À espera de dias melhores
/ Alheio às movimentações do mercado externo, a conjuntura doméstica segue sob elevada volatilidade em função das incertezas fiscais internas, com destaque para expectativa de apresentação da âncora fiscal – que deve ser apresentada até o fim de março –, o avanço da reforma tributária e discussões sobre a reoneração dos combustíveis, bem as projeções de aumento de gastos com a virada do novo governo. Além disso, o mercado digere mal os discursos de ingerência do governo federal no Banco Central, que colocou em cheque a credibilidade da atual política monetária no país e traz riscos de desancoragemde expectativas. Diante dessas indefinições, o mercado opera sob cautela, com aumento das expectativas de inflação para 2023 e volatilidade da curva de juros, que registrou nova abertura nos vértices mais longos.
/ Frente a um cenário top-downdesafiador, o segmento de FIIssegue no negativo em 2023. Com riscos de deterioração fiscal e disparada dos juros futuros, esperamos que o segmento de tijolo continue sob pressão. Além disso, o mercado de tijolo deve sentir o arrefecimento da atividade – projetada no ano, diante do juros em patamar restritivo – na procura por imóveis. Também entendemos que a restrição de crédito desencadeada pelo episódio da Americanas aumenta os ricos de inadimplência por parte dos locatários, em especial as varejistas ou demais companhias alavancadas. Esse fato também deve prejudicar a carteira de recebíveis de companhias high yield, diante da elevação do risco de crédito.
Ativos tijolo seguem penalizados
/ Com baixa de 0,5%, o IFIX manteve desempenho negativo no mês de fevereiro. Enquanto o segmento de papel apresentou novamente comportamento resiliente, com variação de 0,3%, o segmento de tijolo continuou puxando o fraco desempenho do índice. No mesmo período, os ativos de tijolo tiveram queda de 1,3%. No ano, o segmento já acumula perdas de 3,7%, enquanto os fundos de papel registram alta de 0,5%.
/Diante das indefinições fiscais para 2023 e cenário de juros restritivo para o ano, esperamos que os fundos de papel apresentem desempenho relativo superior às demais classes de FIIs. No longo prazo, os fundos de tijolo devem novamente exercer papel de proteção contra a inflação, remunerando o investidor com prêmio médio entre 2% e 3% acima da NTN-B.
/ Para o mês de março, optamos pela manutenção da nossa carteira recomendada. Com a continuidade das incertezas fiscais para 2023, que abrem a curva de juros futura e eleva os riscos inflacionários, o aumento de exposição ao segmento de papel continua taticamente importante, uma vez que os fundos de recebíveis seguem com eficiente indexação à inflação e juros. Com riscos inflacionários e de extensão do ciclo monetário contracionista, mantemos preferência por ativos com carteira de recebíveis indexados à inflação e ao CDI. Em função da expectativa de arrefecimento da atividade em 2023 e eventuais riscos de calda, continuamos com nossa sobre-exposição ao perfil de crédito high grade e/ou com elevado colateral, bem como maior equilíbrio da carteira em termos de indexadores. Em meio à volatilidade registrada no segmento de tijolo, os fundos ligados a essa categoria são negociados a múltiplos bastante atrativos, o que eleva as oportunidades de ganhos de capital no longo prazo. No curto prazo, no entanto, adotamos um tom mais cauteloso para essa classe, priorizando veículos com bons fundamentos e segmentos com maior solidez operacional. Nesse sentido, priorizamos pela seleção de veículos que detém em carteira ativos reais de alta qualidade, ou seja, maduros, estrategicamente bem localizados e com potencial elevado de liquidez em caso de turnover de locatários. No segmento de FoFs, mantemos nossa exposição à potencial recuperação da classe de tijolo, a ser desencadeado diante de uma eventual melhora do cenário top-down.