No Brasil, economia melhora, bolsa cai e risco fiscal volta
Ao contrário desempenho da bolsa, o semestre na economia foi de forte crescimento. O mercado de trabalho foi um dos destaques com recuperação mais acelerada e ultrapassando o patamar prepandemia. A Pnad mostrou taxa de desemprego de 9,8%, a menor desde 2015, com um numero recorde de pessoas ocupadas em 97,5 milhões. Os dados de confiança da FGV também contrariaram as expectativas e voltaram a subir em junho, em todos os setores pesquisados, indústria, varejo, serviços e construção. Ainda esperamos uma desaceleração no 2º semestre, mas será mais lenta e partindo de uma base mais forte.
IGPM indica queda da inflação ao produtor. A inflação pode já ter iniciado sua reversão com uma desaceleração das variações dos preços das matérias primas, observada no IGPM. A redução do ICMS, que já começa a valer em alguns estados a partir de julho, também pode contribuir para um IPCA menor no segundo semestre. Nos revisamos nossa projeção de inflação para o ano de 8,9% para 7,7% mas seguimos atentos aos sinais de inércia que ainda são a principal preocupação nesse momento.
Risco fiscal e juros mais altos. Os juros continuaram a subir, tanto a curva précomo a curva de juros reais. As taxas longas chegaram a 6%, patamar visto em 2015. O risco de recessão e juros maiores lá fora e a proposta de nova Pec alterando o orçamento em curso elevaram novamente a percepção de risco fiscal, mesmo com o resultados positivos entregues até maio. O BC deve subir os juros novamente em agosto, e nossa aposta é de 0,25 p.p., mas consideramos o risco de vir 0,50 p.p. dependendo da evolução dos dados. O cenário indica premio de risco elevado, mas seguimos com cautela, com expectativa que a incerteza no segundo semestre continue trazendo volatilidade.
A Bolsa em jun/22: Bear market e sinais de recessão nos Estados Unidos
Bear market e sinais de recessão nos Estados Unidos
Com um cenário externo marcado pelo bear marketconfirmado e maior risco de recessão precificado nos Estado Unidos, o que fez com que os índices em Nova Iorque tivessem seus piores desempenhos semestrais das últimas décadas, aqui no Brasil o comportamento não passou imune.
Vimos o Ibovespa ceder mais de 10% no mês, devolvendo os ganhos do ano, com destaque para os setores de Varejo e Consumo que recuam mais de 20% desde o início de 2022, prejudicados pela maior pressão de inflação e custos. Nem mesmo o bom momento vivenciado pelas commodities e os dados macroeconômicos melhores que o esperado aparentam ser suficientes para segurar os preços dos ativos que seguem em cadência. No acumulado do ano, o Ibovespa fecha com queda de 5,7%.
Para julho, tem início a temporada de resultados do 2T22, na qual apesar de esperarmos receitas ainda estáveis na base trimestral (com recuo na comparação anual), devemos observar uma pressão contínua de custos e inflação comprimindo margens das companhias. O momento segue de grande cautela, especialmente em virtude da bateria de balanços a serem divulgados e prováveis revisões de projeções que podem afetar os preços-alvos das companhias.
Utilities e Elétricas seguem fazendo seu papel defensivo
Em junho, enquanto o Ibovespa cedeu 11%, o SMLL (SmallCaps) e o ICON (Consumo) recuaram, respectivamente, 15% e 13,7%. No caso das SmallCaps, os papéis de commodities agrícolas que vinham performando acima do Ibovespa tiveram correção no mês, seguindo o arrefecimento dos preços das commodities nos mercados internacionais, assim como algumas representantes do setor industrial que também tiveram um mês complicado. Já para o Consumo, a continuidade das pressões inflacionárias segue como principal força negativa para as companhias do setor, bem como a elevação da taxa básica de juros no país e as projeções mais conservadoras para consumo cíclico e companhias de e-commerce.
Por outro lado, na ponta defensiva, o UTIL (Utilities) e o IEEX (Eletricas) apresentaram desempenho acima do IBOV (-3,8% e -4,8%, respectivamente), refletindo a característica mais defensiva de ambos os setores.
Estes também são os destaques quando olhamos o desempenho acumulado do ano, com avanço de 8,4% e 3,5%, respectivamente. Ainda, o IFNC (Financeiro), apesar da forte queda em junho, ainda apresenta performance positiva em 2022, com ganhos de mais de 2%.
Desempenho – Jun/22: Mudança de ventos
Com o cenário mais desafiador que havíamos traçado para junho, nossa carteira buscou diversificação e uma posição mais defensiva a fim de minimizar as possíveis perdas no período. Assim, no mês, nossa carteira teve queda de 10,05%, ficando 1,45 p.p. acima do Ibovespa.
Nos destaques negativos, MOVI3 liderou as perdas, caindo mais de 26% no mês, seguida por ITUB4, que também decepcionou, recuando mais de 13%. VALE3 passou boa parte do mês em meio a grande volatilidade, com dados de China operando a favor e preços de minério de ferro pesando contra. No fim do mês, contudo, os sinais de melhora apontaram e diminuíram parte das perdas.
Já na ponta em favor do portfólio, as ações da AESB3, BBAS3 e de BBSE3 foram os destaques, contribuindo para uma queda relativa menor ante o benchmark.
Carteira – Jul/22: Sem grandes apostas, conservando valor
Em meio ao cenário adverso e as incertezas que perduram, especialmente lá fora, optamos por manter uma carteira mais defensiva, diversificada e ponderando as alocações em razão da exposição dos poucos drivers positivos que vemos para o mês.
Assim, com um cenário um pouco mais favorável para a China, optamos por manter nossa exposição ao país com VALE3 e menos diretamente com KLBN11, uma vez que vemos ainda espaço para recuperação destes papéis e, no caso da última, com apoio da valorização do dólar no período.
Ainda em commodities, com um cenário mais desafiador nos Estados Unidos, optamos por substituir JBSS3, incluindo BEEF3 no portfólio.
Em bancos, removemos ITUB4, mas mantivemos BBAS3 e BBSE3.
No segmento de Varejo e Consumo, seguimos com ASAI3, em virtude da expectativa de manutenção dos drivers no varejo alimentar e seus fundamentos de expansão bastante sólidos. Mantemos também IGTI11, com foco na exposição ao varejo alta renda, mas centrando a estratégia no segmento de Shoppings. Outra novidade, RADL3 entra para a carteira visando a captura do movimento de varejo não-discricionário. MOVI3, apesar da queda significativa em junho, foi mantida visando possível recuperação no curto prazo.
No setor de Utilities, AESB3 segue no portfólio mais um mês na expectativa de retomada de valor após 2021 bastante desafiador.