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Carteira Recomendada | Dividendos | Abril

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Gabriela Joubert

Publicado 14/abr10 min de leitura

Efeitos da guerra começam a se manifestar nos indicadores econômicos

No cenário macroeconômico, as duas primeiras semanas de abril trouxeram sinais marginalmente positivos para a atividade econômica. Em primeiro lugar, a indústria cresceu 0,7% em fevereiro, com destaque para bens de capital, enquanto o varejo teve alta de 1,1%, sendo que ambos os setores tiveram desempenho melhor do que o esperado. Apesar da surpresa negativa nos serviços, indicadores antecedentes apontam para demanda forte para esse segmento no curto prazo.

A inflação, por outro lado, trouxe leitura de 1,62% para março, acima da nossa projeção de 1,4%. Além das altas esperadas para combustíveis e alimentos, reflexo da guerra na Ucrânia, a divulgação trouxe maior preocupação acerca da tendência para a inércia inflacionária. Dessa forma, alguns instrumentos financeiros já precificam uma aceleração da contração monetária pelo Banco Central, com a Selic podendo atingir o patamar de 13,5% até agosto.

Na esfera política, tem ganhado destaque o impasse entre o governo e categorias da elite do funcionalismo público a respeito de reajustes salariais. Esse ponto, somado da possibilidade de revisão do benefício do Auxílio Brasil e da atualização da tabela do imposto de renda representam riscos para as contas públicas que podem ganhar destaques nas próximas semanas.

Externamente, a inflação nos Estados Unidos acelerou para 1,2% em março, com pressão de commodities e serviços. Apesar da surpresa de baixa na métrica de núcleo, esperamos que o FED acelere o ritmo de contração monetária já na próxima reunião, inclusive com o início do processo de redução do seu balanço, o que pode trazer impactos para os mercados financeiros ao redor do mundo.

Cenário externo deteriora e pesa nos ativos locais

Incertezas perduram

Abril iniciou permeado por um cenário de aumento de incertezas, com um FED se posicionando mais duramente quanto ao seu ciclo de aperto monetário, além de escalada nos conflitos na Ucrânia e dados de China mostrando uma possível desaceleração acima do esperado.

A inflação segue como principal vetor pesando negativamente nas economias globais, enquanto aqui as empresas lidam com custos mais elevados e limitação de repasse nos preços ao consumidor.

Ainda, no exterior, a temporada de balanços do 1T22 tem início e traz consigo um sentimento misto sobre crescimento mais limitado para o ano e como as empresas devem lidar com a pressão de custos sobre suas margens.

Mercados respondem

Com isso, o mês segue com pressão baixista vinda de todos os lados e localmente avançam os papeis do setor de Utilities, beneficiados pelos índices inflacionários ainda elevados (uma vez que muitas destas companhias têm receitas indexadas à inflação) e os papeis de commodities agrícolas, seguindo contexto global de escassez de oferta em razão do cenário de guerra e alterações climáticas.

Mesmo assim, a bolsa brasileira ainda acumula alta de mais de 10% no ano, em movimento contrário aos seus pares externos, recuperando em vista do forte desconto em que estava sendo negociada desde a segunda metade do ano passado.

BB Seguridade é o grande destaque do mês

No mês, a carteira teve desempenho abaixo do IDIV, em 2,9%, apesar de 0,05% acima do Ibovespa, beneficiada pelas empresas de Utilities, de fato, mas com bom desempenho do setor de Seguros, representado pela BB Seguridade que, no período, avançou quase 17%.

No segmento de Elétricas, TAEE11 foi o destaque, com valorização de 9%, beneficiada pelo impacto positivo dos índices inflacionários em suas receitas.

Pesando negativamente, listamos ODPV3 e VALE3. No caso da operadora, os desafios de curto prazo colocam pressão nos preços de tela, apesar dos fundamentos de longo prazo seguirem inalterados. Já para VALE3, dados mistos no setor e desconfiança quanto aos dados de atividade na China derrubaram as empresas de commodities metálicas no mês (veja mais informação setorial em nosso Inter Setores de Abril).

Alteração no portfólio, visando maiores ganhos no curto prazo

Como uma estratégia voltada para proventos está alicerçada em um horizonte mais longo, alterações significativas no portfólio são pouco usuais. As companhias que geralmente pagam mais dividendos tendem a ser consolidadas em seus setores, maduras e com receitas consistentes, o que faz delas mais resilientes em momentos de crise.

Mesmo visando o longo prazo, às vezes, alterações são efetuadas para melhor captura de valor ao portfólio no curto prazo. Assim, para este mês, optamos rever as indicações no segmento financeiro, tendo em vista a revisão recente que apresentamos para o setor.

Assim, optamos por remover BBDC4 do portfólio, para a entrada de SANB11, considerando os drivers de crescimento de receitas e retorno para os stakeholders.

Obviamente, a diversificação ainda é palavra-chave e mantemos o portfólio equilibrado, com bons proventistas representantes de outros setores.

Uma vez mais, 2022 segue carregado de desafios quanto às pressões inflacionárias e elevação dos juros, e consequente limitação do poder de compra da população, além do cenário pré-eleições presidenciais que tende a trazer volatilidade extra para os mercados.

Fonte: Bloomberg e Inter Research. *Em 14/04/2022

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