Em nossa última edição da carteira BDRs, víamos um cenário um pouco mais apaziguado, apesar das incertezas ainda em curso, mas com variáveis mais controladas, como um FED ciente de que medidas para conter a inflação precisariam ser tomadas, conversas em curso para um possível acordo de paz entre Rússia e Ucrânia e uma China com crescimento questionado, mas ainda conforme o esperado.
Contudo, já na primeira semana do mês o cenário se reverteu e o que parecia prestes a se resolver ganhou ainda mais magnitude. A guerra na Ucrânia, infelizmente, ganhou novos capítulos e agora já caminha para o terceiro mês, sem sinal de resolução, trazendo impactos de oferta e demanda no curto prazo, que já se fazem sentir nos resultados das companhias e índices de atividades na região, mas que, no longo prazo, ainda são incertos. Dados de inflação nos Estados Unidos levaram a um discurso mais hawkish do FED, que após um PIB negativo para os país referente ao 1T22, tem o enorme desafio de conter a inflação, sem levar o país a uma recessão, devendo anunciar um aumento de 0,5 bps já para a próxima reunião. Por fim, dados de atividade na China mostram uma economia desacelerando em velocidade acima do esperado, potencializado por uma nova onda de lockdowns em razão de novos casos de covid na região, trazendo ainda mais incertezas para a cadeia de suprimentos e o crescimento global.
O Bear Market está aí?
Após alguns meses com mercados sem parecer se importar com os sinais adversos, abril foi um mês de materialização da aversão ao risco, antecipando o famoso “Sell in May and go Away”, com as bolsas aqui e principalmente lá fora devolvendo boa parte dos ganhos acumulados dos últimos meses.
Se por um momento o mercado parecia não reconhecer que o ciclo de aperto monetário do FED poderia, de fato, fazer surgir algumas dificuldades no campo empresarial, especialmente para companhias mais alavancadas, agora a percepção é de que talvez, a situação não seja tão amena assim.
O S&P500 cedeu cerca de 8% em abril, enquanto o Nasdaq teve seu pior mês desde a crise de 2008, reflexo do impacto da elevação dos juros nas companhias de tecnologia, geralmente mais alavancadas.
Ressaltamos, porém, que apesar do cenário mais desafiador e o mar de incertezas que estamos navegando, quando olhamos a temporada de balanços do 1T22 nos Estados Unidos, notamos que das empresas que soltaram seus resultados até agora (56% do total), mais de 80% delas superou as expetativas do mercado, com destaque para os setores de Indústrias e Consumo Não-cíclico, onde este percentual chega a 90%.
Desempenho | Dólar ajuda, mas não estanca o mês
A pressão acentuada vinda de fora, com S&P500 cedendo cerca de 8%, levou o BDRx a uma queda de 6,9% no mês, parcialmente compensada pela valorização do dólar no período, que acumulou ganho de 0,23%, após recuperar fortemente no fim do mês. No entanto, a menor exposição a setores que sofreram mais ao longo do mês, como o de tecnologia e bancos, fez com que nossa carteira tivesse um ganho de 4,8 p.p. contra o benchmark.
Na ponta positiva, WALM34 foi o destaque, subindo junto com todo o setor de consumo não-cíclico, mais resiliente em momentos de crise e cenários de custos e inflação mais elevados, e na esteira dos resultados acima do esperado de outras companhias do setor já divulgados. Na mesma linha, as farmacêuticas tiveram um mês favorável, com A1ZN34 e JNJB34 avançando 3,6% e 6,9% no período.
Após resultados decepcionantes, com primeiro prejuízo em anos e um guidance mais ameno para o 2T22, a AMZO34 despencou 21% no mês (seguindo a queda de 10% de suas ações no exterior), sendo a maior contribuição negativa para o portfólio, seguida pela USSX34, que espelhou as maiores incertezas ante os dados econômicos chineses e seus efeitos na indústria siderúrgica global.
Carteira – Mai/22 | Incertezas prevalecem, mas alguns setores ainda brilham
Considerando as incertezas que ainda devemos ver ao longo do mês com as expectativas lançadas sobre a reunião do FOMC de uma elevação de 0,5 bps nos juros norte-americanos, além das pressões que ainda devemos ver nos preços das commodities, acreditamos que a estratégia de diversificação deva ser mantida, sofrendo os ajustes devidos às perspectivas para o curto prazo.
Assim, seguimos expostos ao setor de Óleo&Gás, com a OXYP34 e junta-se ao time a COPH34, pois ainda acreditamos que o setor de energia deva continuar com uma dinâmica apertada de oferta e demanda, uma vez que as incertezas na região do leste europeu, bem como dificuldades de produção nos países da OPEP+ devem seguir limitando o suprimento de petróleo no mundo, enquanto a demanda segue avançando, mesmo que em menor velocidade, mantendo o preço do brent na casa dos US$ 100/barril, contribuindo para fortes receitas das companhias. Sai USSX34, uma vez que vemos dados de China muito incertos, interferindo no segmento de siderurgia em todo o mundo. Mantemos CATP34 no portfólio, potencializado pelo bom momento do setor agrícola e da demanda por máquinas.
Acreditando na tese de que as empresas voltadas ao consumo não-cíclico devem continuar performando acima das demais em cenário de inflação ainda persistente, optamos pela manutenção de WALM34 e incluímos PGCO34. Não houve alterações nas farmacêuticas, portanto A1ZN34 e JNJB34 ficam. MSFT34 também continua representando as companhias de tecnologia, enquanto AMZO34 sai. No setor financeiro, seguimos com BOAC34 e BERK34.