O BCE, em sua última reunião, elevou a taxa de juros em 50 bps e sinalizou que o ciclo de alta está longe do fim, antecipando que a taxa de juros ainda terá́ que subir consideravelmente em um ritmo constante para que alcance nível de restrição suficiente para trazer a inflação de volta à meta de 2% ao ano. Além disso, dará início ao enxugamento da liquidez, quantitative tightening, em fevereiro, e, apesar das altas de juros, a projeção dos membros do BCE é que o núcleo da inflação encerre 2024 em 2,8%. Portanto, uma recessão na economia europeia é quase certa, uma vez que já estava em desaceleração antes mesmo do aperto monetário. Com isso, os juros europeus estão bastante pressionados, em um movimento de reprecificaçãoque ainda não terminou.
A China finalmente oficializou a flexibilização da sua política de tolerância zero no combate a covid, mas o ritmo de novos casos e mortes acelerou de maneira abrupta, colocando incertezas sobre a reabertura, uma vez que o excesso de contaminações e mortes pode fazer com que o governo chinês volte atrás e implemente novas restrições, ou até mesmo gerar "lockdowns endógenos” – quando a população decide realizar, de maneira autônoma, distanciamento social. Portanto, a reabertura da economia chinesa continuará sendo um foco de atenção em 2023, especialmente no primeiro trimestre.
O Japão fez uma mudança inesperada em sua política de controle da curva de juros. Até o início do mês a banda de variação dos yieldsde 10 anos era de 25 bps, mas esse limite foi expandido para 50 bps. Essa mudança é relevante porque o Japão é um grande exportador de capital, sendo o maior detentor de treasuriesamericanas, então podemos observar alteração significativa no fluxo de capitais internacionais. Com isso, a tendência é de uma apreciação do iene perante ao dólar, e de um impacto negativo nos ativos internacionais, em particular nos bondseuropeus, que já estão bem menos atrativos para os japoneses nesse momento.
Decisões de políticas monetárias marcam o mês
Após quatro altas consecutivas de 75 bps, o Fedaumentou a taxa de juros em 50 bps, o que era amplamente esperado. Entretanto, havia ainda a expectativa de que o Feddesse início ao pivot, e deixasse a porta aberta para uma redução na taxa de juros nos próximos meses. Porém, Powell, presidente do Fed, não se mostra disposto a arriscar um alívio prematuro nas condições financeiras e outros membros do Fedjá́ declararam desconforto com a leitura mais dovishdo mercado.
Portanto, apesar do fim do ciclo estar próximo, o Fedpretende manter a taxa de juros em patamar restritivo por um longo período, com a expectativa dos membros do FOMC para a taxa de juros ao fim de 2023 e 2024 sendo 5,1% e 4,1%, respectivamente, frustrando a expectativa do mercado. Assim, a economia americana caminha para uma desaceleração em 2023. Ao longo da história, os bancos centrais raramente conseguiram liderar um processo de desinflação sem causar uma recessão. Dessa vez não parece ser diferente. De fato, alguns indicadores sugerem isso, como a inversão da curva de juros. Além disso, o Fedda Filadélfia calcula a probabilidade de uma recessão ocorrer nos próximos trimestres e atualmente ela está no maior valor da história (43,5%), acima de períodos em que a economia americana de fato entrou em recessão.
Desempenho – Dezembro/22
Em mês de correção, ouro não decepciona
Dezembro foi marcado pela baixa generalizada dos mercados globais, que encerraram o ano em forte queda, resultante das medidas restritivas adotadas em todo o mundo. Como optamos por um portfólio mesclando ativos de renda fixa e renda variável, estamos considerando como benchmark uma carteira teórica composta de 80% MSCI Global e 20% GOVT.
Assim, no mês, ficamos 0,7 p.p. acima da carteira teórica, com recuo de 3,1% no período. Os destaques negativos ficaram por conta de EWT que cedeu 6,1%, em meio às tensões políticas entre EUA e China sobre o mercado de semicondutores, seguido por IVV e IYF, ambos seguindo o desempenho dos principais índices norte-americanos.
No destaque positivo, o IAU faz seu papel defensivo e avança 2,9% no mês, enquanto o VCSH fechou praticamente estável.
Carteira ETFs – Jan/23
Início de ano ainda traz incertezas, mas cenário parece melhorar
O início do ano ainda traz incertezas para os ativos de renda variável e o ano caminha para ser o ano da Renda Fixa. Dados iniciais do PMI em diversas regiões mostraram recuperação em dezembro, elevando o otimismo na primeira semana do ano. Na alocação de Renda Fixa, seguimos com o BND e IEF representando as Treasuriese com o VCSH, dando exposição aos títulos corporativos.
Na alocação de Equities, mantemos ainda nossa maior representatividade no mercado norte-americano, entretanto reduzimos a participação do IVV de 20% para 15%. Mantemos a exposição a grandes pagadoras de dividendos por meio do DVY e a alocação em instituições financeiras com o IYF.
Já para demais mercados, na Ásia continuamos com o EWJ, refletindo o desempenho do índice japonês (Nikkei), bem como a exposição ao EWT, com foco no mercado acionário taiwanês. Incluímos o ECH, expondo-nos à América Latina com Chile, uma vez que vemos o país iniciando seu ciclo de afrouxamento monetário, além de ainda ser negociado a múltiplos abaixo de seus pares.
Por fim, seguimos com o IAU, reforçando nossa alocação em uma commodity mais defensiva.