a reunião de junho mostrou preocupação da instituição com a inflação de serviços, que voltou a ter alta nesse começo de ano. Apesar do cenário mais construtivo para o mercado local, as dúvidas quanto ao início do ciclo de cortes nos Estados Unidos têm pesado nos ativos de risco, limitando o avanço da bolsa por aqui.
Para abril, ainda vemos oportunidade na Renda Fixa, em especial na alocação em ativos indexados à inflação, seguido pelo pós-fixado e menos pré-fixado neste momento, considerando o risco de inflação mais persistente no longo prazo e potencial reversão na política monetária. Já nos ativos de renda variável, reduzimos nossa preferência para as bolsas em geral, considerando os recordes renovados lá fora e a falta de apetite do investidor estrangeiro ao mercado local, mas elevamos a exposição aos fundos multimercados.
Lá fora, mantemos certa exposição aos ativos de curto prazo, aproveitando das taxas mais altas em ativos de menor risco, mas seguimos reforçando a recomendação de posicionamento em ativos de médio prazo, antecipando o movimento de queda nos juros previsto para junho. Já na renda variável, estamos mais otimistas com mercados desenvolvidos ex-EUA neste momento, com foco em Europa que mantém a tendência de alta intacta desde o ano passado. Quanto aos emergentes, seguimos apostando na recuperação da bolsa chinesa, principalmente após dados macro virem acima do esperado. Já para investimentos alternativos, mantemos a visão mais neutra para as commodities, com especial cautela ao minério de ferro, mas vemos com mais otimismo o mercado residencial norte- americano e a retomada da demanda, conforme os juros das hipotecas passam a ceder, também antecipando o início do corte de juros nos Estados Unidos.
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Cenário Macro - Brasil
Os dados divulgados em março sugerem uma atividade mais forte que o esperado, com o volume de serviços e varejo iniciando o ano de maneira robusta, mantendo a tendência observada no final de 2023. Ao mesmo tempo, com a queda da Selic, vemos sinais de reaceleração no crédito. Isso torna a perspectiva da atividade um pouco mais positiva e esperamos que o PIB avance 2% esse ano. A inflação apresenta alguns sinais que demandam cautela, entretanto, o IPCA-15 de março sugere que a piora observada foi principalmente devido à sazonalidade, com a média dos núcleos recuando, assim como a inflação de serviços.
Se a melhora na inflação se confirmar, a pressão sobre o Copom pode diminuir. Na última reunião do dia 20, o Copom cortou mais uma vez a Selic em 50 p.b e manteve a indicação de um novo corte de 50 p.b na reunião de maio. Mas diferente dos últimos comunicados, não houve uma indicação para as reuniões futuras. A justificativa para isso é a maior incerteza no cenário.
O Copom deixa claro que seu cenário base não alterou, inclusive sua projeção de inflação para 2024 reduziu. Com o retorno de uma dinâmica benigna para a inflação, não vemos motivos para alteração de rumo na política monetária, portanto, mantemos nossa expectativa de que a Selic encerre o ano em 8,50% o que está um pouco abaixo da curva de mercado em 9,75%.
Os principais riscos continuam sendo o cenário externo e o fiscal doméstico. O governo ainda mantém a meta de zerar o déficit em 2024, o que dificilmente será alcançando. Pelo lado positivo, a arrecadação federal bateu recorde em janeiro e fevereiro devido às diversas medidas implementadas e melhora na atividade. Por outro lado, as despesas iniciaram o ano sem maior controle, e bem superior ao que sugere o limite do novo arcabouço. Mantemos a expectativa de que o governo encerre o ano com déficit de R$100 bilhões, menor que do ano passado, mas os riscos na execução fiscal, continuam a impactar a curva de juros real.
Cenário Internacional
A economia americana continua dando sinais de robustez. A medida de nowcasting do Fed sugere que o PIB esteja crescendo a uma taxa anualizada de 2,1% no primeiro trimestre de 2024. O mercado de trabalho, apesar de apresentar maior taxa de desemprego, continua adicionando empregos de maneira intensa, totalizando mais de 500 mil vagas nos dois primeiros meses do ano.
Paralelamente, a inflação dá sinais de preocupação nesse início de ano, principalmente o núcleo da inflação e a inflação de serviços. Dado o mercado de trabalho apertado, observa-se a inflação de salários crescendo em um patamar ainda inconsistente com a meta de inflação de 2%. Além disso, há sinais de reversão da desinflação de bens, com a inflação ao produtor em fevereiro vindo acima do esperado, o que pode representar maior pressão à inflação do consumidor nos próximos meses.
O Fed manteve os juros inalterados no atual patamar, mas na coletiva Powell se mostrou mais dovish que o esperado, minimizando os dados de inflação piores que o esperado como sendo apenas consequência da sazonalidade elevada do período. Acreditamos que o FOMC está no caminho para iniciar o ciclo de cortes na reunião de junho, com o Fed, na figura do Powell, mais preocupados com o risco de uma elevação abrupta da taxa de desemprego do que com uma reaceleração da inflação. Com isso, as atenções estarão voltadas à divulgação do payroll e CPI de março, que poderão ser decisivos a respeito dos próximos passos do FOMC.
Imobiliário – mercado volta a acelerar
Os índices de preços imobiliários indicam aceleração no mercado imóveis no Brasil. Os preços estão variando acima do IGP-M, que vem apresentando deflação nos últimos meses, e para os aluguéis, o índice FipeZap indicou estabilidade enquanto IVAR desacelerou em fevereiro. Um destaque foi o preço médio dos imóveis residenciais que já ultrapassou o dos comerciais.
Vemos boas perspectivas para o setor de construção civil brasileiro. A confiança na construção está alta e a expectativa é de melhora da demanda com ciclo de queda de juros, aumentando a demanda por mão-de-obra. As concessões de crédito expandiram, impulsionadas pelo FGTS e Minha Casa Minha Vida, que vêm beneficiando o resultado das incorporadoras. A retomada da classe média ao setor e a normalização de estoques abre espaço para recuperação dos empreendimentos de Médio e Alto Padrão. Com relação aos custos, o INCC avançou na última leitura, puxado pelo custo de mão de obra, mas manteve-se estável na visão trimestral, mostrando recuo quando comparado ao ano anterior.
Mercado imobiliário nos Estados Unidos está aquecido. Construções de novas casas avançaram em fevereiro e vendas atingiram um patamar de 8 milhões de unidades em 2023. Empreendimentos do segmento multifamiliar andaram de lado no último ano com o início do ciclo de queda das taxas de hipoteca gerando incentivo para o financiamento de novas casas. Vendas de casas existentes avançaram bem acima das expectativas em fevereiro e estoques se mantêm estáveis. Mas já vemos a concessão de novos alvarás crescendo, conforme mercado vislumbra o início de cortes de juros e, consequentemente, queda das taxas de hipotecas no país.
Desempenho das Bolsas Globais
Estados Unidos
As bolsas norte-americanas encerraram um trimestre espetacular, com recordes renovados, e com o S&P 500 fechando nos 5.254 pontos, após 22 recordes desde o início do ano. Mercados parecem ter acatado a ideia de que o FED trará ao menos três cortes nos juros este ano, principalmente depois que os dados de atividade mostram que a economia segue bem, apesar do aperto monetário. Aliás, as apostas de soft landing reforçaram o otimismo, superando, inclusive, as falas recentes de importantes membros do banco central norte-americano de que não há pressa para corte nos juros. Dentre os subíndices, Energia e Construção foram os destaques de alta, com avanço de cerca de 10% cada, impulsionados pela alta do petróleo no mês e pela expectativa de queda dos juros da hipoteca, conforme o FED dá início ao ciclo de cortes.
Mundo
Na Europa, o destaque de alta mensal ficou com a bolsa espanhola, mas vimos avanço em praticamente todos os índices, com o Stoxx subindo quase 4%. No Velho Continente, o Banco Central Europeu mostrou otimismo com relação à convergência da inflação à meta, sinalizando que inicio de cortes está próximo. Já na Ásia, as bolsas chinesas encerraram a tendência baixista dos últimos meses e ficaram de lado, com investidores ainda processando os números recentes da economia local. Já no Japão, Nikkei renovou recordes e fechou o mês com alta de 2,5%, em meio a discussões sobre mudanças na sua política monetária ultra-expansionista.
Desempenho Ibovespa
O mês de março foi um mês de leve queda de 0,7% para o Ibovespa, que ainda cai no ano 4,5%, enquanto mercados no exterior batem recordes impulsionados por ações de tecnologia, principalmente ligadas à Inteligência Artificial. Por aqui, parece que paramos no tempo e sem as queridinhas do futuro com I.A. seguimos dependentes e entrelaçados às commodities e à China, com o minério de ferro, que desaba cerca de 25% no ano, impactando ações do setor de Mineração como a Vale, relevante para o nosso índice. Além disso, outro player importante e também no segmento de bens básicos, a Petrobras foi destaque negativo após o resultado mais fraco, porém esperado, e a exclusão dos dividendos extraordinários (inesperado?) derrubarem os papéis em cerca de 10% em apenas um pregão.
De todo modo, o investidor estrangeiro que está de olho no futuro e mais focado nos juros norte-americanos, seguiu com fluxo negativo na bolsa brasileira e já acumula saldo negativo de R$ 24 bilhões no ano, enquanto quem está comprando por aqui é o investidor individual que acumula R$ 13 bilhões. Sabemos que quem tem a força, ou melhor, o montante necessário para a nossa bolsa entrar em ritmo de bull market é o estrangeiro, que ainda espera para voltar ao berço das commodities, que não passa por um bom ciclo.
O sentimento em março ainda é o mesmo do início do ano, enquanto observamos o mundo em recordes, ficamos por aqui com um Ibovespa de lado a 8x lucros, aguardando o Fed baixar os juros, o ciclo de commodities melhorar, o gringo voltar... nos cabe apenas esperar o nosso recorde por aqui, tal qual o sucesso de Gilberto Gil, Esperando na janela.
Desempenho da Renda Fixa
Esperamos ainda uma queda considerável nos juros brasileiros para 2024. Enquanto projetamos uma Selic em 8,5%, a expectativa Focus se mantem em 9% para este ano e a curva de juros carrega elevado prêmio considerando a taxa terminal em 9,75%. Entretanto, a ausência do forward guidance na última reunião do Copom, justificada pelo aumento das incertezas quanto à inflação no curto prazo trouxe uma maior volatilidade ao mercado, abrindo espaço até para oportunidades nos juros mais longos, em especial as NTN-Bs superiores a 10 anos.
Assim como demais cenários globais, o mercado local mostra altamente correlacionado às dinâmicas de política monetária norte-americana. O cenário de incertezas se ampliou com a trajetória de inflação sinalizando um alerta, apesar da economia ainda resiliente. Contudo, o mercado agora precifica início de cortes de juros em junho, mas o ritmo de flexibilização ainda é incerto.