Carteira Global Macro | Inter Recomendações
Carteira destinada para investidores que buscam diversificação em relação aos seus investimentos internacionais. Com foco na macroeconomia internacional, essa carteira é desenhada para operar ciclos macroeconômicos ao redor do mundo, em linha com o cenário macro vislumbrado pelo time de Macro Research do Inter.
A carteira é composta exclusivamente de ETFs que permitem operações long e short em diversas classes de ativos. Com isso, nós conseguimos fornecer uma nova camada de diversificação, montando uma carteira com baixa correlação com o S&P500. O horizonte relevante é de 3 a 6 meses. Apesar de não ser de curtíssimo prazo, é uma carteira que demanda um acompanhamento um pouco mais frequente.
Cenário americano inalterado
Após a turbulência observada em março, o cenário americano ficou relativamente estável. Nossa expectativa ainda é de uma recessão na economia americana a partir do segundo semestre, apesar de resultados robustos observados em abril.
A inflação americana continua sua tendência de queda, mas ainda de maneira gradual. No próximo dia 03, o Fed irá se reunir para deliberar acerca da política monetária. Nossa expectativa é de mais uma alta de 25 bps na taxa de juros e que o Fed anuncie o fim do ciclo de alta já nessa reunião. Após os episódios bancários observados em março, havia a expectativa de que o trabalho do Fed já havia acabado, com a contração do crédito realizando parte do trabalho no controle da inflação. Mas como antecipado, a reação por parte do mercado em relação aos bancos foi muito mais virulenta do que a realidade nos dizia.
Outro ponto que apoia a nossa expectativa de nova alta é o mercado de trabalho americano. A tendência é de desaceleração, mas a criação de empregos continua em patamar bastante robusto, com a economia americana adicionando 236 mil emprego em março. Consequentemente, a atividade econômica também está robusta, especialmente o setor de serviços. Portanto, dada a persistência inflacionária, acreditamos que o Fed fará um último ajuste para se assegurar antes de anunciar a pausa.
It’s a feature, not a bug!
Após os episódios bancários, a incerteza acerca do sistema financeiro aumentou consideravelmente, com o mercado precificando uma crise sistêmica. Entretanto, o tempo passou e nada de grave aconteceu. E muita atenção foi dada à fuga de depósitos dos bancos como sendo um sinal de estresse bancário. Entretanto, a queda nos depósitos é um reflexo natural da política monetária contracionista. Quando analisamos ambos os gráficos, vemos que são basicamente o mesmo. Portanto, o enxugamento da liquidez na economia é uma consequência da política monetária, e não uma distorção.
Isso não quer dizer que não tenham bancos em perigo. Mas esse perigo se deve muito mais a características particulares desses bancos do que uma situação sistêmica. Tanto é que a política do Fed em criar uma linha de liquidez que garantia o valor dos colaterais dos bancos se mostrou efetiva. Com isso, observamos a recuperação do valor dos grandes bancos na bolsa de valores, indicando que a reação inicial foi de fato excessiva.
China gera preocupações e Japão exige paciência
Desde o anúncio do fim da política de tolerância zero com a covid, havia muita expectativa de que a China fosse ser a locomotiva do crescimento mundial em 2023. E até existem alguns sinais de recuperação, mas não tão forte quanto se esperava. Mesmo com o PIB do 1o trimestre surpreendendo positivamente, existe a leitura de que o resultado foi muito influenciado por incentivos governamentais. Além disso, recentemente, a produção de aço chinesa foi limitada ao valor produzido em 2022, sugerindo uma piora na demanda internacional. Com isso, observamos nos últimos dias de abril uma forte queda nos preços de commodities e nas ações chinesas, o que sugere uma desconfiança do mercado com o crescimento chinês.
Em relação ao iene japonês, continuamos vendo upside. O novo presidente do Banco Central do Japão (BoJ) acabou de tomar posse e deu indícios de mudanças na condução da política monetária. Em recente comunicado, o BoJ removeu a menção de que as taxas permanecerão nos atuais patamares, abrindo a porta para uma eventual alta nos juros. Além disso, o BoJ anunciou uma revisão da política adotada nos últimos 12-18 meses, o que essencialmente o torna data-dependent. E os dados não são bons. A inflação japonesa continua aumentando, com o núcleo da inflação se aproximando dos 4% anuais, o que fez o próprio banco central aumentar suas projeções para a inflação de 2023 e 2024. Portanto, os indícios são de uma política monetária mais restritiva no Japão, a questão é quando.
Desempenho negativo da China pesa a carteira
O desempenho da carteira foi negativamente impactado pelo maior pessimismo do mercado com a China e a deterioração do Iene japonês. A nossa posição em China resultou em perda de 4,33% no mês, enquanto a posição em iene resultou em perda de 2,84% no mês. Entretanto, essas perdas foram parcialmente aliviadas pela baixa exposição a esses ativos, com essas duas posições representando 15% da carteira.
Na ponta positiva, a nossa posição em bancos americanos se mostrou acertada, apresentando ganhos de 2,35%, mas, devido à baixa exposição, não foi capaz de compensar as perdas em China e Japão. Com isso, o resultado da carteira foi negativo em abril, praticamente ficando no zero a zero, mas no acumulado do ano o desempenho continua muito positivo, com a carteira apresentando um resultado acumulado de 2,45% desde sua criação.
Mês de ajustes de percepção
A visão de que a reação aos bancos foi exagerada se mostrou acertada. Dada a correção e a continuidade do ambiente incerto, decidimos encerrar a posição e colher os lucros.
A nossa tese de recessão persiste, então continuamos posicionados para aguardar uma boa oportunidade para melhor alocar os nossos recursos. Enquanto isso, continuamos aceitando de bom grado os 5% ao ano que o Fed nos paga para esperar. Portanto, aumentamos a nossa posição em SHV em 10 pontos percentuais.
Além disso, a decepção dos investidores com a China e a perspectiva de desaceleração global nos faz repensar a nossa posição long em equities chinesas. Decidimos por encerrar a nossa posição com prejuízo e alocar esses recursos em t-bills de curto prazo, totalizando nossa alocação em SHV para 80% da carteira.
Portanto, o cenário desafiador demanda paciência à espera de um cenário mais claro.