Cenário de aperto monetário e risco inflacionário pautam o mês de abril
No cenário econômico, dados divulgados para fevereiro mostram crescimento na margem para a atividade. Em particular, o PIB mensal calculado pelo Banco Central teve alta de 0,3% no mês, enquanto a taxa de desemprego para o trimestre terminado em março recuou para 11,1%, surpreendendo a expectativa de alta do mercado. Apesar desses números, o crescimento projetado para 2022 e 2023 ainda é baixo, trazendo desafios para os setores mais dependentes de consumo e renda.
No tocante à inflação, o IPCA-15 de abril teve leitura elevada de 1,73% e acumulou 12% em 12 meses, com altas em combustíveis, alimentos e energia elétrica, mas veio abaixo da expectativa do mercado. Outra surpresa veio da divulgação do IGP-M, que desacelerou para 1,41%, com a queda do preço em reais das matérias primas. Apesar dos dados melhores que o projetado, o mercado espera que o Banco Central deva elevar os juros nas duas próximas reuniões, encerrando o ciclo com Selic em 13,25%, patamar fortemente contracionista para a atividade.
Vale destacar, também, a divulgação de novos dados positivos para as contas públicas. Em fevereiro, o Setor Público teve superávit primário de R$ 3,5 bilhões, acumulando 1,4% do PIB em 12 meses. Apesar disso, é relevante acompanhar o impacto prospectivo da desaceleração da atividade, das desonerações tributárias e da definição do reajuste dos servidores no resultado primário dos próximos meses, bem como da aceleração da despesa com juros em linha com a Selic mais alta.
Externamente, diversos riscos pressionam as condições financeiras domésticas. A expectativa de um aperto monetário mais forte nos Estados Unidos e da desaceleração da economia chinesa contribuiu para deteriorar a perspectiva de crescimento global no médio prazo, penalizando a taxa de câmbio, que retornou ao patamar de R$ 5,0. Vale lembrar, no entanto, que o Brasil mostra um câmbio real bastante depreciado desde o início da pandemia, além de possuir um balanço de pagamentos robusto e uma taxa de juros elevada, o que contribui para que a moeda doméstica tenha um desempenho melhor no médio prazo em termos relativos aos demais emergentes.
Reviravoltas e aversão ao risco levam ao pior mês desde março de 2020
Revertendo a tendência de alta que vimos desde o início do ano, abril foi marcado pelo alastramento da aversão ao risco no cenário global que tomou conta das bolsas, inclusive aqui no Brasil. Um cenário maior de incertezas ante uma conjuntura inflacionária persistente e um discurso menos ponderado de aperto monetário por parte do FED, somado a dados de contração de atividade na China e os desdobramentos quanto à guerra na Ucrânia foram determinantes para que o pânico se alastrasse, derrubando o apetite por ativos mobiliários.
Ainda, o Ibovespa sofreu com a forte correção observada nos preços das commodities ao longo do mês, que fez com que o CRB tivesse retração de mais de 5% no período, e levou os papéis de grandes exportadoras a quedas de mais de 10%, como foi o caso da Vale. Assim, o índice doméstico teve recuo de 9% no mês, enquanto pares externos sofreram também, com Nasdaq fechando sua pior queda semanal desde a crise em 2008.
Maio traz ainda consigo incertezas, inclusive se o famoso jargão do “Sell in May andgo Away” já não pode ter sido antecipado, abrindo espaço para recuperação de alguns ativos. Internamente, a queda exagerada de algumas exportadoras pode levar à recuperação e setores naturalmente beneficiados por juros e inflação mais elevados podem seguir ainda com bom desempenho.
Blue Chips cedem
A forte correção observada no mês foi impulsionada por blue chips não apenas no setor de commodities, como mencionamos, mas também em grandes representantes do setor financeiro.
As maiores quedas dos subíndices ficaram por conta do ICON, que retraiu mais de 13%, seguido por IFIN e IMAT, com respectivos recuos de 11% e 10%.
Como esperávamos, os papéis do setor financeiro tiveram queda no período, com os resultados do primeiro trimestre de 2022 para os principais bancos já mostrando sinais de desaceleração na concessão de crédito e inadimplência avançando.
Ao mesmo tempo, dados de inflação ainda elevados pesam no setor de Varejo e Consumo que vem sofrendo com as limitações de poder de compra da população, com exceção do varejo não-discricionário e o voltado para o segmento alta renda, que acabam sendo mais resilientes.
Na ponta positiva, damos destaque às administradoras de Shoppings que, no geral, tiveram desempenho forte no mês, refletindo os dados robustos das prévias do 1T22. Ainda, as empresas de commodities agrícolas seguem beneficiadas pela alta nos mercados internacionais e as incertezas quando à oferta futura em razão dos conflitos entre Rússia e Ucrânia.
Desempenho | Mesmo com queda no mês, diversificação ajuda e carteira bate o benchmark
Abril iniciou com expectativas de cenário menos conturbado ante a guerra na Ucrânia e dado aperto monetário nos Estados Unidos, contudo reviravoltas quanto a dados de inflação mais persistentes e discurso mais agressivo do FED, bem como dados piores que o esperado da economia chinesa elevaram a aversão ao risco e pesaram sobre as blue chips locais, em especial as empresas de commodities metálicas e o setor financeiro.
A ideia de aumentar a exposição ao mercado interno e diversificar dentre as produtoras de commodities, bem como reduzir a exposição aos bancos no mês contribuiu para o desempenho da carteira, que bateu em 4,98% o benchmark.
Os destaques positivos ficaram por conta de JBSS3 com expectativas de resultados melhores que o esperado anteriormente para o 1T22, em razão da resiliência do consumo no mercado bovino, em especial nos Estados Unidos. A MOVI3 também teve desempenho positivo no mês, acumulando alta de mais de 15% no ano, e esperamos resultados também positivos para o 1T22. BBSE3 fechou o mês praticamente no zero a zero e contribuiu, mais uma vez, para o bom desempenho do portfólio.
Na ponta negativa, VALE3 superou a queda do índice, recuando cerca de 13% no mês, seguida por GGBR4, também afetada por dados abaixo do esperado na economia chinesa. CRFB3 também desapontou, com desempenho em queda.
Carteira Retorno – Maio/22 | Sell in May?
Em maio, após um mês de reviravoltas, acreditamos em recuperação de alguns papéis que tiveram queda abrupta, como por exemplo, VALE3 e GGBR4, com efeitos de notícias do pacote de estímulos do governo chinês, ao menos no curto prazo. Por isso, optamos pela manutenção destes na carteira.
Ainda no segmento de commodities, JBSS3 fica, na expectativa de resultados do 1T22 positivos, seguindo a demanda ainda forte no exterior, em especial nos Estados Unidos.
No setor de Utilities, apesar do desempenho aquém do esperado em abril, seguiremos com AESB3 acreditando na retomada das geradoras com melhores níveis de chuvas, apesar da alavancagem ainda pesando sobre o balanço da empresa. Mantivemos também SAPR11, como representante de Saneamento.
Em bancos, em movimento acertado de redução de exposição, mantemos a estratégia e seguimos com BBAS3, BBSE3.
No segmento de Varejo, estamos substituindo VIVA3 por IGTI11, mantendo a exposição ao varejo alta renda, mas centrando a estratégia no segmento de Shoppings. No entanto, optamos por retirar CRFB3 neste momento e manter MOVI3, considerando as expectativas de resultados para o 1T22 e a possível desaceleração de alimentos esperada para o próximo mês, após dados reportados pelo IGP-M.
A novidade fica por conta da PNVL3 que estreia em nossa carteira tentando capturar possível retomada dos papéis, após a queda no mês e antes da divulgação dos resultados.